domingo, setembro 25, 2011

Sair do Euro e em força, já!

São medidas com impacto diminuto no bolo de austeridade imposto aos portugueses. O governo anunciou que quer ultrapassar o programa da troika, só que subestima os riscos recessivos de todo este programa. Ou seja, este aumento de impostos, o aumento do custo de vida que se vê na electricidade, no gás e nos transportes, tem um impacto no consumo e no investimento nacional que resultará na diminuição da receita do Estado.

É possível que este ano se cumpra o défice, até porque há receitas extraordinárias previstas, mas parece-me muito difícil cumprir as metas estabelecidas com a troika devido a estes impactos recessivos na economia. Queremos cumprir o défice, mas depois não temos as receitas quAs experiências que existiram, de ajustamento pela austeridade, só resultaram porque tinham uma escapatória que o Fundo Monetário Internacional (FMI) deixava variar, que era a taxa de câmbio. Ou seja, estes países tinham de cumprir um programa de austeridade, mas podiam desvalorizar a sua moeda. Esta experiência é nova. Sou muito pessimista, não vejo nenhuma saída para o crescimento económico, não temos a escapatória de desvalorização cambial e temos um contexto mundial de recessão iminente, que claramente foi criado pela austeridade imposta em graus diferentes, dos EUA ao continente europeu e correspondem a esse objectivo.

Não me parece que as exportações venham a crescer, porque há um contexto de recessão mundial e, por outro lado, os efeitos recessivos do consumo público e privado são subestimados. Pode-se entrar numa espiral de falências que apontam para uma recessão muito mais grave do que o governo espera e mesmo assim espera uma recessão à volta dos 2% para 2011 e 2% para o ano seguinte, mas será certamente pior.

A Grécia é o melhor exemplo. É imposta austeridade, os países conseguem cortar na despesa pública, mas precisam de mais financiamento do que se tinha previsto nos acordos com a troika. Neste caso ou há uma renegociação da dívida ou há um novo pacote de ajuda. Com a Grécia há um novo pacote de ajuda e houve uma renegociação liderada pelos credores, em que a banca europeia aligeirou o peso da dívida. Não acredito que a dívida grega seja sustentável e nós vamos ter de renegociar a nossa. Hoje já é insustentável e precisamos de melhores condições com a União Europeia, que permitam o crescimento económico do país. Só com o crescimento económico as dívidas se resolvem.

Não tem existido um equilíbrio entre austeridade e investimento público...

Essa articulação parece-me muito difícil. Existe um consenso entre os economistas portugueses sobre como o peso do Estado é extraordinário dentro da economia e como vivemos acima das possibilidades, mas são dois mitos. Nós não vivemos acima das possibilidades, tivemos foi dez anos de estagnação económica. Portugal foi dos países que menos cresceram no mundo. E esta ideia de que todos andámos a comprar LCD e viagens à República Dominicana a crédito é falsa. Houve um forte endividamento das famílias, mas 80% do crédito às famílias é crédito à habitação, ou seja, estamos a falar de um bem essencial. Também não faz sentido falar de um excessivo peso do Estado português na economia: em 2007, antes da crise internacional, o peso da despesa pública em Portugal era de 47% do PIB e era esta a média dos países da OCDE. O problema que vivemos hoje está relacionado com o processo de adesão ao euro e que criou e agravou desequilíbrios estruturais que nos puseram numa posição muito frágil quando chegámos à crise internacional. Quando entrámos no euro, entrámos com um escudo muito sobrevalorizado em relação às outras moedas internacionais, e no euro há uma política monetária que é feita não em função de economias como a nossa, mas em função de maiores economias, como a alemã. Estamos a destruir o projecto europeu: temos uma moeda única mas temos economias completamente diferentes, sem orçamento europeu.

Portugal pode estar em risco de sair da moeda única?

É uma hipótese que se põe. A saída por cima seria mudar esta Europa, mudar este euro e ter um orçamento europeu digno desse nome. O orçamento da UE, mesmo com o impacto positivo que teve no nosso país nas últimas décadas, é de 1% do PIB, mas o orçamento da Reserva Federal anda à volta dos 20 e tal por cento. Não peço tanto, mas peço um orçamento europeu com impostos europeus e uma harmonização fiscal europeia e programas de protecção social que se adaptem aos diferentes países. Ter um salário mínimo europeu não significa um salário mínimo para todos os países, mas ter uma regra de 60% do salário médio de cada país. Isso iria corrigir desequilíbrios externos que verificámos na última década. Portugal tem um endividamento público parecido com o de França e inferior ao de Itália e esses países não sofrem ataques especulativos dos mercados financeiros. Depois há a saída por baixo, que é a saída do euro.

Mas sair do euro teria custos...

Sim, principalmente se a saída fosse feita de forma desorganizada. Mas se isto continuar assim, seremos forçados a sair do euro.

De entrevista a Nuno Teles

TOUPEIRA

Divulgue o seu blog!