sábado, fevereiro 25, 2006

Os ventos com rumo certo

O vento de sudoeste há muito não aparecia, mas foi de pouca dura, rodou para sueste e depois irá a nordeste, frio de cortar.

Portanto chuva de baixo, como alguns humanos em certos sítios dizem, há muito não acontecia e porque é chuva bem caída que se infiltra e que renova nascentes é uma chuva de esperança, só agradável aos que ainda sabem escutar a natureza.

Estes pequenos interlúdios, com uma música que é agradável ouvir, servem para acalmar as almas e os corpos dos humanos cansados de ouvir e ver todo o tipo de atrocidades, que lhes entram pelas casas dentro, sem pedir autorização, decerto por culpa deles, porque deixaram de falar entre si no seio familiar, sendo o diálogo e a conversa mole, substituída pela emoção e pelos comentários que nada têm a ver directamente com as suas vidas, mas que nelas interferem, e de que maneira, para a sua cada vez maior solidão e isolamento, sendo assim um veneno bastante eficaz , como os figos envenenados que Augusto, segundo se conta, comia da sua figueira preferida e mandados envenenar por Lívia, na árvore, provocando a sua morte que pareceu ser natural, por ter sido dado em doses pequenas, mas cumulativas.

Ao que parece o mundo está perigoso, diz o meu Avô Toupeira.

Perigoso para todos.

A fome persiste no mundo, provocada pelos criadores de fome e de pragas...

As duas guerras planetárias, ao contrário do que alguns apregoam, não tiveram nada de benéfico nem melhoraram a vida dos povos. A primeira legou o desemprego em massa e brutalizou ainda mais a multidão de desgraçados; a segunda trouxe o liberalismo e a ideia de que a selva é que é, e que o colega de trabalho é um predador e concorrente ao seu naco, deixando antever a obra do inventor, decerto hiena, sem desprimor para o animal.

Depois foi inventar as mentiras que perseguem os humanos hoje; dizendo que as maiorias que mandam e são escrutinadas por eles são uma das maravilhas do século passado, esquecendo de facto que quem manda são minorias minúsculas, sobre a imensa maioria agrupada em rebanhos que lutam entre si e os outros, que há muito desistiram e que são a muda maioria.

Querem comprovar? Basta fazer contas muito simples e sobretudo pensar, coisa que desapareceu do hábito do homem supostamente moderno.
Antes que seja proibido citar um dos meus preferidos, porque o mundo está perigoso para alguns homens que pensam fora do rebanho, mas que têm de parecer domésticos como os animais assim chamados, aqui vai:

“ O meu cão.

- Dei um nome ao meu sofrimento: chamo-lhe «cão»… É tão fiel, tão importuno, imprudente, distractivo e avisado como qualquer outro cão… Posso apostrofá-lo num tom tirânico e descarregar nele os meus humores: como outro fazem com os seus cães, com os seus criados e com as suas mulheres.”

Ou este, apenas como momento de poesia, que para um niilista …

“Do último minuto.

– As tempestades são o meu perigo: virei a ter a minha tempestade que me há-de matar, como Oliver Cromwell morreu com a sua tempestade? Ou apagar-me-ei como lâmpada que não espera ser soprada pelo vento, mas morre cansada e satisfeita consigo? … Como lâmpada que consumiu o azeite todo? Ou, enfim, apagar-me-ei a mim próprio, para não arder até ao fim?

Nietzsche “ A gaia ciência”

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