Cinco factos antidepressivos
"São factos que não garantem amanhãs que cantam. Mas revelam que nem tudo corre mal na actual conjuntura. Eis cinco casos em que se pode ver o copo meio cheio e não meio vazio:
1. O Estado tem conseguido financiar-se no mercado através de emissões de dívida pública. O financiamento, costuma argumentar-se, tem sido conseguido graças ao BCE: os bancos portugueses compram Bilhetes do Tesouro que depois usam para ir buscar dinheiro a 1% ao BCE. Sim, pode ser uma realidade. Mas porque não faz a Irlanda o mesmo? De acordo com o Memorando de Entendimento irlandês relativo à quinta avaliação, publicado em Março, o governo de Dublin conseguiu ir buscar ao mercado 1,3 mil milhões de euros em 2011, o que é praticamente nada. Em contrapartida, o governo de Lisboa obteve nos mercados 29 mil milhões de euros. Mesmo considerando que o país ainda não tinha pedido o empréstimo externo no primeiro trimestre, o valor é elevado quando se compara com a Irlanda.
2. As privatizações têm, até agora, evoluído melhor do que se esperava. E melhor do que na Irlanda. Olhando para o mesmo quadro divulgado em cada avaliação, pelo FMI, entraram nos cofres do Estado português 600 milhões de euros em 2011 por via da venda de participações do Estado - que correspondem basicamente a parte do pagamento da venda da posição na EDP. A Irlanda não tem qualquer receita registada de privatizações.
3. Os depósitos bancários têm aumentado, contrariando todas as expectativas e não se verificando o mesmo na Irlanda. A própria situação da banca, avaliada pela relação entre crédito e depósitos, revela que a posição do sistema financeiro português é bastante mais confortável. O ano de 2011 terminou com o crédito a representar 140,8% dos depósitos em Portugal e 209% na Irlanda.
4. A banca portuguesa e os seus accionistas estão a revelar-se mais sólidos do que o esperado pela troika. O Banco Espírito Santo vai fazer um aumento de capital sem recurso ao empréstimo internacional, ou seja, sem usar o dinheiro dos contribuintes. É verdade que ainda não sabemos exactamente o que se vai passar com os outros bancos e existem ainda pressões, por via do crédito malparado, que recomendam prudência nas previsões. Mas, até agora, nesta frente financeira, a situação tem ultrapassado as perspectivas pela positiva.
5. O desemprego aumentou muito. Foi a surpresa negativa do processo de reequilibro da economia portuguesa e, a este nível, o problema é tão grave como na Irlanda. Mas até neste domínio há razões que permitem não ver o copo totalmente vazio: a redução dos salários em alguns sectores impediu subidas ainda mais significativas do desemprego."
Helena Garrido
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