O Comício de Portas

Naquele que marcou o arranque na prática da campanha eleitoral do CDS-PP, através de um mega jantar de militantes daquele partido na Feira, Portas centrou o seu discurso no justo elogio da sua participação governamental da coligação governamental que agora vê os seus dias aproximarem-se do fim.

Declarou que essa participação se efectuou sem “estados de alma”, que os seus ministros foram os mais competentes, que a lealdade para como parceiro de coligação foi total, e que portanto, se instabilidade no seio do governo houve não deve essa responsabilidade ser assacada ao CDS e aos seus ministros.

O que é verdade e justo.

Lembremo-nos do caso do acidente na refinaria de Matosinhos e da promessa cumprida pelo ministro do Ambiente de apresentar um relatório em tempo útil para apontar responsabilidades nas falhas de segurança da refinaria da GALP, para que o ministro do PSD Álvaro Barreto logo viesse a terreiro dizer que esse seria um relatório que não deveria ser divulgado na forma e no timing em que o foi, já que comprometia o barão e administrador da GALP Ferreira do Amaral, e mais ainda, outro ministro do PSD, António Mexia, também ligado àquela empresa.

Mais recentemente, em Benavente, Portas anunciou a escolha dos novos blindados de rodas para o Exército e Marinha (os PANDUR II), e que esta escolha teria recaído, entre outros factores, pelo facto de poderem vir a ser montados, pelo menos parcialmente nas antiga fábrica da SOREFAME, garantindo-se assim mais de uma centena de postos de trabalho directos, para que no dia seguinte, o mesmo inefável Barreto viesse dizer que não era bem assim, e que nem sequer era seguro que os PANDUR da STEYR viesse a ser montados em Portugal.

Puxões de tapete foi o que o CDS teve que aturar, dada a instabilidade por parte de alguns sectores do PSD que se reflectiram num lavar de roupa suja em público, e resultante da falta de liderança efectiva por parte de que a deveria assegurar – o Primeiro-Ministro Santana Lopes.

Mas o mais incrível nesse jantar foi o facto o CDS, pela voz do seu Presidente estar a ambicionar alcançar a fasquia dos 10 de votos.

Nada que venha a surpreender dada a baixa cotação popular e social de que o PSD de hoje padece na sociedade portuguesa.

Agora incrível, de facto foi dizer que este acréscimo de votos, com consequências ao nível do número de deputados a serem eleitos para a AR, o serem à custa do PS.

Dado que o CDS deixou desde os tempos idos de Freitas do Amaral, e mais recentemente, desde os tempos da liderança de Manuel Monteiro de estar numa posição de equidistância estratégica entre o PS e o PSD, não me parece francamente fácil que o CDS venha a recolher votos à custa do PS.

Se os recolher, e isso já é mais provável, será à custa do PSD.

A transferência de votos na Direita ou se fará do PSD para o CDS à custa do desgaste governativo e à percepção de que os ministros do PSD foram em geral mais incompetentes ou menos visíveis que os do CDS, ou então a transferência far-se-á ao contrário, por via do voto útil.

Declarar ao público que os votos e deputados a mais a que o CDS-PP aspira o serão à custa do PS ou será a anedota do ano, ou resultará de uma mentira que o Presidente do partido pregou aos mais de 5.000 convidados para esse mega-jantar.

A 20 de Fevereiro veremos quem tem razão.