quarta-feira, janeiro 11, 2012

O declínio e a queda do euro

"Os grandes impérios raramente sucumbem a ataques externos. No entanto, frequentemente desintegram-se devido ao peso das dissidências internas. Esta vulnerabilidade parece aplicar-se também à Zona Euro.

Os principais indicadores macroeconómicos não sugerem nenhum problema para a Zona Euro, como um todo. Até pelo contrário, já que a região tem uma conta corrente equilibrada, o que significa que tem recursos suficientes para resolver os seus próprios problemas de financiamento público. Aliás, neste aspecto, a Zona Euro destaca-se positivamente quando comparada com outras grandes potências cambiais, tais como os Estados Unidos da América ou, mais próximo, o Reino Unido, que têm défices externos e que, por isso, dependem de entradas continuadas de capital.

Da mesma forma, em termos de política orçamental, a média da Zona Euro é comparavelmente forte. Tem um défice orçamental bastante mais baixo do que os EUA (4% do PIB para a Zona Euro, que compara com quase 10% do PIB norte-americano).

A depreciação da moeda é outro sinal da fraqueza que costuma anteceder o declínio e a queda. Mas, novamente, este não é o caso da Zona Euro, onde a taxa de inflação continua reduzida – e abaixo da inflação nos EUA e no Reino Unido. Além do mais, não há nenhum perigo significativo de uma subida da inflação. Os pedidos para aumentos salariais continuam tímidos e o Banco Central Europeu (BCE) irá enfrentar uma baixa pressão para financiar os défices, dado que estão em níveis reduzidos e estima-se que venham a desaparecer nos próximos anos. O refinanciamento da dívida soberana não é inflacionário, pois não cria novo poder de compra. O BCE é apenas uma "contraparte central" entre os aforradores alemães adversos ao risco e o governo italiano.

Muito se tem escrito sobre o lento crescimento da Europa, mas os registos não são, na realidade, assim tão maus. Na última década, o crescimento per capita nos EUA e na Zona Euro foi quase exactamente o mesmo.

Dada esta força relativa dos fundamentais da Zona Euro, é demasiado cedo para eliminar o euro. Mas a crise tem ido de mal a pior, pois os políticos europeus parecem indubitavelmente capazes de tornar toda a situação numa enorme confusão.

O problema é a distribuição interna das poupanças e dos investimentos financeiros: embora a Zona Euro tenha poupanças suficientes para financiar todos os défices, alguns países enfrentam problemas porque as poupanças deixaram de atravessar fronteiras. Há um excesso de poupanças a norte dos Alpes. Mas os aforradores do norte europeu não querem financiar as nações do sul, como Itália, Espanha e Grécia.

É por isso que os prémios de risco da dívida italiana e de outros países do sul da Europa permanecem entre 450 e 500 pontos base e é por isso que, ao mesmo tempo, o Governo alemão consegue leiloar títulos de dívida a curto prazo a taxas próximas de zero. A relutância dos aforradores do norte europeu em investir na periferia do euro é a raiz do problema.

Portanto, esta "greve dos investidores" do norte europeu vai acabar?

A posição da Alemanha parece ser a de que os mercados vão financiar a Itália a taxas aceitáveis se, e quando, as políticas forem credíveis. Se os custos de financiamento de Itália continuarem teimosamente elevados, a única solução é esforçar-se mais.

Já a posição de Itália pode caracterizar-se da seguinte forma: "Estamos a esforçarmo-nos o máximo que é humanamente possível para eliminar o nosso défice, mas temos um problema de refinanciamento da dívida".

Claro que o governo alemão pode resolver o problema se estiver disposto a garantir toda a dívida italiana, espanhola, entre outras. Mas, compreensivelmente, o governo germânico está relutante em assumir um risco tão grande – embora esteja também a assumir um grande risco ao não garantir a dívida soberana dos países do sul europeu.

O BCE também pode resolver o problema ao actuar como credor de último recurso para toda a dívida evitada pelos mercados financeiros. Mas, também neste caso, está compreensivelmente relutante em assumir o risco – e é este impasse que tem enervado os mercados e que coloca em perigo a vitalidade do euro.

Gerir o excesso de dívida sempre foi um dos mais duros desafios para os políticos. Na antiguidade, os conflitos entre credores e devedores tornavam-se, muitas vezes, violentos, dado que a alternativa ao serviço da dívida era a escravidão. Na Europa da actualidade, o conflito entre credores e devedores assume uma forma mais civilizada, que apenas se revela nas resoluções do Conselho Europeu e nos debates internos do BCE.

Mas o conflito continua a não ter solução. Se, na sua sequência, o euro cair, não vai ser porque era impossível alcançar uma solução, mas sim porque os políticos não fizeram tudo o que era necessário.

A sobrevivência a longo prazo do euro exige uma combinação correcta do ajustamento por parte dos devedores, perdão da dívida quando esse ajustamento já não for suficiente e a possibilidade de financiamento transitório para convencer os nervosos mercados financeiros de que os devedores terão o tempo necessário para que o ajustamento resulte. Os recursos estão lá. A Europa precisa da vontade política para os utilizar
."

Daniel Gros

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