domingo, janeiro 08, 2012

Curai-vos, Europa

"Os responsáveis políticos gostam de referir a solidez da Zona Euro: relativamente aos Estados Unidos da América (EUA), tem um défice orçamental mais baixo (4% do PIB, comparado com quase 10% para os EUA). Além disso, ao contrário dos EUA, a Zona Euro não tem um défice externo, o que significa que a união monetária detém poupanças suficientes para financiar os défices orçamentais de todos os seus membros e resolver os seus problemas.

Mas, apesar desta robustez relativa, os líderes da União Europeia parecem incapazes de resolver a crise orçamental da Zona Euro. Apesar das sucessivas reuniões, os chefes de Estado e ministros das Finanças falharam em transmitir segurança aos mercados. Agora, os responsáveis políticos estão a apelar por ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos investidores asiáticos.

Este apelo de ajuda externa é indevidamente direccionado, dados os motivos porque a crise do euro tem ido de mal a pior, apesar dos abundantes recursos da União Europeia. O verdadeiro problema é a distribuição de poupanças dentro da Zona Euro. Os países a norte dos Alpes têm poupanças a mais e não querem financiar os países europeus endividados como Itália, Espanha e Grécia.

Foi por isso que o prémio de risco da dívida italiana e de outros países do sul da Europa subiu, a certa altura, para 5% e porque, ao mesmo tempo, o Governo alemão conseguiu emitir dívida de curto prazo a taxas de juro reais negativas. A relutância dos países do norte da Europa em investir nos seus vizinhos do sul é o problema por detrás do problema.

O Governo alemão poderia alterar isto, se estivesse disposto a garantir toda a dívida italiana, espanhola e outra dívida pública da Zona Euro. Mas é compreensivelmente difícil fazê-lo, considerando o elevado risco envolvido.

O Banco Central Europeu (BCE) também podia ajudar a resolver o problema se concordasse em comprar a dívida que tem sido emitida pelos mercados financeiros. Mas, tal como a Alemanha, o BCE tem uma compreensível falta de entusiasmo por esta solução.

Por isso, o desequilíbrio contínua e a crise piora. Os principais bancos centrais concordaram, recentemente, em aumentar a disponibilidade de liquidez em dólares, sobretudo para os bancos europeus. Isto abrandou a crise de liquidez no imediato, mas o problema fundamental da dívida permanece porque o Governo italiano não se pode financiar a taxas de juro razoáveis.

Como os ministros das finanças não conseguem acordar uma solução interna, a sua última ideia foi chamar o FMI a financiar um pacote de apoio de dimensão extraordinária para a Itália. Mas isto pode ser um raciocínio demasiado optimista. Porque haverão os membros não europeus do FMI de concordar em financiar um programa de apoio para um membro do G7 e da Zona Euro que não tem problemas da balança de pagamentos?

Há um mês, os chefes de Estado da Zona Euro encontraram mais uma forma de apelar a fundos estrangeiros: o Fundo Europeu de Estabilidade financeira (FEEF) poderia juntar dívida da região e vendê-la a investidores tais como o banco central da China e outros da Ásia.

Aqui põe-se a mesma questão: porque haverá a China de comprar dívida italiana quando a Alemanha a evita? Mesmo que a China concordasse em comprar a dívida, iria considerar a compra de algum do papel comercial que o FEEF pondera vender, apenas, se obtivesse alguma concessão política e garantias implícitas da Alemanha.

Mas não faz sentido que a Alemanha pague um preço político por fazer uma coisa – garantir a dívida de outros países – que se tem rejeitado reiteradamente a fazer. As concessões políticas que a China provavelmente exigiria – por exemplo, o reconhecimento pela União Europeia (UE) de que é uma economia de mercado, ou uma voz mais forte dentro do FMI – podem ser sobrevalorizadas. Contudo, estas questões não devem estar relacionadas com a capacidade da Zona Euro em resolver os seus próprios problemas.

Os responsáveis políticos não podem exportar os problemas da Zona Euro. Os europeus podem e devem lidar com esta crise por si próprios.

Uma opção que tem sido discutida recentemente é um fundo especial, financiado pelos principais bancos centrais nacionais da Europa e posto à disposição do FMI para ajudar a Espanha e a Itália. Isto permitiria utilizar os recursos do BCE sem uma violação formal do Tratado de Lisboa, que proíbe o financiamento directo dos governos pelo banco central.

Este plano teria a vantagem de forçar a Zona Euro a depender dos seus próprios recursos. Mas isso iria expor também a fragilidade política da Europa e a sua falta de coerência. Em boa verdade, se se confirmar que o FMI é necessário para permitir ao BCE fornecer liquidez a países como Itália e Espanha, o resto do mundo poderá perguntar porque é que Europa não é mais cândida acerca do real papel do BCE nesta crise. Boa pergunta.
"

Daniel Gros

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