terça-feira, novembro 09, 2010

Acordar a bancarrota

"Quem diria? Afinal, os mercados internacionais reagiram negativamente ao Orçamento que, segundo especialistas e derivados, iria garantir a reacção positiva dos mercados internacionais. Os juros da dívida pública bateram novo recorde. O PSI-20 caiu para os valores mais baixos desde Agosto e da Europa. Bruxelas pediu "cortes" autênticos. O FMI declarou que a nossa falência é "quase certa". Pior que tudo, aquele ministro chamado Silva Pereira jurou que o País está a tomar as medidas adequadas, que as contas do Estado caminham para o equilíbrio e que a confiança vai ser restaurada.

A menos que se partilhe a alucinação de alguns, crentes de que o que de calamitoso nos acontece decorre de uma conspiração universal destinada a enxovalhar-nos, é legítimo suspeitar que a famosa "credibilidade" nunca se atingirá através de um Governo sem credibilidade nenhuma.

O eng. Sócrates pode enganar o dr. Passos Coelho tantas vezes quantas ambos quiserem. O eng. Sócrates pode até enganar uma considerável fatia do eleitorado. O eng. Sócrates não pode enganar os investidores estrangeiros, os quais, vá-se lá saber porquê, não possuem a candura necessária para acreditar que a contenção prometida num Orçamento repleto de erros, dissimulações e trapaças é sincera ou que, ainda que fosse sincera, seria suficiente ou que, ainda que fosse suficiente, seria sequer vagamente cumprida. Para inúmeros indígenas, incluindo os indígenas que teoricamente lideram a oposição, um Governo que remata a inépcia com a mentira merece sempre mais uma oportunidade para, coitadinho, terminar de arrasar a economia pátria. Espantosamente, o mundo exterior não descobre qualquer razoabilidade neste exotismo e, por pura maldade, hesita em financiar inconscientes.

A crise caseira resulta de diversos factores, todos de resolução difícil, demorada ou mesmo, à primeira vista, inexistente. Excepto um: o eng. Sócrates, cuja remoção do poder é hoje condição indispensável para que Portugal seja tratado com um esboço de respeito e não como protagonista de anedotário. O presidente da República, por estratégia pessoal, e o actual PSD, por razões insondáveis, desperdiçaram as sucessivas hipóteses de solucionar esse problema prioritário. A aprovação do Orçamento, exigida por seríssimas vozes e patrocinada por Cavaco e Passos Coelho, foi o desperdício definitivo.

O Orçamento não nos salvou da bancarrota: o Orçamento consagrou a bancarrota. Agora, teremos de sobreviver com ela. E sobreviver é o termo, e crescentemente um desígnio, o próximo desígnio nacional
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Alberto Gonçalves

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