segunda-feira, outubro 03, 2011

As três lições da crise

"Há três anos, o mundo mudou. A falência do Lehman Brothers e as semanas incríveis que se lhe seguiram criaram uma nova realidade económica. Este é o mito oficial, mas de facto as coisas não são assim. O mundo continua mais ou menos como era: sempre em mudança. Esses momentos de tensão apenas nos relembraram algumas lições que andavam muito esquecidas, e que são também muito úteis no actual momento da crise nacional.

A primeira coisa que aprendemos é que a humanidade não consegue evitar cair em períodos de delírio colectivo. Por mais sofisticadas que sejam as leis e instituições, por mais avançada que esteja a civilização e a sociedade, uma euforia será sempre imparável; até ao colapso fatal. A história regista múltiplas bolhas especulativas, alimentadas por ilusões infantis. Este tempo tecnológico, com sofisticadíssimos mercados de hipotecas e derivados, esqueceu a lição e caiu de novo na esparrela. Temos de admitir que se trata, não de uma doença evitável, mas de um traço de carácter da raça humana que sempre ressurgirá.

Mas o mal tem cura. Os últimos anos também mostraram que a política económica, se não consegue evitar a crise, possui meios que lhe reduzem muito as consequências. O maior choque financeiro de sempre acabou com efeitos muito inferiores ao previsto. Os actuais sofrimentos sociais, indiscutivelmente violentos, nunca atingiram a justamente anunciada derrocada estrutural.

A terceira lição, que domina a situação presente, é o valor da solidariedade, pois conflitos e suspeitas podem criar recaídas. A luta partidária no Congresso americano gera a incerteza que já levou à histórica descida do rating soberano. Na Europa, após o endividamento excessivo de alguns, que constituiu forte quebra de solidariedade dentro do euro, vive-se hoje a dificuldade de encontrar uma solução solidária que salve o projecto comum.

Portugal é um dos protagonistas da crise global. Apesar de alheio ao subprime americano que precipitou o estoiro original, a fragilidade da sua "década perdida" acabou por colocá-lo no centro do segundo episódio, o dominó das dívidas soberanas. Agora, enfrentando a difícil terapêutica de ajustamento, as mesmas três lições são muito úteis a cada um dos três grupos nacionais: público, governantes e analistas.

A euforia que alimentou a nossa bolha foi mais longa e subtil que a americana. O País viveu acima das suas posses durante quinze anos, desde que a candidatura ao euro lhe deu acesso a crédito fácil. Agora, a mesma tolice da facilidade manifesta-se na frase mais repetida: "Portugal tem de cortar despesa, mas aqui é injusto." Ora é precisamente aí, e em todo o lado, que se deve cortar até doer. Só assim voltaremos a ser um país equilibrado.

Os novos governantes vêm embuídos de espírito reformador e apostados em cumprir o forte programa de austeridade. Mas só terão êxito se conseguirem evitar cair nos dois extremos fatais: ser capturado pela máquina ou triturado por ela. Um ministro só consegue resultados através do seu ministério. A fraqueza dos antecessores acabou dominada pelos interesses instalados, criando a espiral de dívida. Agora é preciso retomar o propósito do bem comum, mas sem hostilizar os mecanismos públicos que o servem. É preciso emagrecer o Estado, não só para perder peso mas para ser mais eficaz.

Finalmente, todos temos de aprender a lição da solidariedade. Aqui, o pior veneno são as pomposas análises que repetem vir aí forte conflitualidade nacional. Tais afirmações, além de irresponsáveis, são simplistas. Explosões sociais acontecem, não quando se perde muito mas quando não há mais nada a perder. A maioria dos portugueses, apesar do que sofre, sabe que não deve arriscar o resto em aventuras tolas.

Nos últimos três anos, o mundo reaprendeu três coisas: que quem faz tolices perde, que já sabemos tratar as crises e que no mundo globalizado estamos todos no mesmo barco. Portugal tem agora de mostrar ao mundo o valor dessas lições, vencendo o desafio da austeridade para lançar o próximo ciclo de progresso
."

JOÃO CÉSAR DAS NEVES

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tu, César não aprendeste nada.
Esqueces que há gente com memória?
És professor universitário, mas afinal não passas de mais um analista de muito má qualidade.
Lembraste quando criticaste que havia uma bolha e uma crise que afinal aconteceu e chamaste alarmistas aos que avisaram e analisaram como deve ser e afirmaste que a bolsa não era uma roleta ou um casino e que afinal os factores psicológicos não existiam e os mercados se auto regulavam? Tanta contradição...
Faz "mea culpa", não te disseram ainda que a humildade se aprende?
Afinal tu, fazes parte de todos aqueles que também nos USA, faziam parte da elite universitária que era ampliada pelos jornalistas nos artigos encomendados pelos gangsters económicos que provocaram o subprime e o exportaram.
Também eles foram acusados nos inquéritos onde foram apertados os tipos como o actual Secretário de Estado do Tesouro e o presidente do Fed, premiados depois pelos mesmos que provocaram esta crise de que falas.
Vergonha não há por aí pois não? Eu coraria, porque basta postar os artigos que escrevias antes de rebentar a crise.
Anda por aí o tio alemão a rondar?
Tenha paciência Dr Assur...
Mas pode relembrar o que foi então escrito se quiser.

TOUPEIRA

segunda-feira, outubro 03, 2011  
Anonymous Anónimo said...

O Que é o BCE? Explicada de forma infantil?

- O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como
é o caso de Portugal.

E donde veio o dinheiro do BCE?
- O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de nós todos,
cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à Alemanha
correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram
no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE
contribuiram com 30%.

E é muito, esse dinheiro?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros, mas no fim do ano passado
foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o
BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de
2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.

Então, se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal,
ou não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou outro dos seus
accionistas.
- Não, não pode.

Porquê?!
- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.

Então, a quem pode o BCE emprestar dinheiro?
- A outros bancos, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.

Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro
emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE.
- Pois.

Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha
irem directamente ao BCE?
- Bom... sim.... quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros
não ganhavam nada nesse negócio!

Agora não percebi!!..
- Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a
Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do
euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e
esse conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a
6 ou 7%.

Mas isso assim é um "negócio da China"! Só para irem a Bruxelas buscar o
dinheiro!
- Não têm sequer de se deslocar a Bruxelas. A sede do BCE é na Alemanha, em
Frankfurt. Neste exemplo, ganharam com o empréstimo a Portugal uns 3 ou 4
mil milhões de euros.


Isso é um verdadeiro roubo... com esse dinheiro escusava-se até de cortar
nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem parte do 13º mês.
As pessoas têm de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que
podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos
administradores que são gente muito especializada.

Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?
- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar
que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.

Então, os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos
bancos a 1%, para depois estes emprestarem a 5 e a 7% aos Governos que são
donos do BCE?
- Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas,
os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de
corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam juros a
6%, a 7 ou mais.

Então nós somos os donos do dinheiro e não podemos pedir ao nosso próprio
banco!...
TOUPEIRA

terça-feira, outubro 04, 2011  
Anonymous Anónimo said...

II

- Nós, qual nós?! O país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por
gente vulgar como nós. Não se queira comparar um borra-botas qualquer que
ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí
desempregado, com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de
dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um
banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil
euros por mês. Não se pode comparar.

Mas, e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?
- Os nossos Governos... Por um lado, são, na maior parte, amigos dos
banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável
quando lhes faltarem os votos.


Mas então eles não estão lá eleitos por nós?
- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois.... quem tem a massa é quem
manda. É o que se vê nesta actual crise mundial, a maior de há um século
para cá.
Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo da finança
num casino mundial, como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam, e
levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas importantes
levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha metido o
dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então, nos EUA
e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.

E onde o foram buscar?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. De onde havia
de vir o dinheiro do Estado?...

Mas meteram os responsáveis na cadeia?
- Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a coisa,
engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o
remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais
comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma
dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para
pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram... passados
à reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de
10 milhões de dólares a que tinha direito.

E então como é? Comemos e calamos?
- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar...

Toupeira

terça-feira, outubro 04, 2011  
Anonymous Anónimo said...

Oh deus da economia explica lá isto tu qu és a sapiência e explicas de cátedra.
César, as coisas não mudaram, já eram assim, vai dar lições para p deserto.

terça-feira, outubro 04, 2011  

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