domingo, julho 04, 2010

Cunhal em Joanesburgo

"Nos cinco anos da morte de Álvaro Cunhal, os media, ligeira e proverbialmente hagiográficos, dedicaram-se a recordar a "coerência", as "convicções", a "inteligência" e a "abnegação" do histórico líder comunista. Com o devido respeito, não era preciso. A maior homenagem aos valores e aos princípios do dr. Cunhal surgiu, algo inesperadamente, no Mundial da África do Sul. Foi no jogo entre a Coreia do Norte e o Brasil, quando, frente a um ou dois biliões de telespectadores, um futebolista coreano chorou baba e ranho durante o hino do seu país.

Na altura, não alcancei o motivo de tamanha comoção. Mas nos dias seguintes correu a história de que quatro colegas do futebolista desertaram antes do desafio e sinceramente presumi: o chorão estava destroçado por não poder imitá-los.

Ou não. Entretanto, ouvi dizer que o chorão até vive no Japão e também sei que a FIFA, embora de modo nebuloso, negou que os quatro rapazes tivessem desaparecido. Aqui, porém, o importante não é bem o desaparecimento ou as lágrimas: é o facto de toda a gente os achar plausíveis. Na República Democrática Popular da Coreia como em Cuba ou, antigamente, na extinta União Soviética e nos países do Pacto de Varsóvia, é tradição dos seus desportistas aproveitarem competições no estrangeiro para sumir e reaparecer numa embaixada ocidental sob o estatuto de refugiados. Em contrapartida, são escassos os casos em que atletas de nações democráticas, na prática e não de nome, pedem refúgio junto de nações comunistas (contas por alto: zero).

A lendária "coerência" do dr. Cunhal consistiu em passar uma vida às avessas da humanidade, a sonhar para os outros um mundo de que os outros fogem horrorizados. Cinco anos depois, é essa convicção cega nas virtudes do horror o seu legado, que muitos continuam a honrar e que a democracia acolhe com a leviandade de um corpo de bombeiros que emprega um reputado pirómano
. "

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tal e qual como o comuna alentejano que tendo recebido chorudo subs+idio para uma lavoura que nunca pensou fazer foi a Lisboa comprar um Mercedes.
Regfressou ao seu alentejo e contente da vida ia ouvindo r+adio quando o locutor interrompeu a música para avisar:
-Cuidado automobilistas da A2 um condutor vai em contramão
- Pois aqui -disse o comuna- nesta estrada vão muitissimo mais

Coerente asta el fim

domingo, julho 04, 2010  

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