quinta-feira, março 09, 2006

Filhos? Paradeiro desconhecido.

"Viúva, com um filho no estrangeiro, uma pensão irrisória e "sem dinheiro para ir de táxi às finanças, à junta de freguesia, onde quer que seja", Dona Idalina ficou despachada num quarto de hora e saiu convencida de que vai receber "mais 10 contos de reforma" por mês. É o exemplo vivo de que a burocracia tem uma face humana que vai além dos parâmetros da legislação, e de que o rigor implacável, prometido para a atribuição deste complemento, esbarra nas alíneas relativas aos filhos.

O que fez Dona Idalina: garantiu que não tinha dinheiro no banco, nem transferências regulares para a sua conta, nem património. Com o filho no estrangeiro - "tão cedo não vem cá" -, escreveu o seu nome e data de nascimento e colocou a cruz no "paradeiro desconhecido". O que não a impede de falar com ele ao telefone uma vez por mês. As funcionárias aceitaram as suas garantias. Entregou as fotocópias necessárias e foi-se embora. O resto compete a futuras fiscalizações.
Foi uma "atrapalhação" que lhe deu no momento de dizer quanto é que recebia de pensão. Viúva, três filhos, Dona Arminda treme quando se tenta lembrar dos pormenores: "60 contos", lança num fio de voz, para depois mostrar um papel onde se lê 223 euros. "Deve ter mais, houve actualizações" - a técnica insere o número de beneficiária no portátil e aguarda os resultados, à velocidade com que a rede de telemóvel chega a Maçãs de D. Maria.

O suspense quase desfigura a cara miudinha a que não se dá 87 anos, até que o dedo em riste da funcionária rasga a distância que as separa - "eu sabia!". O tom é involuntariamente triunfal e Dona Arminda encolhe-se mais na cadeira, à espera do vatícinio: "352 euros. Ultrapassa, já não tem direito". Cá fora, há-de contar uma história de solidão que não se enquadra nestes - nem em nenhuns - parâmetros de solidariedade social
. "

DN

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

That's a great story. Waiting for more. »

quinta-feira, abril 26, 2007  

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