Vitória Amarga
"Para quem, como eu, nasceu em Matosinhos e suportou Narciso Miranda na presidência da câmara durante três quartos da vida, o vexame a que o afastamento e, agora, a expulsão do PS sujeitaram a criatura deveria suscitar um imenso gozo. Estranhamente, não é só isso que suscita.
A título informativo, esclareço que não tenho respeito nenhum pelo sr. Narciso Miranda. No seu longo reinado (é o termo), Matosinhos alcançou de facto o progresso, isto é, progrediu da vila industrial, simpática e bonitinha da minha infância para o dormitório triste, caótico e esteticamente angustiante dos tempos que correm. A ética também não abundou nesta história: se o sr. Narciso Miranda era o "autarca modelo", não o era no sentido afirmado por Mário Soares e demais líderes socialistas, que vinham a Matosinhos receber os proverbiais (e medonhos) "banhos de multidão", mas no sentido em que representava na perfeição os vícios e os tiques do nosso municipalismo democrático. Durante anos, supus que não haveria pior. Estava, naturalmente, enganado.
No dia em que a lota deixou de dar votos e passou a dar vítimas de enfarte, as cúpulas partidárias sentenciaram a morte política do sr. Narciso Miranda, trocando-o pelo apoio a um punhado dos seus anteriores acólitos. Regeneração? Não brinquem. Hoje, os acólitos de ontem, aliás igualmente envolvidos na morte de Sousa Franco, dominam a autarquia, coadjuvados por novas e inacreditáveis insignificâncias. O que se julgava impossível aconteceu: os vícios e os tiques aumentaram. O poder local é um poço sem fundo.
O poder central também, e a manipulação sofisticada dos senhores que despacham sumariamente o sr. Narciso Miranda e 200 outros militantes provoca saudades do tempo em que o populismo se reduzia a um par de beijos numa vendedora de peixe.
Enxotado num processo sem regras nem maneiras, o sr. Narciso Miranda fingiu descobrir de repente que, embora a democracia não dispense os partidos, os partidos dispensam a democracia sempre que podem. Tem o castigo que merece, infelizmente executado por quem e em benefício de quem merecia castigo maior. "
A título informativo, esclareço que não tenho respeito nenhum pelo sr. Narciso Miranda. No seu longo reinado (é o termo), Matosinhos alcançou de facto o progresso, isto é, progrediu da vila industrial, simpática e bonitinha da minha infância para o dormitório triste, caótico e esteticamente angustiante dos tempos que correm. A ética também não abundou nesta história: se o sr. Narciso Miranda era o "autarca modelo", não o era no sentido afirmado por Mário Soares e demais líderes socialistas, que vinham a Matosinhos receber os proverbiais (e medonhos) "banhos de multidão", mas no sentido em que representava na perfeição os vícios e os tiques do nosso municipalismo democrático. Durante anos, supus que não haveria pior. Estava, naturalmente, enganado.
No dia em que a lota deixou de dar votos e passou a dar vítimas de enfarte, as cúpulas partidárias sentenciaram a morte política do sr. Narciso Miranda, trocando-o pelo apoio a um punhado dos seus anteriores acólitos. Regeneração? Não brinquem. Hoje, os acólitos de ontem, aliás igualmente envolvidos na morte de Sousa Franco, dominam a autarquia, coadjuvados por novas e inacreditáveis insignificâncias. O que se julgava impossível aconteceu: os vícios e os tiques aumentaram. O poder local é um poço sem fundo.
O poder central também, e a manipulação sofisticada dos senhores que despacham sumariamente o sr. Narciso Miranda e 200 outros militantes provoca saudades do tempo em que o populismo se reduzia a um par de beijos numa vendedora de peixe.
Enxotado num processo sem regras nem maneiras, o sr. Narciso Miranda fingiu descobrir de repente que, embora a democracia não dispense os partidos, os partidos dispensam a democracia sempre que podem. Tem o castigo que merece, infelizmente executado por quem e em benefício de quem merecia castigo maior. "
Alberto Gonçalves
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