quarta-feira, junho 15, 2011

A ingerência

"A crise da dívida pública abriu a caixa de Pandora. Todos os males do mundo vagueiam agora, ao sabor do vento, entre a Grécia e Portugal.

O sol que iluminava o sul da Europa foi tapado pela sombra da Alemanha. Todas as suas escolhas têm um lado negro. A Alemanha tornou-se o Darth Vader da Europa e do euro. Portugal começa a sentir isso na pele. A liberdade do País está empenhada a uma loja de penhores gerida pelo FMI e pela UE. Que, pelo que se lê, permite que os técnicos do FMI andem pelo Banco de Portugal como mestres-escola para ver se nos portamos bem. Abrimos a caixa e agora teremos de tentar agarrar à mão todos os males para os voltarmos a pôr lá dentro. Pandora não nos ajudará. Mas inevitavelmente reabriu-se a grande ferida que só cicatrizou politicamente porque França e Inglaterra, quando os seus líderes ainda se lembravam da II Guerra Mundial, tentavam por todos os meios amansar o músculo da Alemanha. Depois desta crise a confiança entre o sul da Europa e a Alemanha desapareceu.

O tiroteio de culpas disparadas pela Alemanha em direcção do sul, especialmente a Espanha, por causa da E.coli, mostra que o "Club Med" é o eixo do mal para a senhora Merkel e seguidores. Os prazos asfixiantes que a Troika impôs a Portugal e ao Governo que ainda se está a formar são tão simpáticos como a lâmina de uma guilhotina. Mas o problema maior é que a Troika está a começar a considerar Portugal como uma colónia indígena. Sabemos que as reformas não seriam feitas sem uma pressão forte. Mas quando elas se transformam numa ingerência sem pudores, é porque Pandora não quer fechar a caixa
."

Fernando Sobral

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