'Second life'
"Segundo o DN, no mês passado a base de dados do Ministério da Justiça contabilizava 28 192 crimes com armas de fogo cometidos entre 2005 e 2009. Hoje, esse exacto inventário, disponível na Internet, refere apenas 13 471 crimes. Milagre? Parece que não. A tutela justifica-se com um erro informático que teria distorcido os dados dos últimos cinco anos e garante que o valor actual é que é verdadeiro. A tutela, que reclama assim estatuto de incompetente, é demasiado modesta. É óbvio que as estatísticas foram amputadas deliberadamente. E brilhantemente, se me permitem acrescentar.
Como abundantes sociólogos e psicólogos não se cansam de explicar, o principal problema do crime é a respectiva percepção. Ou seja, não é muito grave um cidadão ser aliviado da carteira ou do carro por um meliante com revólver: grave é que os restantes cidadãos tomem conhecimento do facto e, mariquinhas que são, se alarmem com a hipótese de constituir o próximo alvo.
Perante isto, não há necessidade de os governantes combaterem o crime através de políticas e investimentos que reduzam realmente a quantidade de ocorrências. Basta reduzir a quantidade de ocorrências nos registos informáticos. Alterar meia dúzia de algarismos no computador é muito mais barato, muito mais rápido e muito mais eficaz do que torrar fortunas em meios policiais e depois aguardar por resultados incertos. Para quê bulir na realidade propriamente dita, uma instância desagradável e arisca, se a realidade virtual é o futuro?
Mal possa, não duvido de que o Governo aplicará método idêntico aos números do desemprego e da dívida pública e privada, por exemplo. Dado que tudo é psicológico, semelhante medida apaziguaria as angústias do povo, excepto, claro, da parcela do povo que ficou sem carteira, sem trabalho ou sem crédito em geral. Mas esses não são assim tantos, e se mexermos nas estatísticas serão ainda menos."
Alberto Gonçalves
Como abundantes sociólogos e psicólogos não se cansam de explicar, o principal problema do crime é a respectiva percepção. Ou seja, não é muito grave um cidadão ser aliviado da carteira ou do carro por um meliante com revólver: grave é que os restantes cidadãos tomem conhecimento do facto e, mariquinhas que são, se alarmem com a hipótese de constituir o próximo alvo.
Perante isto, não há necessidade de os governantes combaterem o crime através de políticas e investimentos que reduzam realmente a quantidade de ocorrências. Basta reduzir a quantidade de ocorrências nos registos informáticos. Alterar meia dúzia de algarismos no computador é muito mais barato, muito mais rápido e muito mais eficaz do que torrar fortunas em meios policiais e depois aguardar por resultados incertos. Para quê bulir na realidade propriamente dita, uma instância desagradável e arisca, se a realidade virtual é o futuro?
Mal possa, não duvido de que o Governo aplicará método idêntico aos números do desemprego e da dívida pública e privada, por exemplo. Dado que tudo é psicológico, semelhante medida apaziguaria as angústias do povo, excepto, claro, da parcela do povo que ficou sem carteira, sem trabalho ou sem crédito em geral. Mas esses não são assim tantos, e se mexermos nas estatísticas serão ainda menos."
Alberto Gonçalves
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