quinta-feira, dezembro 16, 2010

Exportem-se bem

"O que é que as empresas querem? Flexibilização das leis do trabalho, que o Governo anuncia esta manhã?

Veto aos aumentos da electricidade, que a entidade reguladora propõe à tarde? É ouvi-las. O FMI e a Comissão Europeia ficariam surpreendidos.

Duzentos gestores e empresários de empresas exportadoras reuniram-se numa conferência para dizer não só o que querem, mas sobretudo o que fazem. São empresas que já estão num ambiente competitivo externo acelerado e que prevêem aumentar as exportações no próximo ano. Ver o que fazem é inspiracional. Ouvir o que pedem é mobilizador. Não há choradinhos, ramerames ou bodes expiatórios. Há concorrência, descomplexada e aberta.

Devíamos acender uma velinha para que todas estas empresas exportadoras tenham prosperidade e sucesso. Porque a economia inteira está dependente delas. Quando se fala de défice, fala-se de Estado. Quando se fala de PIB, fala-se de empresas. Se o PIB cresce este ano muito mais do que o previsto, a elas se deve. E para contrariarmos o ambiente recessivo de 2011, delas precisamos. Leia bem: são estas empresas que estão a levar a economia portuguesa ao colo. Pelo crescimento da economia. E pela redução do défice externo, chaga maior do que nos prende à cruz.

Não basta exportar muito, é preciso que essa facturação crie riqueza: é preciso gerar o valor acrescentado. A Qimonda, por exemplo, exportava muito, mas tirando o que importava, pouco ficava na economia. Se o efeito do emprego não contasse, acabaria por ser mais "rentável" para a economia portuguesa ter ficado com a Nanium, o seu despojo. Importa também o que fica: a parte dos lucros que é reinvestida. Em cada mil euros de lucro dos investidores estrangeiros, 19 são reinvestidos em Portugal, 981 são expatriados em dividendos ou para destinos fiscalmente mais atractivos.

Nas empresas portuguesas, da pasta e papel (Portucel e Altri) ao azeite (o grande investimento da Sovena), passando por sectores como o calçado (Fly London) ou farmacêutico (Bial), não se pede despedimentos individuais mais fáceis. Pede-se melhor sistema de justiça, uma fiscalidade mais previsível e simples, acesso a matérias-primas, custos de energia competitivos - e ânimo, vontade, sair da fossa.

O anúncio de aumentos dos preços da electricidade que hoje vai ser anunciado, de 12% nos custos de acesso, como o Negócios noticiou na semana passada, é um problema para essa competitividade presente. Mesmo que travá-lo seja um problema para os consumidores no futuro, pois avolumará o défice tarifário.

Já quanto às alterações das leis laborais, espera-se um embaratecimento do despedimento para as empresas e admite-se flexibilização no contrato de trabalho em aspectos como o "banco de horas", que já existe na negociação colectiva mas não na individual. São aspectos positivos. Mas que não têm a ver com a flexibilização do despedimento, que o FMI e a Comissão Europeia invocaram há dias. Ontem, na conferência, dois terços dos presentes excluíram o despedimento individual do topo da lista das prioridades.

O FMI está esta semana de visita a Portugal, pela segunda vez em mês e meio. Na semana passada esteve a Standard & Poors, de quem se admite uma descida do "rating" da República, talvez ainda este ano. Era bom que, além de banqueiros e governantes, ouvissem também as empresas. Ficariam surpreendidos. São elas que estão a exportar o nosso défice
. "

Pedro Santos Guerreiro

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não sei porque não se fala na agicultura, há campos por cultivar que não necessitam adubação estão quase virgens, não são cultivados há anos, o milho não necessita pivots, há milhos de sequeiro, estamosa receber milho para galinhas miúdo do ...Canadá, masi caro que o nosso.
Isto é vergonhoso.

TOUPEIRA

quinta-feira, dezembro 16, 2010  

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