segunda-feira, outubro 29, 2012

Onde está a pessoa certa?

"Os sacrifícios extraordinários que exigiram aos portugueses afinal, vão ser super-hiper-mega extraordinários, porque se irão prolongar no tempo.

1. A sobretaxa extraordinária de 4% que se vai aplicar no IRS de 2013, afinal, não é extraordinária, porque irá permanecer em 2014. O imposto extraordinário que os portugueses pagaram o ano passado foi, entretanto, substituído por outras medidas extraordinárias de captação da receita. Os sacrifícios extraordinários que exigiram aos portugueses afinal, vão ser super-hiper-mega extraordinários, porque se irão prolongar no tempo. O que é suposto alegrar todos os cidadãos porque, como maviosamente proclamou Vítor Gaspar, "os portugueses são o melhor povo do mundo". E por serem os melhores do mundo têm direito a coisas extraordinárias. Faz sentido.

Já o FMI, olhando para Portugal, teme uma "recessão prolongada", pede medidas para o crescimento e para o emprego e vê "sinais abundantes de fadiga", sendo fadiga um redondo vocábulo que indicia riscos de implosão social.

2. Chegados aqui, há quem proclame que não há outro caminho e, ao mesmo tempo, exija alternativas a quem critica, numa clara distorção de competências. Quem foi eleito, para governar ou fazer oposição, tem esse mandato. Quem está de fora, a observar, pode pura e simplesmente criticar porque isso é legítimo em democracia e faz parte integrante dos direitos de cidadania. Ainda assim, parece consensual concluir que só um Governo formado pelos partidos do chamado arco do poder, PSD, PS e CDS, pode fazer as tais reformas estruturais, sem as quais o País não tem futuro. Ora, este quadro parece impossível de concretizar, porque o PS quer que o PSD se estampe sozinho, da mesma forma que os sociais-democratas desejavam o mesmo quando os socialistas estavam no Governo. Dito de outra forma – qualquer deles coloca os interesses partidários à frente dos nacionais, mesmo que para isso tenham que sacrificar o País e quem vota neles.

3. Neste contexto, existe um "pormaior" que as máquinas partidárias estão a desvalorizar. O cansaço, a desesperança e a raiva dos portugueses podem ser os catalisadores para uma mudança radical no actual espectro político. Essa possibilidade foi referida por Miguel Real, numa entrevista a Filipe Pacheco publicada no WEEKend do Negócios de 4 de Outubro. "Estou convencido que vão aparecer alternativas" aos actuais partidos disse o ensaísta e escritor. "Não antevejo grande futuro para o PS e o PSD num horizonte de 10, 15, 20 anos. (...) Os dois partidos poderão passar a ser residuais", acrescentou. Duas semanas depois, a 19 de Outubro, também no WEEKend, Ângela Crespo, a psicóloga que saiu do anonimato com uma carta de protesto, na sequência do anúncio da TSU e que começava com um vernáculo "vão-se foder", afinava pelo mesmo tom. Questionada por Anabela Mota Ribeiro sobre o porquê dos portugueses escolherem as pessoas erradas, ela contrapôs: "não sei se alguma vez nos deram a possibilidade de escolher a pessoa certa". Será que os actuais partidos ainda vão a tempo de arrepiar caminho? "

Celso  Filipe

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