quinta-feira, setembro 29, 2011

A solidariedade nacional

"A Madeira aderiu ao euro? Não sei, que não vou lá desde os tempos do escudo. Mas que, a julgar pelas reacções à respectiva situação económica, há algum factor a determinar a excepcionalidade do território, há.

Por um lado, temos a indignação dos socialistas que, graças à crença muito "madeirense" no "investimento" público, cavaram o buraco nas contas nacionais e mentiram sucessivamente acerca da dimensão dessas contas. O extraordinário "Tozé" Seguro, que durante seis anos assistiu calado aos desvarios do eng. Sócrates, acusa Pedro Passos Coelho de "silêncio cúmplice" e Alberto João Jardim de "gozar com os portugueses". Mesmo Mário Soares, descontraído com o desastre nacional a ponto de incitar à desobediência ao memorando da troika, classifica o desastre ilhéu de "vergonha sem perdão".

Por outro lado, temos o primeiro-ministro, que embora ache o episódio da Madeira "grave" remete as suas consequências apenas para a esfera dos princípios e, à semelhança de Cavaco Silva, a famosa "reputação" do País no exterior. Também o ministro das Finanças defende que o dito episódio é "pontual" e de "impacto limitado" no orçamento.

Os desabafos do PS e adjacências não merecem comentários. Os do Governo, sim. Pelos vistos, os mil e tal milhões (perspectiva optimista) que faltam na Madeira não fazem excessiva falta aos cofres do Estado. Um pormenor que, aos olhos de um leigo, torna incompreensível a necessidade de taxar pela metade os rendimentos natalícios de todos os cidadãos, subir a tributação sobre o património e aumentar o IVA para, no fundo, arrecadar uma quantia idêntica, ou provavelmente inferior, àquela cujo sumiço o dr. Jardim assume com orgulho.

Perante isto, um leigo convence-se de que o dinheiro insular vale menos do que o continental. Caso contrário, o leigo não entende porque é que uns trocos "pontuais" e irrelevantes no arquipélago são uma verba vital à redução do défice pátrio. Ou, dito de maneira diferente, porque é que não se aproveita as intermitentes ameaças de independência do dr. Jardim e se livra o Estado da dependência dos contribuintes que nunca sequer puderam votar contra ou a favor do dr. Jardim? Seguramente que o leigo prefere perder a Madeira a perder metade do subsídio ou do salário de Natal.

A não ser que o leigo esteja enganado, e ignore que ou as finanças são demasiado complexas ou a política é demasiado simples. Porém, se reparar na sucessão de presidentes da República e governantes que assistiram impávidos ao nascimento, crescimento e maturidade da pândega madeirense, o leigo talvez comece a desconfiar que ambas as hipóteses são de facto verdadeiras. E que a factura é dele
."

ALBERTO GONÇALVES

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