sábado, janeiro 10, 2004

Acima da lei?






O director do diário “24 Horas”, Pedro Tadeu, escreveu na sua coluna o artigo que não resistimos a reproduzir e comentar:

“DISPARATE

Os jornalistas fazem sempre tudo para ludibriar qualquer forma de censura ou limitação ao seu trabalho. Isto é historicamente claríssimo. Se os políticos fizerem uma lei de restrição à liberdade de imprensa, essa será mais uma lei sem aplicação prática.

É verdade que os políticos podem passar a considerar todos os jornalistas como bandidos e pôr-nos a todos na cadeia. Mas como também precisam dos jornalistas, não o vão querer fazer.

Por isso cairão, simplesmente, no ridículo”.

Comentários:

I

Pois é. O Sr. jornalista, com uma distinta lata, afirma que a sua classe está acima da lei. E como tal, tem legitimidade para a violar. Estranha democracia a destes senhores.

Acontece que, neste momento, o jornalismo não é isento. Para o vulgar cidadão que “come” tudo o que lhe põe à frente, lá vai funcionando. Ou melhor, funcionava.

E digo funcionava, porque até mesmo esse vulgar cidadão já percebeu o ridículo banal em que o jornalismo caiu actualmente, com revelações de sinais nos membros sexuais dos arguidos ou falsas notícias como a do Independente “alunos com mau vão ser procuradores”, esquecendo a história do sósia de Carlos Cruz.

II

Infelizmente os nossos jornalistas julgam-se os maiores do mundo. Veja-se o caso do Iraque. Foi preciso as nossas super-estrelas aparecerem para serem logo notícia no mundo pela negativa. Então vão entrar no Iraque, num país que está a ferro e fogo, sem escolta?

Meus senhores. Eles nem sabem o que andam a fazer.

Vem-me à memória uma entrevista feita à inauguração do Metro do Porto:

Jornalista – Já tinha andado de Metro?

Entrevistado –Já, em Lisboa.

J - E aqui no Porto?

E – Não porque o metro só vai ser inaugurado hoje!!!!!

É esta falta de qualidade que está a matar o jornalismo.

III

De facto, não é possível negar a existência de “agentes” que precisam dos jornalistas. Disso não há dúvidas. Veja-se o caso de Raquel Cruz no “24 Horas”.

Mas os jornalistas também precisam dos “agentes”. São os casos em que os clubes de futebol cortam relações com os jornalistas. E sem relações com as fontes da notícias, não há audiências e vendas.

Mais. Dizer que as notícias, em segredo de justiça, são publicadas porque alguém as dá aos jornalistas, violando a lei, é uma falsa questão.

E é uma falsa questão porque as notícias são dadas aos jornalistas na condição de os informadores receberem algo em troca e, ao serem publicadas nos jornais, também violam a lei.

É como alguém encontrar um carro de porta aberta, com uma ligação directa feita, entrar e fugir com ele, vir depois dizer que não fez nada de mal, porque o carro, naquele estado, estava mesmo a convidar ser roubado.

Pergunta-se:

1/ alguém acredita que, se não dessem nada em troca, os jornalistas teriam acesso a essas informações?

2/ devem os jornalistas, refugiando-se na liberdade de informação e direito a informar, continuar a violar a lei, chegando mesmo a publicar falsas notícias?

3/ não está na altura de travar o mau “jornalismo” que em nada dignifica a democracia e o próprio país?

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