Mais do mesmo.
"Quatro anos e três acontecimentos bastaram para que ruísse com estrondo o mito da América como hiperpotência mundial. A 11 de Setembro, a América percebeu, com terrível violência, que não era invulnerável, e que nenhuma tecnologia militar a punha a salvo da crueldade humana. O ataque terrorista, de escala inimaginável, provocou no país sentimentos de humilhação e dor, e fez nascer uma vontade de vingança até certo ponto compreensível. Sendo identificável o causador, Ben Laden, e o seu refúgio, o Afeganistão, era moralmente defensável determinar uma expedição ao covil da besta. A intervenção no Afeganistão foi simples, lógica e justa. No entanto, ficou incompleta, pois Bin Laden nunca foi capturado. Além disso, só tarde demais se compreendeu que não se podia combater o terrorismo como se ele fosse um país. Não é. E portanto não pode ser derrotado militarmente, pois só os países podem ser derrotados.
Infelizmente, a ferida do 11 de Setembro não sarou com o Afeganistão, e os “falcões” não ficaram satisfeitos. Transformaram o desejo punitivo e a raiva numa nova política externa, guiada apenas pela emoção descontrolada, e indiferente às mais óbvias incongruências. Até hoje o mundo está para perceber a lógica de saltar da Al-Qaeda para Saddam, do Afeganistão para o Iraque. Os “falcões” estavam surdos e cegos às evidências. Era preciso mostrar força.
Anos depois, o Iraque deve ser estudado como um “case study”, onde correu quase tudo mal, e muitas coisas correram muito mal. A diplomacia foi desastrosa, a procura de fundamentos morais um fiasco, a estratégia militar precipitada, a organização da ocupação uma balbúrdia. Erros atrás de erros e o terrorismo a marcar pontos. Os “falcões” começaram a ver a vida a andar para trás. O mito da superpotência, tantos anos e tantas vezes repetido, ao ponto de iludir até os mais lúcidos, levava o seu segundo rombo. Afinal, além de não ser bem recebida no Iraque, a América não era capaz de chegar, ver e vencer. Tinha sido batida em casa e estava a ser batida de novo fora de casa.
O furacão Katrina apanha Bush e a América numa esquina perigosa. A América já percebeu que tem de sair do Iraque, mas não o queria fazer já, para não perder a face. O furacão mostrou o que antes não se via: uma América pobre, o que é quase um insulto, e desorganizada, o que é uma surpresa. O mundo vê o logradouro americano, os seus quintais dos fundos, e espanta-se: “aquilo parece o terceiro mundo” ouve-se dizer, e essa é a melhor prova do desmoronar final do mito da hiperpotência. Para espanto geral, os “falcões” do Iraque são agora verdadeiras “pombinhas” do Katrina, aceitando as ajudas internacionais, sem tropas suficientes para acudir à desgraça, mostrando como é difícil enfrentar tanta destruição.
Verdade seja dita, não gostava de estar na pele de George W. Bush. Com as excepções óbvias de Wilson, devido à primeira guerra mundial, e sobretudo Roosevelt, confrontado com a grande depressão e com a segunda guerra mundial, não houve nenhum presidente americano nos últimos cem anos que tivesse de enfrentar acontecimentos tão graves como George W. Bush. No espaço de apenas 4 anos, apanhou com o 11 de Setembro e com o furacão Katrina. Há que reconhecer que é dose. Não sou fã dele. Não gosto da sua personalidade, da sua falsa simplicidade, da sua forma áspera de falar. E quanto às suas políticas, é difícil ser mais incompetente do que ele foi em muitos casos. Porém, é necessário relembrar que não é fácil ser inquilino da Casa Branca em momentos tão duros para a América quanto o 11 de Setembro e o Katrina.
Dito isto, política é política. Bush é julgado não pelo azar que teve, mas pela forma como respondeu a esses horríveis cataclismos. E o resultado final é uma estranha ironia, que talvez só os deuses sejam capazes de explicar: Bush, que queria uma América isolada do mundo em 2000, foi obrigado a virar-se para o mundo com o 11 de Setembro. Agora, o Katrina obriga-o a regressar à América, a regressar à sua casa da partida. De facto, como os ventos no olho do furacão, o mundo dá muitas voltas."
Domingos Amaral
Director da revista Maxmen
Infelizmente, a ferida do 11 de Setembro não sarou com o Afeganistão, e os “falcões” não ficaram satisfeitos. Transformaram o desejo punitivo e a raiva numa nova política externa, guiada apenas pela emoção descontrolada, e indiferente às mais óbvias incongruências. Até hoje o mundo está para perceber a lógica de saltar da Al-Qaeda para Saddam, do Afeganistão para o Iraque. Os “falcões” estavam surdos e cegos às evidências. Era preciso mostrar força.
Anos depois, o Iraque deve ser estudado como um “case study”, onde correu quase tudo mal, e muitas coisas correram muito mal. A diplomacia foi desastrosa, a procura de fundamentos morais um fiasco, a estratégia militar precipitada, a organização da ocupação uma balbúrdia. Erros atrás de erros e o terrorismo a marcar pontos. Os “falcões” começaram a ver a vida a andar para trás. O mito da superpotência, tantos anos e tantas vezes repetido, ao ponto de iludir até os mais lúcidos, levava o seu segundo rombo. Afinal, além de não ser bem recebida no Iraque, a América não era capaz de chegar, ver e vencer. Tinha sido batida em casa e estava a ser batida de novo fora de casa.
O furacão Katrina apanha Bush e a América numa esquina perigosa. A América já percebeu que tem de sair do Iraque, mas não o queria fazer já, para não perder a face. O furacão mostrou o que antes não se via: uma América pobre, o que é quase um insulto, e desorganizada, o que é uma surpresa. O mundo vê o logradouro americano, os seus quintais dos fundos, e espanta-se: “aquilo parece o terceiro mundo” ouve-se dizer, e essa é a melhor prova do desmoronar final do mito da hiperpotência. Para espanto geral, os “falcões” do Iraque são agora verdadeiras “pombinhas” do Katrina, aceitando as ajudas internacionais, sem tropas suficientes para acudir à desgraça, mostrando como é difícil enfrentar tanta destruição.
Verdade seja dita, não gostava de estar na pele de George W. Bush. Com as excepções óbvias de Wilson, devido à primeira guerra mundial, e sobretudo Roosevelt, confrontado com a grande depressão e com a segunda guerra mundial, não houve nenhum presidente americano nos últimos cem anos que tivesse de enfrentar acontecimentos tão graves como George W. Bush. No espaço de apenas 4 anos, apanhou com o 11 de Setembro e com o furacão Katrina. Há que reconhecer que é dose. Não sou fã dele. Não gosto da sua personalidade, da sua falsa simplicidade, da sua forma áspera de falar. E quanto às suas políticas, é difícil ser mais incompetente do que ele foi em muitos casos. Porém, é necessário relembrar que não é fácil ser inquilino da Casa Branca em momentos tão duros para a América quanto o 11 de Setembro e o Katrina.
Dito isto, política é política. Bush é julgado não pelo azar que teve, mas pela forma como respondeu a esses horríveis cataclismos. E o resultado final é uma estranha ironia, que talvez só os deuses sejam capazes de explicar: Bush, que queria uma América isolada do mundo em 2000, foi obrigado a virar-se para o mundo com o 11 de Setembro. Agora, o Katrina obriga-o a regressar à América, a regressar à sua casa da partida. De facto, como os ventos no olho do furacão, o mundo dá muitas voltas."
Domingos Amaral
Director da revista Maxmen
1 Comments:
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