sábado, outubro 27, 2012

Já leram o memorando da troika?

"Sim, é a minha pergunta de hoje: já leram o memorando de entendimento com a troika, assinado por Portugal em Maio de 2011? Eu li, e em pé de página deixo o link para quem o quiser consultar, na sua tradução oficial. São 35 páginas, escritas num português desagradável e tecnocrático, que têm servido a este governo para justificar tudo. Ainda ontem, com descaramento, um dirigente do PSD dizia que "este não era o Orçamento do PSD, mas sim da troika"! Ai sim? Então eu proponho a todos um breve exercício de leitura. Tentem descobrir, lendo o memorando, onde é que lá estão escritas as 4 medidas fundamentais pelas quais este governo vai entrar para história de Portugal!

Sim, tentem descobrir onde é que lá está escrito que se deve lançar uma sobretaxa no subsídio de Natal de todos os portugueses (decidida e executada em 2011); cortar os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decidido e executado em 2012); alterar as contribuições para a TSU (anunciada e depois retirada em Setembro); ou mexer nas taxas e nos escalões do IRS, incluindo nova sobretaxa (anunciados no Orçamento para 2013), e definidos pelo próprio ministro das Finanças como "um aumento enorme de impostos"? Sim, tentem descobrir onde estão escritas estas 4 nefastas medidas e verão que não estão lá, em lado nenhum. Ao contrário do que este Governo proclama, estas 4 medidas, as mais graves que o Governo tomou, não estão escritas no "memorando com a troika"! Portugal nunca se comprometeu com os seus credores a tomar estas 4 medidas!

Elas foram, única e exclusivamente, "iniciativas" do Governo de Passos Coelho, que julgava atingir com elas certos objectivos, esses sim acordados com a "troika". Porém, com as suas disparatadas soluções em 2011 e 2012, o Governo em vez de melhorar a situação piorou-a. Além de subir o IVA para vários sectores chave, ao lançar a sobretaxa e ao retirar os subsídios, o Governo expandiu a crise económica, e acabou com menos receita fiscal e um deficit maior do que tinha. Isto foi pura incompetência, e não o corolário de um "memorando de entendimento" onde não havia uma única linha que impusesse estes caminhos específicos! Mais grave ainda, o Governo de Passos e Gaspar, sem querer admitir a sua incúria, quer agora obrigar o país a engolir goela abaixo "um enorme aumento de impostos", dizendo que ele foi imposto pela "troika". Importa-se de repetir, senhor Gaspar?

 É capaz de me dizer onde é que está escrito no "memorando de entendimento" que em 2013 o IRS tem de subir 30 por cento, em média, para pagar a sua inépcia e a sua incompetência? Era bom que os portugueses aprendessem a não se deixar manipular desta forma primária. Foram as decisões erradas deste Governo que, por mais bem intencionadas que fossem, cavaram ainda mais o buraco onde já estávamos metidos. E estes senhores agora, para 2013, ainda querem cavar mais fundo o buraco, tentando de caminho deitar as culpas para a "troika"? Só me lembro da célebre frase de Luís Filipe Scolari: "e o burro sou eu?"

Para ler o memorando vá aqui"

Domingos Amaral

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Por momentânea falta de tempo não cheguei a ler todo o memorando, mas basta o que dele conheço para ter uma ideia sobre o conjunto.

O Passos Coelho, a meu ver, cometeu um erro grave, logo no início: apòs ter ganho as eleições (com os mesmos 38% com que o Ferro Rodrigues as perdeu em 2002), deveria ter convidado o PS para constituir um governo de Bloco Central e, assim, amarrá-lo ao que tinha assinado. Com a solução por que optou, não só "ganhou" um parceiro pouco fiável (o Paulinho das feiras não é flôr que se cheire) como, ainda por cima, empurrou o PS do Seguro para o incumprimento, esquecendo o que tinham feito, e invocando para isso todos os argumentos possíveis e imaginários, desde "não fui eu que assinei, foi aquele senhor que está a morar em Paris" até à vitória do Hollande nas presidenciais francesas. Outro erro grave foi a postura assumida, de ultrapassar as exigências da "troika" - o que, aliàs, não é verdade - quando teria sido prudente uma pose modesta e contrita, do género "estamos a fazer isto porque não temos outro remédio, senão aqueles senhores não nos mandam o caroço". Ainda por cima, corresponderia à realidade. Finalmente, outro erro -não dele, mas dos interlocutores do PSD e do CDS nas conversas com a "troika"- foi esta não ter imposto a alteração constitucional de substituir a obrigatoriedade de justa causa nos despedimentos por "justa causa ou motivo atendível" - que era, aliàs, o que vigorou em 1974 e grande parte de 75, quando os Ministros do Trabalho eram comunistas( o do 1º G.P.) ou filo-comunistas (do 2º ao 5º G.P.).

Muito obrigado pelo link do texto. É a verdade, pura e simples.
O Sócrates revelou-se um inconsciente e um malfeitor, que vendeu a ideia que se podiam espalhar benesses sem que a comunidade tivesse que suportar o respectivo custo. Infelizmente não é caso único, longe disso. Os exemplos mais flagrantes que me vêm à ideia são a Madeira do Alberto João e a Câmara Municipal de Portimão do PS; ambas têm sido geridas há 30 e tal anos pelos mesmos partidos e clientelas. O eleitorado português, pouco sofisticado, gosta destes impostores...
I.A.

domingo, outubro 28, 2012  
Anonymous Anónimo said...

Ainda bem que se lembra da célebre frase de Scolari:
- E o burro sou eu?????

Repita-a mais vezes e se possível ao espelho

I.A.

domingo, outubro 28, 2012  

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