'Jihad' europeia.
"Não foi preciso esperar mais de duas semanas para, a propósito dos ataques terroristas a Londres, começarem os primeiros exercícios de autopunição. Conhece-se o princípio geral se somos agredidos, a responsabilidade não é do agressor, mas nossa. Lembra aquelas esposas de antanho, cujo lema era "quanto mais me bates mais gosto de ti". Por exemplo, a principal autoridade política da cidade atacada, o mayor Ken Livingstone (um histórico da esquerda trabalhista), imediatamente atribuiu as culpas à cumplicidade da Grã- -Bretanha com "aquilo que está a acontecer em Guantánamo". Também Clare Short (outra representante da ala esquerda do Partido Trabalhista, o mesmo de Blair) não perdeu tempo a explicar que a culpa era do "Iraque" (expressão abreviada para a guerra do Iraque). O deputado trabalhista George Galloway (sobre quem ainda paira a suspeita de ter estado no "mensalão" de Saddam) logo sugeriu a Blair que seguisse o luminoso exemplo de Zapatero. O famoso ídolo jornalístico de esquerda Robert Fisk explicou que a Grã-Bretanha apenas se transformou num alvo depois de Blair ter decidido "juntar-se à 'guerra ao terror' de George Bush".
O sucesso dos jihadistas que lançam bombas nas cidades ocidentais e no Iraque depende muito destas atitudes. Elas tornam possível uma aliança frutuosa os jihadistas querem destruir o "ocidente", e que mais poderiam esperar do que a cooperação daqueles ocidentais que vivem em estado de permanente culpabilização por serem prósperos e livres? Esta aliança não é novidade: o grande inspirador de Ben Laden, o egípcio Sayyid Qutb, para quem a sociedade ocidental era o compêndio da decadência civilizacional, e o Islão a fonte de regeneração do mundo (incluindo o ocidente), misturou Corão e marxismo (uma teoria bem ocidental) para elaborar a sua crítica. Trata-se de um caldo de cultura velho mas que está a dar agora origem a um fenómeno novo e inquietante: o aparecimento de um jihadismo europeu autóctone, do qual, aliás, saíram os bombistas de Julho.
De repente, parece ter-se instalado a surpresa sobre este jihadismo. Como era possível que ele estivesse a nascer nas barbas (sem ironia) da civilização multicultural e pós-moderna que é a Europa de hoje? Como se ninguém tivesse ainda reparado no ambiente de motim perpétuo em que vivem as banlieues francesas, às mãos de jovens muçulmanos desenraizados; no número crescente de mulheres inteiramente cobertas no centro de Londres; ou no assassinato de Theo Van Gogh. Desde o princípio de toda esta história que os europeus não perceberam algumas coisas essenciais. A primeira coisa é que o jihadismo é muito mais um problema europeu do que americano. A declaração de guerra dos EUA à jihad foi uma reacção vital perante um ataque inadmissível para qualquer comunidade onde ainda reste algum amor-próprio. Mas o jihadismo no interior da sociedade americana não é um problema grave. A outra coisa é que as motivações da guerra do Iraque não foram, na verdade, os interesses petrolíferos americanos, mas a efectiva vontade de criar condições para o desaparecimento do jihadismo na raiz, democratizando o Médio Oriente.
Os EUA não precisam da guerra do Iraque para defender os seus interesses petrolíferos. Basta-lhes, para isso, entenderem-se com as diversas ditaduras locais, como geralmente têm feito. Não deveria, portanto, existir ninguém mais interessado do que os países europeus em que a guerra do Iraque corresse bem. Os EUA podem sair do Iraque sem consequências graves basta-lhes regressar à realpolitik na região, justamente para protegerem os seus interesses petrolíferos, e adoptar uma política de imigração mais restritiva capaz de os proteger da ameaça interna. São os países europeus que ficam indefesos em caso de fracasso da guerra. Sem exércitos dignos do nome, dependentes da importação permanente de mão- -de-obra muçulmana para manterem o seu "modelo social" em funcionamento, com a população muçulmana a aumentar de forma incomparavelmente mais rápida do que a não muçulmana, o continente vive sentado numa bomba-relógio (outra vez sem ironia).
Muita gente pensará que os EUA nunca poderão dispensar diplomaticamente a Europa. Afinal, ela é o seu irmão civilizacional. Só que podem. Talvez não imediatamente. Mas num prazo relativamente curto, sim. A economia europeia entrou em fase esclerótica e os europeus contam-se entre os povos mais antiamericanos do mundo. Por estas razões, aos EUA vai começando a pesar o fardo europeu que lhes calhou em sorte no século XX. Até porque há mais para onde olhar, particularmente locais onde a vitalidade económica é maior e a animosidade não é tão grande a Índia e a China são os exemplos mais claros. Quando estes dois países tiverem alcançado grau de desenvolvimento suficiente, a Europa ter-se-á tornado relativamente descartável. Se vier a acontecer, o que então acontecer não será exactamente recomendável. "
Luciano Amaral
O sucesso dos jihadistas que lançam bombas nas cidades ocidentais e no Iraque depende muito destas atitudes. Elas tornam possível uma aliança frutuosa os jihadistas querem destruir o "ocidente", e que mais poderiam esperar do que a cooperação daqueles ocidentais que vivem em estado de permanente culpabilização por serem prósperos e livres? Esta aliança não é novidade: o grande inspirador de Ben Laden, o egípcio Sayyid Qutb, para quem a sociedade ocidental era o compêndio da decadência civilizacional, e o Islão a fonte de regeneração do mundo (incluindo o ocidente), misturou Corão e marxismo (uma teoria bem ocidental) para elaborar a sua crítica. Trata-se de um caldo de cultura velho mas que está a dar agora origem a um fenómeno novo e inquietante: o aparecimento de um jihadismo europeu autóctone, do qual, aliás, saíram os bombistas de Julho.
De repente, parece ter-se instalado a surpresa sobre este jihadismo. Como era possível que ele estivesse a nascer nas barbas (sem ironia) da civilização multicultural e pós-moderna que é a Europa de hoje? Como se ninguém tivesse ainda reparado no ambiente de motim perpétuo em que vivem as banlieues francesas, às mãos de jovens muçulmanos desenraizados; no número crescente de mulheres inteiramente cobertas no centro de Londres; ou no assassinato de Theo Van Gogh. Desde o princípio de toda esta história que os europeus não perceberam algumas coisas essenciais. A primeira coisa é que o jihadismo é muito mais um problema europeu do que americano. A declaração de guerra dos EUA à jihad foi uma reacção vital perante um ataque inadmissível para qualquer comunidade onde ainda reste algum amor-próprio. Mas o jihadismo no interior da sociedade americana não é um problema grave. A outra coisa é que as motivações da guerra do Iraque não foram, na verdade, os interesses petrolíferos americanos, mas a efectiva vontade de criar condições para o desaparecimento do jihadismo na raiz, democratizando o Médio Oriente.
Os EUA não precisam da guerra do Iraque para defender os seus interesses petrolíferos. Basta-lhes, para isso, entenderem-se com as diversas ditaduras locais, como geralmente têm feito. Não deveria, portanto, existir ninguém mais interessado do que os países europeus em que a guerra do Iraque corresse bem. Os EUA podem sair do Iraque sem consequências graves basta-lhes regressar à realpolitik na região, justamente para protegerem os seus interesses petrolíferos, e adoptar uma política de imigração mais restritiva capaz de os proteger da ameaça interna. São os países europeus que ficam indefesos em caso de fracasso da guerra. Sem exércitos dignos do nome, dependentes da importação permanente de mão- -de-obra muçulmana para manterem o seu "modelo social" em funcionamento, com a população muçulmana a aumentar de forma incomparavelmente mais rápida do que a não muçulmana, o continente vive sentado numa bomba-relógio (outra vez sem ironia).
Muita gente pensará que os EUA nunca poderão dispensar diplomaticamente a Europa. Afinal, ela é o seu irmão civilizacional. Só que podem. Talvez não imediatamente. Mas num prazo relativamente curto, sim. A economia europeia entrou em fase esclerótica e os europeus contam-se entre os povos mais antiamericanos do mundo. Por estas razões, aos EUA vai começando a pesar o fardo europeu que lhes calhou em sorte no século XX. Até porque há mais para onde olhar, particularmente locais onde a vitalidade económica é maior e a animosidade não é tão grande a Índia e a China são os exemplos mais claros. Quando estes dois países tiverem alcançado grau de desenvolvimento suficiente, a Europa ter-se-á tornado relativamente descartável. Se vier a acontecer, o que então acontecer não será exactamente recomendável. "
Luciano Amaral
1 Comments:
That's a great story. Waiting for more. » »
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