Pessimistas falharam ao decretar a morte do euro
"A crise do euro parece estar ultrapassada e os anglo-saxónicos foram os que ficaram pior na fotografia. 2012 foi o ano da catástrofe iminente. Britânicos e americanos foram os mais fiéis representantes da corrente pessimista, mas, no final, a morte anunciada do euro não passou de um exagero.
O eurófilo mais fervoroso diria que os governos europeus passaram nos testes económicos mais exigentes. O continente continua a debater-se com um crescimento fraco, desemprego crónico e níveis altíssimos de dívida pública. Os bancos estão longe de ter recuperado e é sabido que ainda temos muitas batalhas políticas pela frente. A boa notícia é que os ministros das Finanças já não passam o tempo a ver os ‘spreads' da dívida pública. Além disso, o financiamento privado está novamente a fluir para a periferia.
Importa perceber por que razão os pessimistas falharam ao condenar o euro à morte. Primeiro erro, e o mais óbvio, foi terem subestimado a vontade política dos líderes europeus em proteger a moeda única. Dizia-se que os estados periféricos não seriam capazes de levar por diante - e de manter - medidas de austeridade brutais, que os protestos alastrariam de Atenas a Roma, Madrid e Lisboa, e que a Alemanha carecia de apoio político interno para resgatar os devedores.
Este argumento tem alguma razão de ser. A Grécia, em particular, deu por diversas vezes a impressão de estar prestes a sair da união monetária. Espanha tinha diante de si a missão impossível de restaurar um sistema financeiro mutilado. A falta de competitividade das economias periféricas era absolutamente exasperante e a opinião pública alemã mostrava-se hostil ao resgate daquelas.
A maior parte das análises britânicas e de algumas americanas não percebeu nem reflectiu a renovada força política do projecto europeu. É verdade que os esforços levados a cabo para proteger o euro foram tudo menos elegantes. As hesitações constantes reduziram a sua eficácia e fizeram disparar os custos. Porém, por trás da austeridade, dos resgates e dos novos mecanismos de financiamento havia uma determinação firme.
No Reino Unido, muitos olham para a União Europeia (UE) e vêem apenas um mercado único. Os restantes, porém, vêem nele um projecto político: o garante da reconciliação franco-alemã, da liberdade em Estados que derrubaram ditaduras e de uma voz europeia num mundo em que o poder está cada vez mais a Oriente.
O ponto de viragem ocorreu quando a chanceler alemã, Angela Merkel, concluiu que o colapso da zona euro poderia levar à desagregação da UE. Se isso acontecesse, a segurança e prosperidade alemãs ficariam comprometidas. É espantoso como o discurso nacional mudou no espaço de meses, sendo a tónica colocada na salvaguarda dos interesses alemães. Merkel passou a encarar a saída da Grécia como demasiado perigosa e decidiu apoiar o Banco Central Europeu (BCE) contra a posição do Bundesbank. Mario Draghi, presidente do BCE, teve luz verde para avançar com garantias às obrigações dos estados periféricos e os mercados ficaram do lado errado de uma luta impossível de vencer.
Outro dos erros cometidos foi conceptual, produto de teorias económicas contraproducentes e de cabeças demasiado arrumadas. Os pessimistas diziam que a zona euro ou evoluía para uma união económica e política - os estados unidos da Europa - ou estava condenada a desaparecer. Como nem a Alemanha nem a França nem os restantes estados membros estavam dispostos a abandonar a sua identidade nacional, rapidamente concluíram que o euro não tinha futuro.
Aparentemente, a zona euro irá evoluir para uma união económica mais coesa, mas fragilizada pela ausência de um modelo federal. O destino da Europa talvez resida numa "versão híbrida e de geometria variável entre uma solução federal e uma solução intergovernamental", como referiu recentemente a directora-adjunta do FMI, Nemat Shafik. Ninguém pode garantir que o euro sobreviva ad aeternum. A História ensinou-nos que as uniões monetárias entram muitas vezes em ruptura, mas pelo menos agora sabemos que os políticos europeus não vão desistir facilmente"
Philip Stephens
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