sexta-feira, janeiro 27, 2006

A segunda volta.

"Na derrota, a arrogância dos espíritos elogia a tolerância. Elogia e parte desvairada em busca de culpados. E se os culpados pertencem à “família”, melhor – hinos e hossanas face aos “traidores”. E no lugar de todas as “traições”, Manuel Alegre brilha desfocado.Agora que o calvário Presidencial chegou ao fim, a Esquerda desfaz-se em lágrimas e protestos, rebenta de indignação, olha à sua volta, e só vê erros e pecados. Curiosamente, os maus instintos sobem à superfície, as recriminações voam sem sentido e alguns senhores zelosos vêm cobrar a hipoteca.

Confesso que não pretendo incomodar ninguém com prelecções de índole moralista. Mas o resultado das eleições para a Presidência da República revelam uma interessante realidade. Uma nova realidade que a Esquerda, entre a ilusão e a desilusão, pretende ignorar. Desde logo, a certeza de uma “democracia normal”. E “normal” porque não existem “instituições reservadas” ou imunes ao exercício da alternância democrática. Enquanto a democracia portuguesa inicia um novo ciclo, a Esquerda insiste no erro da nostalgia. Depois, e no tom irónico que tantas vezes anuncia a mudança dos tempos, a afirmação de Cavaco Silva como o mais bem sucedido líder que a Direita portuguesa conheceu em trinta anos de democracia. Austero, tímido, distante, reservado, a imagem familiar de um político improvável. Mas como recordava Edgar Morin, a história é apenas a confirmação do improvável
(ler aqui)."

Carlos Marques de Almeida

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Há, nas recentes eleições presidenciais, três aspectos muito interessantes sobre os quais gostaria de reflectir com o máximo de objectividade possível: o papel das sondagens e dos media na formação do consenso para a vitória; o chamado movimento de cidadania de Manuel Alegre; a tão invocada rejeição do fenómeno partidário.

Em relação ao primeiro aspecto, mereceria um estudo aprofundado o conjunto das sondagens que foram sendo publicadas ao longo dos últimos três anos sobre as candidaturas à Presidência, com especial incidência sobre a candidatura de Cavaco Silva. O certo é que nos últimos tempos o desfasamento entre o que lhe era atribuído e o que realmente obteve é enorme. Não sendo eu, como se sabe, um adepto da “teoria das expectativas”, que transforma um vencedor em vencido e um vencido em vencedor quando a realidade diverge das expectativas induzidas pelas sondagens ou estudos de opinião, a verdade é que é necessário dizer o seguinte. 1) As teorias disponíveis dizem-nos que as tendências maioritárias na opinião pública produzem o chamado efeito do “carro ganhador” ou, então, da “espiral do silêncio”. Ou seja: as tendências maioritárias possuem sempre uma forte capacidade de atracção sobre os eleitores menos polarizados (ideologicamente) porque estes tendem espontaneamente a associar-se aos vencedores (”carro ganhador”) ou porque têm receio de ficar socialmente isolados (”espiral do silêncio”). Não tenho dúvidas de que Cavaco Silva beneficiou fortemente deste clima quer na campanha eleitoral quer no longo prazo, a expensas das generosas sondagens e da corporação mediática. 2) É certo que a vitória foi obtida por uma curtíssima margem, apesar de uma extensa fragmentação da esquerda que se lhe opunha. Mas nem por isso é possível afirmar, como já foi feito, que a sua legitimidade ficou diminuída e reduzida a seis décimas. Não. A legitimidade do Presidente eleito é total, legítima, inquestionável e de mandato, isto é, válida por cinco anos. Não é, portanto, inferior à que teria se tivesse obtido setenta por cento dos votos.

Em relação ao segundo aspecto, temos vindo a assistir a inúmeras declarações sobre o movimento de cidadania que Manuel Alegre teria desencadeado, ao obter mais de um milhão de votos, e sobre a necessidade de o organizar politicamente. A verdade, todavia, é que os pressupostos deste movimento não são tão sólidos como alguns dos seus promotores pensam. Vejamos. Um movimento de cidadania nunca pode nascer de uma atitude puramente reactiva. Ora, em boa verdade, foi o que se verificou. Manuel Alegre queria ser o candidato do PS. Não tendo sido acolhida a sua pretensão, ele candidatou-se sozinho e proclamou-se representante do povo não partidário. Esse movimento de cidadania, que é suposto ser activa, nasceu de uma negação e de uma reacção negativa. Ora esta é uma dimensão radicalmente oposta à dimensão positiva que o próprio conceito de cidadania activa encerra. Acresce que Manuel Alegre sempre foi um activo e importante membro orgânico do PS, tendo a sua vida indissociavelmente a ele ligada. E, sendo a sua força de natureza simbólica, até pela sua pujança poética, fica na sua origem fragilizado um projecto que nasce em contradição consigo próprio: com a natureza forjada (na luta de matriz partidária) da própria identidade política de Alegre e com a natureza ideal de um projecto de cidadania, que deve ser activa e não reactiva (pelo menos em democracia).

Em relação ao terceiro e último aspecto, o da vitória da independência contra os partidos nesta disputa eleitoral pela Presidência, creio que também se trata de um enorme equívoco. Com efeito, esta é a mais personalizada das eleições, numa época em que a política, toda ela, está extremamente personalizada. Mais personalizada porque, afinal, se trata de um poder unipessoal e de controlo sobre o funcionamento geral do sistema democrático. Na verdade, o Presidente não pode ser portador de marcas profundas de clivagem partidária porque o seu poder também é fortemente simbólico. No caso mais radical de Manuel Alegre, a verdade é que os seus votos somados com os de Mário Soares nem sequer esgotam os votos da área eleitoral do PS, situando-se, ambos, no essencial, nesta área. O que se verificou foi que uma consistente faixa eleitoral desta área já não se reconheceu pragmaticamente na proposta Soares (no protagonista político), vendo-se obrigada a escolher o campo que lhe era mais afim, o de Alegre. Na sua maioria, tratou-se de uma escolha por exclusão de partes. Também aqui, portanto, a matriz é negativa. Oposta, por isso, à ideia de cidadania activa. De resto, os partidos também são movimentos de cidadania.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Cavaco Silva ganhou, apoiado no aparelho do PSD. Mas a sua opção por esconder esta máquina é um sinal do que virá.

A postura do novo Presidente face ao Governo é decisiva para se perceber os próximos anos políticos. Mas o que poderá mudar está longe de acabar nesta dimensão. Depois do último domingo, as transformações extender-se-ão ao interior dos dois principais partidos portugueses. A dimensão da derrota e da vitória trará múltiplos problemas ao PS e PSD.

Cavaco Silva enfrentará um dilema: ou contribui para uma relação tensa com o Governo ou, pelo contrário, veste o fato de Presidente da República tal como foi desenhado por Soares e vestido também por Sampaio. Qualquer das opções é problemática: a primeira promove a instabilidade, confirmando os alertas da campanha; a segunda defrauda as expectativas da larga maioria dos que nele votaram. Dá-se, contudo, o caso de Cavaco Silva não ser um homem de grandes rupturas. Pelo que, contrariando todas as expectativas, o mais provável é que opte por fazer pouco, pelo menos no primeiro mandato.
Se assim for, pouco mudará onde se esperava que muito mudasse. O que poderá mudar, e muito, é a vida dos partidos.

Antes de mais, no PSD. Na campanha, Cavaco Silva sublinhou reiteradamente o carácter supra-partidário da sua candidatura.
Houve aqui uma mistura de tacticismo puro com crença genuína. Cavaco Silva ganhou, apoiado no aparelho do PSD. Mas a sua opção por esconder essa mesma máquina é um sinal do que virá. O novo Presidente desconfia dos partidos e da política. Nisso interpreta bem o sentimento popular. O problema é que Cavaco Silva também não gosta do partido que ajudou a criar e terá a tentação de tutelar o seu espaço político. Ora, como experiências simétricas o demonstraram, nenhuma direcção partidária gosta de ser tutelada desde Belém e, principalmente, é difícil que, na oposição, se sobreviva a essa tutela. A vitória de Cavaco Silva pode representar, a esse propósito, uma mistura do pior do eanismo (a desconfiança face aos partidos) com o pior do soarismo (a tutela do seu espaço político).

A soma do resultado de Cavaco Silva com o de Manuel Alegre sublinha também o mal-estar face aos partidos. A tendência tem lastro histórico e é reincidente. Contudo, nunca teve uma expressão eleitoral tão forte. Ainda que por razões diferentes, 70% dos portugueses votaram em candidatos que abusaram da crítica aos partidos. Este dado confirma o divórcio entre sociedade e políticos. Muitas das vezes, esse divórcio ocorre pelas piores razões, mas isso não deve impedir que os partidos leiam os sinais. Se em nada mudarem, no médio prazo, quer PSD, quer PS serão inevitavelmente vítimas deste caldo cultural. É por isso que nenhum dos dois grandes partidos ganhou as últimas presidenciais.

Aqui chegamos ao PS. Dando sequência a longos meses em que geriu a questão presidencial, literalmente, com os pés, o PS incorre nos erros do passado. Fingir que nada se passou, é a pior das opções. Os resultados eleitorais de domingo não são normais, nem exclusivamente consequência da impopularidade das medidas do Governo ou de eventuais erros de condução da campanha. Pelo contrário, têm causas mais profundas e menos contigentes. Ou o PS as procura interpretar, ou está condenado a ser surpreendido por uma volatilidade crescente do voto. E, convém não esquecer, um programa de Governo reformista precisa de condições institucionais para ser levado a cabo, mas, também, de sustentação social que o torne exequível.

Desse ponto de vista, o efeito carruagem, produzido pela deslocação de votos do centro-esquerda nas últimas legislativas para o centro-direita agora, não é um problema de somenos. Como é sabido, fazer regressar eleitores é das tarefas politicamente mais difíceis. Da última vez que aconteceu levou uma década e consumiu dois secretários-gerais do PS.

Com o PSD sob tutela desde Belém, com o regresso em força do discurso anti-partidos, assente numa suposta neutralidade ideológica e com uma transferência importante de eleitorado do centro-esquerda para o centro-direita, podemos estar a viver o regresso do PRD. Hoje, como então, nada de bom daí resultará. Há vinte anos, o resultado da experiência PRD foi um defraudar de expectativas e a não resolução de nenhum dos problemas que estiveram na génese da sua força. É provavelmente essa a história a que assistiremos nos próximos anos.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Pedro, não desanime.Foram das melhores eleições democráticas dos últimos 20 anos. O candidato Alegre, vai de férias... e o candidato Soares aprendeu a lição. Nunca mais se metem noutra. O slogan Portugal Maior depouis de expremido o que dá ? É que havendo fronteiras ...Portugal nem cresce nem encolhe.Ilusões e desilusões irá ter certamente o novo PR quando verificar que não tem orçamento nem poderes para fazer 5% do que pensou e prometeu. Talvez seja bom. É a vida...e a vida nunca foi fácil. De qualquer modo boa sorte para os que ganharam e perderam. E para si também Pedro.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Não sejamos líricos.Cavaco Silva é suficientemente inteligente,patriota e independente para seguir a estratégia que concebeu,limitada esta à Constituição, o que lhe não permitirá grandes voos.Por outro lado é um homem solitário.,um pouco de ideias pré-concebidas e,logicamente,e para ´não quebrar a estatistica(o que é um erro clamoroso) abdicará um pouco da sua força de carácter e personalidade forte e,consequentemente,pensará já no 2º mandato, o que implicará não actuar como devia para não criar "guerrinhas" politiqueiras.Assim,mau grado a vontade daqueles que entendem que acima de tudo estó o país,tudo continuará como dantes no "quartel de Abrantes".

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Olhe que não! Cavaco teve os votos, não apenas do PSD, mas de todos os Partidos Políticos. Senão como é que se explica que Cavaco tenha ganho em todas as mesas eleitorais de Loures, onde habitualmente vencem o PS e o PCP ? E, por uma grande diferença ! O PS, que nas autárquicas venceu as eleições, ficou em 4.º lugar (Mário Soares). Curioso é verificar que em Loures, Manuel Alegre teve mais do dobro dos votos de Mário Soares.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

ESTE SR AINDA NÃO DIGERIU A CABAZADA,MAS COM CALMA CHEGA LÁ.DEIXE -SE DE LIRISMOS, OS PORTUGUESES SABEM O QUE QUEREM. JÁ NÃO EXISTEM PAPÕES, PORTANTO DERAM O CARTÃO VERMELHO DIRECTO A SOCRATES OU O SENHOR AINDA QUER BRANQUEAR A EVIDÊNCIA =14%. MAIS SE O GOVERNO CHEGAR A 2009, COISA QUE NÃO ACREDITO, O CARTÃO VERMELHO VAI SER MUITO MAIOR,O POVO NÃO ESQUECE AS MENTIRAS DO SR.SOCRATES AONDE INCLUO CENAS LAMENTÁVEIS COMO AS DA NOITE DAS ELEIÇÕES, NÃO VALE A PENA APREGOAR ÉTICA PARA OS OUTROS, QUANDI NÃO SE RESPEITAM AS MAIS ELEMENTARES REGRAS DA DEMOCRACIA QUE CONSISTE EM GANHAR E SABER PERDE!...

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Meus senhores e minhas senhoras Quem perdeu as eleições foi o sr mário soares e que não soube assumir a grande derrota. Veio fazer uma campanha pouco democrática pois queria ser só ele o candidato. Os Portugueses já estão fartos deste senhor e de toda a corte de chulos que vivem à sua volta e com coragem mostraram-lhe o cartão vermelho. Desapareça que não faz falta nenhuma a Portugal. sr soares deixe que novos politicos sem experiência exerçam cargos governativos, haja mudança de uma vez por todas. Viva Portugal e os Portugueses.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Tanto lirismo! Sócrates não vai aguentar. Continua violento e fanfarrão. Não foi só na sobreposição com o Manuel Alegre. Até na Autoeuropa. Porquê aquela agressividade? Para quê a "fantasia" da IKEA em Ponte de Lima? Resta o fim do pagamento das pensões de aposentação em 2015.

sexta-feira, janeiro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Where did you find it? Interesting read »

terça-feira, abril 24, 2007  

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