Morais Sarmento em S. Tomé
Ainda sobre a recente polémica acerca da deslocação de uma comitiva governamental e empresarial chefiada pelo Ministro da Presidência Morais Sarmento, que lhe valeu dissabores, porventura injustos, mas mais que não seja pela inoportunidade de se ter efectuado na vigência de um governo de gestão, há considerações que se impõem para análise dos leitores:
1.
Essa comitiva foi a S. Tomé e Príncipe para que nesse âmbito fossem entregues à TV de S. Tomé um conjunto de equipamentos usados da RTP, e para a assinatura de um qualquer protocolo de cooperação, protocolo esse que aliás já estava em vigor desde 2000.
2.
Nessa comitiva deslocou-se um administrador da GALP, no que foi justificado como forma de lobbing para que o Governo de S. Tomé pudesse vir no futuro a dar facilidades a Portugal, e à GALP na exploração de um ou mais blocos de exploração petrolífera.
3.
Que ainda no âmbito dessa viagem, terão sido oferecidos ao Estado de S. Tomé uma verba a rondar os 700 mil euros para obras de beneficiação portuária.
Ora o que se passa é que em 2001, em visita oficial a Portugal o Presidente de S. Tomé convidou formalmente o estado português a instalar em S. Tomé com carácter permanente uma base militar pequena, com presença de um ou mais navios e alguns meios aéreos, e respectivas instalações de apoio logístico.
A causa desse pedido era o medo que S. Tomé tinha do gigante vizinho Nigéria, que também estava a querer expandir a área de exploração petrolífera, e haviam alguns desencontros entre as linhas de demarcação marítima dos dois países para que a prospecção exploração se efectivasse.
Daí que perante o medo de que o conflito se desenvolvesse para meios mais perigosos, queria S. Tomé a protecção de Portugal.
Nessa altura o governo português “assobiou” para o lado, e nada foi prometido.
Perante isso, S. Tomé, sob a influência de Angola, acabou por estender esse convite aos Estados Unidos (EUA) para que estes ali estabelecessem essa base, aproveitando a viragem estratégica norte-americana que procura diversificar as fontes de exploração de petróleo, e assim, parece desde os tempos do Presidente Clinton, e aprofundada pela actual Administração Bush olhar com outros olhos para o continente africano.
Os EUA aceitaram, e prometeram mesmo construir de raiz um porto de águas profundas, quer para a atracagem de grandes navios de carga e tanques, bem como ao estacionamento de meios navais militares.
Também se comprometeu a ampliar a pista do aeroporto, para que ali passassem a operar e estacionar aviões militares de grande porte.
Esta ligação politica entre S. Tomé e os EUA já se tinham estabelecido, desde que os EUA para ali tinham transferido os centros emissores da Rádio Voz da América, que antes estavam na Costa do Marfim e na Nigéria, mas que dada a instabilidade nesses países, foram forçados a procurar outros locais, e S. Tomé foi o país escolhido.
Actualmente os EUA, sem se negarem a concretizar as obras prometidas, já parecem não estar interessados nessa base naval permanente, mas sim numa espécie de conceito de “estação naval”, local onde de tempos a tempos as frotas militares americanas no Atlântico, ou em trânsito ali pudessem aportar regularmente, mas sem permanências prolongadas.
Foi um caso típico de mostrar que Portugal perdeu uma oportunidade de ouro para ali estabelecer uma “lança em África” 30 anos após a descolonização, e preencher um vazio estratégico que se estava a formar.
Em articulação com o Brasil que já estabeleceu acordos com S. Tomé para a exploração petrolífera, através da PETROBRÁS, quer agora Portugal estudar formas de participação nessa exploração.
Lembremo-nos que em tempos a GALP já teve participação na exploração em dois blocos off shore em Angola, mas aquando da subida para a presidência da empresa do Engº Ferreira do Amaral, essa participação terminou, argumentando-se que não interessava à GALP entrar no negócio da exploração, mas apenas na da refinação e distribuição.
Ora com esta visita, estará à vista uma nova mudança na estratégia da empresa?
E como é que se misturam negócios petrolíferos, obras no porto de S. Tomé, que os americanos já disseram assegurar e a oferta de material da RTP à Televisão local?
Tudo em 4 dias de visita, mas em que apenas dois tiveram efectiva agenda oficial/oficiosa.
Todos sabemos que todos os governos efectuam, visitas, umas oficiais, outras mais discretas para tratar de assuntos concretos, e nenhuma no passado levantou polémica.
Esta levantou, pela oportunidade, timing e pelo inusitado aluguer de um avião privado, para além do dia de descanso, que se não é imerecido, cai mal na opinião púbica.
Dizia alguém que “à mulher de César, não basta séria. É preciso parecer”.
E até o velho Oliveira Salazar terá afirmado que “em Política, o que parece, é”.
E o que pareceu nesta visita foi uma enorme trapalhada, a começar pela divulgação às pinguinhas da agenda real desta deslocação e dos misteriosos motivos dela, na vigência de um Governo de gestão.
Santana Lopes sentiu-se incomodado com tudo isto, à porta do Eliseu, em Paris.
Pela visita em si, ou pela propaganda negativa que dela foi feita?
O futuro o dirá.
14 Comments:
É mentira atrás de mentira. Isto que está a acontecer em Portugal pode prejudicar o país nos próximos anos, pois com tanta mentira quem é que vai acreditar em nós. JP
Para além de ficarmos a saber que a mensagem poderia ter sido feita, até com mais eficácia, por telefone pelo PM, ficámos a saber que a viagem de turismo do ministro ao Princípe invibializou o encontro com o Presidente de S.Tomé. O que viremos ainda a saber mais? JB
É evidente que nada haveria a dizer se Morais Sarmento fosse passar férias a S.Tomé e Principe a expensas suas. Claro que muitos ministros do ainda actual governo passaram a s suas férias e não foram badalados porque o fizeram em situação normal. Agora que este ministro o faça à conta do erário público, numa viagem de serviço é que não se pode aceitar...
Eu também quando viajo em trabalho pela "minha" empresa também procuro tirar algum partido nos intervalos do trabalho. É a vida meus! Haverá algum político que não faça o mesmo??? Se disser que não cai-lhe o nariz de certeza! Pedro
Pois é, Sr Ministro, o Sr não está a ser sério! E porquê? É q V. Exa não precisava de ficar uma semana em S. Tomé à espera de avião. Para já há 2 voos semanais para aí, depois podia ter feito como muitos membros de governos no passado fizeram. Ir para S. Tomé na TAP, depois Liberville no avião da Força Aérea e apanhar depois o avião para Lisboa via Paris. É só para Lembrar que Cavaco foi e veio na TAP. Zé
Um recado ao P.Socialista: Se quiserem comentar algum facto relevante contra o actual governo, que o façam baseados em factos reais e não em factos alterados, só prejudica a vossa imagem política, os Portugueses já não acreditam em tudo o que lhe dizem, esse tempo já passou. O ministro MS esclareceu, e bem, esse incómodo, mas aonde aparecem os média a perguntar em S. Tomé se essas acusações são verídicas. Carlos
Pois, pois... e como a sua presença era muito importante em Lisboa, alugou um avião por 100.000 euros (cerca de 20.000 contos) para vir para Portugal. Afinal estar em gestão requer que se desloque com urgência à capital, nem que para isso esbanje dinheiro e o lazer ninguém tem nada a ver com isso, afinal foi só um inocente mergulho ao fundo do mar e hotel de 5 estrelas.
Marta
Eu até gostava do Morais Sarmento, mas agora borrou a pintura. Isto num país Europeu dava logo demissão, mas em Portugal é o que se sabe, fica o ministro indignado, etc.. A desculpa de os voos regulares serem incompatíveis com a sua agenda não é desculpa de jeito. Se não pode ir então que mande um subordinado. Haja vergonha. Miguel
Não é a toa q o Eng.º Sócrates preferiu não comentar o assunto. Vejo agora q Santana mexeu mesmo com alguns interesses instalados, com tentáculos enormes onde não escapa tão-pouco a comunicação social. Podemos não estar a viver a teoria da conspiração, mas q parece, parece. Qtas vezes Guterres ou membros do então governo fizeram o mesmo ou bem pior? Haja probidade! José
Infelizmente, na tradição portuguesa, o paradigma é este: Enquanto o povo aperta o cinto os Órgãos do Estado delapidam os parcos recursos existentes e hipotecam o futuro das gerações vindouras de forma absolutamente irracional. Na verdade fretar um avião particular, pagando um preço exorbitante, para transporte de um membro do governo que se desloca a S. Tomé e Príncipe para tratar de assuntos de cooperação tão pouco relevantes, que poderiam muito bem ser tratadas ao nível de embaixadas, escapa à compreensão dos portugueses. Mas não se julgue que esta forma descarada de nos enganarem é exclusiva desta ou daquela força política. Se recuarmos no tempo, encontraremos muitos exemplos igualmente escandalosos protagonizados por ilustres personagens que dispensam apresentações. Leal
Ou é maldade ou estupidez, parolice e ou inveja. Se tivesse gasto a estadia de uma semana, que é o que a TAP obriga, tal seria o falatório. Sabem o que custa a viagem de um governante? Este ministro ganhava muito mais antes de ser convidado pelo Governo e já mergulhou nos melhores sítios do mundo. Ali é difícil fazer sKy (não há neve), é mais tipo praia... Isabel
Sinceramente, que venham os socialistas fazer melhor, mais sério, mais transparente, mais competente, mais rapidamente e, sobretudo, mais barato, para nosso descanso e do Senhor Presidente de todos os portugueses... socialistas e jornalistas. Octávio
Para Isabel Rosa:minha cara, esse conversa demagoga já n pega!Ele podia mto bem ter ido de S.Tomé a Luanda ou Dakar, que têm 3 e 5 voos semanais,apanhar o voo da TAP para Lisboa. O ele ja ter mergulhado em bons sitios é mm demagogia!Só q desta vez à nossa custa!Eu tb já, MAS PAGUEI DO MEU BOLSO!ENTENDIDO OU QUER QUE LHE FAÇA UM DESENHO? Nito
Boa, Dº Isabel. Não sou deste partido, mas faz-me impressão o que serve de notícia neste país, em que não há gato pingado que não opine, de preferência sem conhecimento de causa e q adoravam conhecer S. Tomé. Não é o caso deste Ministro. Devem achar que o ilhéu BomBom é como um Resort das Maldivas. Toda a vida os ministros e PR gastaram muito mais do que isto... só que às escondidas. Rita
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