terça-feira, janeiro 29, 2013

Sequestrados

"O custo da gasolina e do gasóleo disparou nos últimos anos. Por um lado, o preço das matérias-primas experimentou uma tendência generalizada de subida. E, por outro, o estado português persiste numa política fiscal de verdadeiro confisco aos automobilistas. Ainda hoje, cerca de 50% do preço dos combustíveis são impostos, com especial relevância para o imposto sobre produtos petrolíferos e o IVA. Temos assim dos combustíveis mais caros da Europa, num dos países onde os salários são mais baixos.
"O aumento do preço dos combustíveis e a introdução de portagens nas ex-SCUT, a par do acréscimo de custos nos transportes públicos, vieram comprimir completamente a mobilidade dos portugueses.

Ao mesmo tempo, nos últimos três anos, assistimos ao fenómeno de introdução de portagens em todas as vias que fazem a ligação às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também no Interior. Os viseenses que trabalham em Lisboa deixaram de ir a casa aos fins de semana, os portuenses já não vão almoçar ao Alto Minho ao domingo. Os custos tornaram-se proibitivos, os preços dos combustíveis e das portagens representam as grilhetas que nos reduzem a liberdade de circulação. Com estas restrições, em tempo de crise e de redução de salários, a solução é ter os carros na garagem, para quem a tem, ou na rua, se não houver parcómetros. Paradoxalmente, também os transportes públicos têm vindo a aumentar muito em preço.

A supressão dos descontos generalizados nos passes de terceira idade fez com que muitos utentes deixassem de adquirir o título de transporte mensal. Os idosos ficam confinados ao espaço das suas residências. Perdem liberdade de movimentos, aumenta a sua solidão, cresce o número de depressões. Com os carros imobilizados e os transportes inacessíveis, a maioria dos portugueses já só efetua as deslocações estritamente necessárias, para o trabalho. Vencer distâncias entre as localidades torna-se mais difícil. Os passeios de fim de semana foram eliminados, as visitas à família são agora raras, provocando a quebra de laços parentais. Os amigos já nem se encontram.

A vivência coletiva está acabrunhada. As pessoas estão mais distantes, estão confinadas ao seu espaço do quotidiano. Estão sequestradas."

Paulo Morais

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