Bloco recua seis anos e obriga a reflexão

"Francisco Louçã proclamou que as eleições de ontem eram um verdadeiro referendo ao acordo com a troika. Contava fazer frente com a CDU nesta negação às imposições dos credores e obteve a resposta dos eleitores: uma rejeição clamorosa das suas posições numa relação de 6 para 1. De caminho, o Bloco de Esquerda perde metade do seu eleitorado: são quase 300 mil votos a menos, que tinham reforçado o BE em 2009, com a expectativa de ele poder vir a jogar na grande política nacional. Isto é, de fazer inflectir a política de um PS enfraquecido no sentido das suas próprias propostas. As sucessivas coligações negativas dos 5 partidos opositores na Assembleia da República e a moção de censura, proclamatória e sem propósito de eficácia, deram a milhares de socialistas de esquerda a prova da imaturidade política do BE, da sua direcção política ziguezagueante, da sua inutilidade para a recomposição de uma política de esquerda não sectária, plural e reformadora em Portugal.

O BE formou-se há 12 anos pela convergência de três correntes políticas: trostkista, maoista e pós-comunista. Na última década, alargou o seu eleitorado a uma parte não negligenciável do voto socialista de esquerda, atingindo cerca de 10% do eleitorado. A partir daí, falhou a capacidade de transcender o fundamentalismo inicial e fazer vir ao de cima uma linha política comprometida com o exercício prático do poder. Ontem, recuou 6 anos, volta ao seu eleitorado nuclear. Nestas circunstâncias, não há nada a esperar da anunciada reflexão que esta hecatombe eleitoral não deixará de provocar."

ANTÓNIO PEREZ METELO