segunda-feira, agosto 29, 2005

As fases do luto

Estou a fazer o luto, se me é permitido como animal que perdeu tudo ou quase.

Estou a fazer luto, como se deve fazer, à antiga, porque o luto, felizmente ainda não foi globalizado e se o for, irá contribuir para um exército cada vez maior de alienados. O luto é necessário para colocar as coisas na ordem, para arrumar os pensamentos e arquivar na nossa memória os que contribuiram para ele.

Este é o luto do nosso intelecto, da nossa capacidade cognitiva que vai moldando a nossa personalidade, que é mutável e felizmente que o é.

Diria Damásio que conseguiu mapear o cérebro, segundo diz e dizem, que o viu funcionar mesmo perante a visão de não factos, mas de imagens ficcionadas ou não, que as emoções, os afectos, a razão, a consciência de si e a consciência no sentido lato do termo, estão num sítio do cérebro, mais recente, em termos de evolução e de aquisição, em sentido estrito.

Portanto a alma não existe, embora ele não tenha coragem de o dizer.

Para mim existe, e posso utilizar os argumentos de tão ilustre cientista, que usando as imagens tratadas por computadores da actividade cerebral em vários estados, reflectem como um espelho apenas a actividade de um orgão, porque a limitação é própria da ciência e do homem, apenas uma limitação e assim continuará, afinal o erro de Descartes não era assim tão grosseiro e Espinosa apenas usava o seu pensamento e a luta contra os seus, enquanto não polia lentes para viver.

Como toupeira continuo a fazer a minha fase do luto, mas olhando para o lugar, vi um Lello alegre como Lello, sem consciência, a vociferar, mas com a pança cheia, na Madeira;vi um Sócrates sem preocupações, porque afinal nada aconteceu, pelo menos a ele e à acompanhante, como gostaram de frisar, mas hoje apenas com cariotipo na mão, é que acredito, como nos jogos olimpicos; vi o dono da loja irregular, o geronte, a fazer e a falar por Deus, vi o outro que sabe, se não sabe e se ainda vai perguntar à mulher pela centésima vez e a grande imensidão de responsáveis que fizeram o que fizeram, mas não querem assumir a pátria, talvez a Ibéria, como muito bem disse Jardim, sonho dos maiores criminosos da I república, assumido hoje por factos, pelos seus netos e bisnetos. Afinal os regimes republicanos também usam a oligarquia hereditária, apenas foi mudada a retórica e os costumes para pior.

Como toupeira e por respeito, com os animais que perderam a vida, estou numa fase do luto que se chama de revolta e não penso sair dela tão cedo, espero só não ser o único.

Os fogos ainda não acabaram, avizinham-se mais roubos para alimentar a máquina montada, e as quadrilhas organizadas, portanto vou manter esta fase do luto.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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quinta-feira, março 01, 2007  

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