quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Excesso de Chá

"Depois de, em Paris, o Dr. Passos Coelho ter proferido umas trivialidades sobre a crise interna, o ministro Silva Pereira acusou-o de prejudicar a imagem de Portugal. Como de costume, o ministro Silva Pereira está enganado. A maior ameaça à imagem do País não vem da oposição, de economistas dissidentes, de comentadores heterodoxos ou sequer das estatísticas que confirmam a nossa putativa falência. A maior ameaça vem, em primeiro lugar, do Governo que o ministro Silva Pereira integra e, em segundo lugar, de um anúncio televisivo a uma conhecida cadeia de hipermercados.

O anúncio, aparentemente tão inócuo quanto o Eng. Sócrates em certas entrevistas, combina a publicidade a umas bolachas do tipo "Maria" com a publicidade a um chá. Só isto, chá e bolachas, apresentados com pompa capaz de enternecer os distraídos e assustar os atentos. Os atentos não imaginam maior admissão de que estamos em crise, e de que a crise é grave, do que o empenho de uma grande empresa em seduzir milhões de famílias com a hipótese de adquirirem semelhantes iguarias por um euro e pouco.

Pelos danos que pode causar na credibilidade pátria, e consequente reflexo nas taxas de juro, um anúncio assim "bota-abaixista" (sic) não deve existir. Dado que existe, deve ser cancelado por ordem conjunta da Alta Autoridade para a Comunicação Social e do Ministério das Finanças. Além disso, urge multar a empresa em questão e forçá-la a substituir o chá e as bolachas por trufas e caviar Beluga, artigos de luxo que mostrem ao mundo a prosperidade a que o socialismo nos ergueu.

E se, o que é presumível, o hipermercado não vender trufas nem caviar, não faz mal: nós também não somos prósperos. Em matéria de imagem, a realidade nunca foi para aqui chamada. Mesmo que fosse, não nos ligaria nenhuma
."

Alberto Gonçalves

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