A pocilga utópica
"Foi há cerca de um ano que Hugo Chávez discursou contra a higiene. Num daqueles arroubos democráticos que o levou a mudar o nome e o fuso horário do seu país, o soba dos trópicos decretou novas regras para os respectivos habitantes: duches de um minuto chegam e sobram. Como não sou o eng. Sócrates, que passa a vida abraçado ao soba, e não preciso de suportar os pobres venezuelanos restantes pelo simples facto de não conhecer nenhum, não liguei ao delírio.
Pouco depois, soube que Chávez não estava sozinho. Aqui e ali, algumas associações ecologistas defendem um banho rápido a cada três dias, decerto em prol do ambiente em abstracto e dificilmente em prol do ambiente que os rodeia. Como não frequento o sector, não me importei.
Recentemente, li no DN sobre a crescente influência nos EUA de um movimento avesso ao chuveiro. Os fiéis do movimento seguem a senhora Katherine Ashenburg, autora de uma história crítica da limpeza (The Dirt on Clean: An Unsanitized History) e que confessa tomar banho apenas quando lhe apetece. Como a probabilidade de encontrar a senhora e o seu séquito durante uma viagem à América é baixa, o assunto passou--me ao lado.
Mas, pela proximidade, já começa a preocupar-me que o mesmo DN tenha encontrado um escritor português a viver no isolamento da serra da Estrela e a partilhar idênticos valores. Não é o isolamento do homem, aliás compreensível, que me preocupa: são os valores. Segundo este paladino do esterco, "demasiados banhos fazem mal à pele e podem levar ao agravamento do reumatismo". Pior ainda: para ele, a imposição do banho é fruto, cito, do capitalismo.
É do senso comum culpar o capitalismo por todos os males da Terra e da terrinha. O que eu ignorava era que a sinistra influência do mercado livre chegasse ao asseio. Pelos vistos, sempre que lavo a cabeça há um especulador internacional a mexer, mediante fios, nos bracinhos com que me ensaboo.
Após o aborto subsidiado, o casamento homossexual e, não tarda, a adopção por gays e a eutanásia, um belo dia veremos a nossa esquerda das "causas" a reivindicar no Parlamento o racionamento de água e champô, vícios burgueses que urge abolir em nome da felicidade do povo, o qual, se unido, jamais será vencido. Nem, espero, cheirado."
Alberto Gonçalves
Pouco depois, soube que Chávez não estava sozinho. Aqui e ali, algumas associações ecologistas defendem um banho rápido a cada três dias, decerto em prol do ambiente em abstracto e dificilmente em prol do ambiente que os rodeia. Como não frequento o sector, não me importei.
Recentemente, li no DN sobre a crescente influência nos EUA de um movimento avesso ao chuveiro. Os fiéis do movimento seguem a senhora Katherine Ashenburg, autora de uma história crítica da limpeza (The Dirt on Clean: An Unsanitized History) e que confessa tomar banho apenas quando lhe apetece. Como a probabilidade de encontrar a senhora e o seu séquito durante uma viagem à América é baixa, o assunto passou--me ao lado.
Mas, pela proximidade, já começa a preocupar-me que o mesmo DN tenha encontrado um escritor português a viver no isolamento da serra da Estrela e a partilhar idênticos valores. Não é o isolamento do homem, aliás compreensível, que me preocupa: são os valores. Segundo este paladino do esterco, "demasiados banhos fazem mal à pele e podem levar ao agravamento do reumatismo". Pior ainda: para ele, a imposição do banho é fruto, cito, do capitalismo.
É do senso comum culpar o capitalismo por todos os males da Terra e da terrinha. O que eu ignorava era que a sinistra influência do mercado livre chegasse ao asseio. Pelos vistos, sempre que lavo a cabeça há um especulador internacional a mexer, mediante fios, nos bracinhos com que me ensaboo.
Após o aborto subsidiado, o casamento homossexual e, não tarda, a adopção por gays e a eutanásia, um belo dia veremos a nossa esquerda das "causas" a reivindicar no Parlamento o racionamento de água e champô, vícios burgueses que urge abolir em nome da felicidade do povo, o qual, se unido, jamais será vencido. Nem, espero, cheirado."
Alberto Gonçalves
2 Comments:
Não sei quem é o gajo, mas é burro.
A esquerdalha é o cancro da sociedade.
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