terça-feira, abril 17, 2012

Cinco factos antidepressivos

"São factos que não garantem amanhãs que cantam. Mas revelam que nem tudo corre mal na actual conjuntura. Eis cinco casos em que se pode ver o copo meio cheio e não meio vazio:
1. O Estado tem conseguido financiar-se no mercado através de emissões de dívida pública. O financiamento, costuma argumentar-se, tem sido conseguido graças ao BCE: os bancos portugueses compram Bilhetes do Tesouro que depois usam para ir buscar dinheiro a 1% ao BCE. Sim, pode ser uma realidade. Mas porque não faz a Irlanda o mesmo? De acordo com o Memorando de Entendimento irlandês relativo à quinta avaliação, publicado em Março, o governo de Dublin conseguiu ir buscar ao mercado 1,3 mil milhões de euros em 2011, o que é praticamente nada. Em contrapartida, o governo de Lisboa obteve nos mercados 29 mil milhões de euros. Mesmo considerando que o país ainda não tinha pedido o empréstimo externo no primeiro trimestre, o valor é elevado quando se compara com a Irlanda.
2. As privatizações têm, até agora, evoluído melhor do que se esperava. E melhor do que na Irlanda. Olhando para o mesmo quadro divulgado em cada avaliação, pelo FMI, entraram nos cofres do Estado português 600 milhões de euros em 2011 por via da venda de participações do Estado - que correspondem basicamente a parte do pagamento da venda da posição na EDP. A Irlanda não tem qualquer receita registada de privatizações.
3. Os depósitos bancários têm aumentado, contrariando todas as expectativas e não se verificando o mesmo na Irlanda. A própria situação da banca, avaliada pela relação entre crédito e depósitos, revela que a posição do sistema financeiro português é bastante mais confortável. O ano de 2011 terminou com o crédito a representar 140,8% dos depósitos em Portugal e 209% na Irlanda.
4. A banca portuguesa e os seus accionistas estão a revelar-se mais sólidos do que o esperado pela troika. O Banco Espírito Santo vai fazer um aumento de capital sem recurso ao empréstimo internacional, ou seja, sem usar o dinheiro dos contribuintes. É verdade que ainda não sabemos exactamente o que se vai passar com os outros bancos e existem ainda pressões, por via do crédito malparado, que recomendam prudência nas previsões. Mas, até agora, nesta frente financeira, a situação tem ultrapassado as perspectivas pela positiva.
5. O desemprego aumentou muito. Foi a surpresa negativa do processo de reequilibro da economia portuguesa e, a este nível, o problema é tão grave como na Irlanda. Mas até neste domínio há razões que permitem não ver o copo totalmente vazio: a redução dos salários em alguns sectores impediu subidas ainda mais significativas do desemprego."
Helena Garrido

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