quarta-feira, dezembro 28, 2011

O engarrafamento

"A grande ideóloga do liberalismo moderno americano, Ayn Rand, não acreditava no engarrafamento de ideias. Para ela, na sua cruzada pelo individualismo puro, "as contradições não existem. Sempre que achemos que estamos defronte duma contradição, verifiquemos as premissas. Descobriremos que uma delas está errada".

O legado da autora de "Atlas Shrugged" (lamentavelmente por traduzir em Portugal) é contundente nos dias de hoje. Olhe-se, por exemplo, para aquilo que, bondosamente, chamamos de política de transportes e mobilidade do Governo. Há alguns anos que se procura afastar o transporte particular do centro de Lisboa. Para isso apostou-se em transportes públicos mais úteis, a começar pelo metropolitano.

Agora fala-se mesmo em taxar quem quiser entrar na capital, enquanto a pretexto do défice das empresas de transportes públicos, se vai aumentando sucessivamente, em doses absurdas, os preços de bilhetes e passes. Que magia negra é esta? Quer-se que os cidadãos venham para a cidade com os seus carros ou quer-se que eles usem transportes públicos? Ou, simplesmente, tudo não passa de uma campanha ecológica para obrigar os portugueses a andar a pé? No resto do país a contradição também se baseia numa falsa premissa. A mobilidade, diz-se, é importante para a economia. Taxando tudo o que é auto-estradas (política estrutural desde Cavaco Silva) ou SCUT (quem é que inventou o hilariante termo?), os cidadãos têm de ir para as estradas nacionais, muitas caminhos de cabras. As Scut perderam 40% do tráfego. Resultado: a mobilidade, crucial para uma economia fluida, é um engarrafamento
."

Fernando Sobral

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