terça-feira, setembro 27, 2011

Desvia mas faz.

"Alberto João é um "ponto", tem divertido toda a gente com o seu original número que tanto inclui excelentes momentos políticos, com finura e inteligência, como boçalidades, copofonia e bailinho da Madeira.


(Onde o autor tranquiliza o Presidente da República, dando-lhe o seu aval na dura reprimenda à Madeira, um pouco tardia, mas nada para tirar o sono, e põe Alberto João na berlinda, pois tudo o que é de mais é moléstia; depois aproveita para associar o assunto com a primeira entrevista do primeiro-ministro, saltando daí para o psico-drama grego, tudo isto com enorme graciosidade literária).

1 - Alberto João é um "ponto", tem divertido toda a gente com o seu original número que tanto inclui excelentes momentos políticos, com finura e inteligência, como boçalidades, copofonia e bailinho da Madeira. No seu populismo jactante, jocoso e provocatório, faz-me lembrar Berlusconi, mas sem a pipa de dinheiro, a corte de mulherio sumptuoso, nem o palmarés de ter deixado publicamente a Merkl, o ogre da União, pendurada ao telemóvel.

Mas não se pode deixar de referir, principalmente, a obra realizada e à vista, que atirou a região do subdesenvolvimento para a média da União Europeia, lembrando o velho refrão de Ademar de Barros, "rouba mas faz", agora em versão mais matizada, de "desvio", na ordem das centenas de milhões entre avales e dívidas públicas sonegadas.

Eu sempre julguei que na ilha já não houvesse "buracos" porque toda a gente me diz que agora só existem viadutos, mas sempre achei estranho que as coisas continuassem à tripa forra, apesar da diminuição de verbas, com o aperto socrático e a situação internacional, havendo, para mais, um mui competente e prestigiado Tribunal de Contas a emitir permanentes reparos.

Eu nunca fui à Madeira, nunca me interessei pelo assunto, excepto para ouvir a galhofa do Alberto João, e jamais li qualquer estudo quantificado sobre o jardim do Jardim. Mas nunca pensei que, no regabofe geral do País, o Governo Regional pudesse ser a Branca de Neve, e cá para mim a derrapagem ia às duas rodas.

Pode ser que eu seja particularmente intuitivo, mas a minha modéstia tradicional rejeita a hipótese: toda a gente via, menos quem devia ver, um pouco como a supervisão do BPN. Porém, o principal problema não é o montante do défice, que, cheira-me, quando aparecerem os dos transportes e empresas públicas sortidas, vai parecer a caixa de esmolas de uma paróquia pobre, e nem vai afectar por aí além o essencial resultado do orçamento de 2011: Não!

O que é insuportável é a ocultação, a falta de obrigatório reporte, o que constitui um abuso de confiança, por um lado, e, por outro, o triste protagonismo que o caso deu ao País, internacionalmente, quando andávamos a tentar assumir a postura de vestais impolutas, muito diferente da casa de passe dos gregos.

2 - Gostei da entrevista de Passos Coelho, em particular do modo como tratou o dito assunto da Madeira, aliás confirmando o que dissera anteriormente, em uníssono com o ministro das Finanças: Com frio distanciamento, clara e firme reprovação, promessa de rigor quanto às informações pertinentes para antes das eleições regionais. Deu a necessária imagem de Estado nesta matéria e, no geral, foi calmo, rigoroso, confiante, assertivo sem agressividade e cresceu aos olhos do público - que, aliás, segundo as mais recentes sondagens, o põe nas proximidades da maioria absoluta. Talvez o cargo, extremamente complexo e penoso, esteja a dar dimensão ao homem, numa daquelas situações em que a função ou eleva ou destrói. Até gostei daquele detalhe de continuar a viajar em económica nas viagens aéreas, e só temi vê-lo em segunda classe no comboio para o Porto ou na camioneta da carreira para Massamá.

3 - Mas pus um polegar para baixo na referência do PM à crise grega e a hipótese insinuada de novo empréstimo para Portugal. Não foi bem como os jornais noticiaram por excesso, mas os tempos nem os média estão para subtilezas.

Acho que uma referência ao ambiente adverso internacional seria de preceito, mas só em termos de generalidade, até porque à bica está o caso italiano e, quanto à Grécia, é um dado assimilado por toda a gente, isto é, os mercados e comentadores eméritos, que vai entrar "em defult", embora controlado. Para quem não quer a parceria grega, como Passos Coelho, para quê chamar por ela? E também, pela publicidade, negativa, para quê trazer ao de cima a insinuação de renegociação da nossa dívida? Claro que vai acontecer, mas não é necessário pôr a boca no trombone, ou melhor, porque a coisa foi mais subtil, flauta de bisel
."

Fernando Braga de Matos

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