"Mauro partilha com Mário, um ano mais velho do que ele, a toalha, a carteira da escola e as memórias do feriado fatídico. Os dois têm pinta de reguila e a arte do engodo encrostada à pele. “Quando vim de Luanda, aos 15 anos, ia para as mercearias roubar frutas e pacotes de chocolate”, confessa o angolano, de t-shirt da selecção canarinha vestida. Os pais trabalhavam no duro, não deixando que ele passasse fome, mas Mário não resistia aos vícios importados das ruas de Luanda: “Quando um gajo rouba, não o faz apenas por dinheiro.”
O prazer de sentir as batidas aceleradas, a fama que se granjeia no bairro e, por inerência, a atenção das miúdas mais giras e atrevidas, eram outras das causas da rebeldia. A carreira de pequenos crimes terminou quando a família, atenta às suas artimanhas, o convenceu a ir trabalhar durante os tempos livres das aulas. “Quando um dia me gamaram o Nokia, que comprei com o salário de uma semana a distribuir folhetos publicitários porta a porta, percebi a porcaria que fazia aos outros”, declara. Mário ficou furioso. Quase tão irritado como quando viu muitos dos ‘partners’ de bairros vizinhos a roubar famílias indefesas na praia.
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