quarta-feira, janeiro 14, 2004

Sonata em dó maior.





A conferência internacional sobre «a procura da verdade nos casos de abuso sexual», que tinha por objectivo um debate sério sobre questões relacionadas com as denúncias e investigações dos casos de abuso sexual, revelou-se um verdadeiro exercício de mediocridade ao receitar "atestados de burrice" à assistência.

O psiquiatra Pio Abreu abriu as hostilidades afirmando que «A auto-estima de uma pessoa melhora se for violada por uma pessoa famosa».

Ao ouvir semelhante alarvidade, uma juíza que estava entre a assistência da conferência, não se conteve e afirmou "Temos de falar nas mentiras dos agressores, onde não temos posto a tónica, porque os agressores têm mais razões para mentir e mentem mais"

Já Elizabeth Loftus sugeriu que as alegadas vítimas do processo Casa Pia “podem estar a ser manipuladas pelos investigadores e terapeutas”. Apesar de não ter treino clínico ou experiência em psicologia infantil, traumas, processos de memória traumática ou abuso sexual de crianças – é mesmo considerada por outros profissionais da área, entre eles a também norte-americana Anne C. Salter, como inimiga das vítimas da pedofilia – e de reconhecer que não conhece o processo da Casa Pia, Elizabeth Loftus fez algumas referências ao caso.

A vinda ao nosso país desta psicóloga está directamente relacionada com o processo Casa Pia, tendo a própria dito publicamente que foi convidada pela defesa de um dos arguidos no processo, para dar apoio técnico e prestar depoimento com perita em tribunal.

Não se sabe bem do que a senhora é perita, visto ela não ter experiência na área de psicologia infantil e já ter sido alvo de várias queixas em tribunal, as quais perdeu todas, por "analisar" mal os casos em que se envolve, nomeadamente os que têm que ver com abuso sexual de crianças.

Com alguma credibilidade ( muito pouca ) esteve o professor da Universidade de Santiago de Compostela Concheiro Carro, ao afirmar que os abusos sexuais praticados há algum tempo são difíceis de provar, porque depois de 72 horas as provas vão-se diluindo.

«O diagnóstico em fase aguda é mais fácil do que quando os actos forem praticados há algum tempo, mesmo mantendo relações anais com alguma frequência», disse.
Nas análises forenses é fundamental a rapidez, porque as agressões traumáticas podem estar curadas e as amostras biológicas (sangue, sémen ou saliva) podem ter desaparecido, sustentou.

Também a datação é muito difícil, já que quando a cicatriz atinge a formação final não se pode dizer se foi há um, dois ou três meses, muito menos quando se trata de anos passados.
«Tudo o que seja datar é absolutamente imprudente, e atribuir o abuso sexual a um determinado agressor é um erro ainda mais grave»,

Perante tão profunda manifestação de delírio intelectual tendencioso, Raquel Cruz que assistia na plateia, deve ter ficado mais descansada.

No fim, a sensação de tempo perdido e engano, devido à desonestidade oratória tendenciosa patente, dominava a assistência.

Assim pergunta-se:

1/ como pode alguém melhorar a sua auto-estima por ser violado por uma pessoa famosa?

2/ Como pode alguém que não conhece o processo, não ter treino clínico ou experiência em psicologia infantil, traumas, processos de memória traumática ou abuso sexual de crianças e convidada pela acusação, dar uma conferência sobre essa matéria?

Então tendo em conta que é tida pelos especialistas dessa área como inimiga das vítimas da pedofilia, ainda mais incrível se torna.

3/ Se “atribuir o abuso sexual a um determinado agressor é um erro ainda mais grave”, o que fazer? Atribuir a vários ou desistir de acusar o violador?

Uma coisa a conferência teve de boa. Vem revelar o estilo que a defesa vai seguir no processo.

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