quinta-feira, agosto 05, 2004

Em 12 anos...

"Portugal 1992. Já brilham no alto das Amoreiras as novas torres do maior e mais imponente centro comercial do país, mas nas esquinas dos quarteirões urbanos ainda dominam as mercearias. O sistema de comunicações, quando se está fora de casa ou do escritório, implica uma correria entre cabinas telefónicas. Para a maioria dos Portugueses com apetência por turismo viajar é uma quinzena no Algarve ou uma ida a Badajoz. A taxa do crédito à habitação mede-se em dois dígitos, a juventude vive em casa dos pais, em frente à caixa que emite a RTP, até deixar de ser jovem. E comprar um automóvel implica poupar durante anos cada escudinho ou passar uma mão cheia de cheques pré-datados.

Doze anos mais tarde. Longe do turbilhão das megas-superfícies, junto aos degraus à entrada do pacato shopping das Amoreiras, uma empregada de limpeza faz um breve intervalo para atender o telemóvel. Nos bairros, onde antes havia mercearias, estão agora pequenos balcões bancários - também eles já em fim de ciclo de vida - que vendem prestações como se fossem batatas. Há créditos para comprar casa, carros e todo o tipo de bens de consumo, distribuem-se cartões de crédito de várias cores, como se fossem cromos e os bancários ainda vendem seguros, jarras de cristal ou colecções de moedas antigas, entre elas o escudo português. Quem prefere não sair de casa, para ir às compras ou ao banco, trata dos seus assuntos online e entretém-se com a escolha múltipla de TV. Em volta das cidades, uma selva de guindastes e dezenas de milhares de emigrantes de leste transformam montanhas de cimento e ferro em nuvens de poeira e habitações de betão. "

LV.

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