Deitar a toalha
"Os relatórios do Banco de Portugal e do Fundo Monetário Internacional parecem notícias velhas, mas não são. O país vai mal. Talvez não tenha emenda.
Já pensaram na qualidade das toalhas de banho portuguesas? Depois de ler um belíssimo e extenso artigo sobre o assunto no “Wall Street Journal”, todos os dias de manhã, quando meto o pé fora do duche, medito sobre a questão. É verdade, o tema não tem grande espessura intelectual, nem doutrina escrita, nada que o torne digno destas páginas cor de salmão. No entanto, é este o único assunto politicamente aceitável nos dias que correm.
Explico-me. Um dia depois de o boletim de Primavera do Banco de Portugal ter deixado bem claro que o Governo de José Sócrates terá muitas dificuldade em cumprir o défice prometido (4,6% do PIB); e horas depois de o FMI ter escrito a lápide do cadáver – a economia portuguesa será, em 2007, a mais desequilibrada do mundo desenvolvido – todas as notícias servem de salva-vidas para a depressão colectiva que nos ataca.
Não há dúvida: a vida corre-nos mal. Na verdade, a vida continua a correr-nos muito mal. Já ninguém ousa pedir que o IVA volte ao normal, que o IRC se torne mais competitivo, que o IRS o acompanhe ou que a nossa orla marítima se torne mais bonita. Para que conste, são tudo assuntos fora da agenda, assuntos para rico, assuntos que hoje não podem ocupar os esforços e a atenção do Governo. Ontem, hoje, amanhã e nos próximos anos o país continuará com a corda ao pescoço, sem espaço para respirar, sufocado pelas dívidas, acossado pelos compromissos com Bruxelas, perdido no meio dos números. Assim, não se vive, sobrevive-se. Assim, não há saída: estamos em saldo.
Evidentemente, há quem não esteja. No domingo, o presidente do Governo espanhol deu uma longa entrevista de cinco horas e dez páginas ao jornal “El Mundo”. Quanto espaço dedicou Zapatero à economia? Alguns parágrafos, não mais do que três, o suficiente para dizer algumas generalidades que confirmam o que já se sabia: o crescimento da espanhol mantém-se forte, acima da média europeia e com boas perspectivas de crescimento. Palavras sábias que resumem o essencial e deixam espaço para que se discuta o resto. O resto é tudo o que sobra além da economia. Ou seja, o presente e o futuro de Espanha, da Europa e do Mundo.
Tem José Sócrates tempo para estas trivialidades filosóficas. Impossível. Sócrates – como Durão Barroso e Santana Lopes antes dele – anda de lapiz atrás da orelha a fazer contas à vida da nação. Em Espanha discutem-se as autonomias, procura-se uma trégua com a ETA, debate-se o casamento homossexual. Em Portugal, fala-se do défice público, do desemprego, das previsões do FMI, das baldas dos deputados, dos cortes nas viagens dos ministros. E daqui não saímos. Daqui não podíamos sair: não nos podemos dar a esse luxo, não o podemos sustentar.
É por isso que o assunto das toalhas é o último recurso: ele toca no essencial. As toalhas ‘Woolfson’ fabricadas em Portugal e elogiadas pelo “Wall Street Journal”, são o que Portugal não é: competitivo nos mercados estrangeiros, apreciado pela qualidade. Numa palavra: viável."
André Macedo
Já pensaram na qualidade das toalhas de banho portuguesas? Depois de ler um belíssimo e extenso artigo sobre o assunto no “Wall Street Journal”, todos os dias de manhã, quando meto o pé fora do duche, medito sobre a questão. É verdade, o tema não tem grande espessura intelectual, nem doutrina escrita, nada que o torne digno destas páginas cor de salmão. No entanto, é este o único assunto politicamente aceitável nos dias que correm.
Explico-me. Um dia depois de o boletim de Primavera do Banco de Portugal ter deixado bem claro que o Governo de José Sócrates terá muitas dificuldade em cumprir o défice prometido (4,6% do PIB); e horas depois de o FMI ter escrito a lápide do cadáver – a economia portuguesa será, em 2007, a mais desequilibrada do mundo desenvolvido – todas as notícias servem de salva-vidas para a depressão colectiva que nos ataca.
Não há dúvida: a vida corre-nos mal. Na verdade, a vida continua a correr-nos muito mal. Já ninguém ousa pedir que o IVA volte ao normal, que o IRC se torne mais competitivo, que o IRS o acompanhe ou que a nossa orla marítima se torne mais bonita. Para que conste, são tudo assuntos fora da agenda, assuntos para rico, assuntos que hoje não podem ocupar os esforços e a atenção do Governo. Ontem, hoje, amanhã e nos próximos anos o país continuará com a corda ao pescoço, sem espaço para respirar, sufocado pelas dívidas, acossado pelos compromissos com Bruxelas, perdido no meio dos números. Assim, não se vive, sobrevive-se. Assim, não há saída: estamos em saldo.
Evidentemente, há quem não esteja. No domingo, o presidente do Governo espanhol deu uma longa entrevista de cinco horas e dez páginas ao jornal “El Mundo”. Quanto espaço dedicou Zapatero à economia? Alguns parágrafos, não mais do que três, o suficiente para dizer algumas generalidades que confirmam o que já se sabia: o crescimento da espanhol mantém-se forte, acima da média europeia e com boas perspectivas de crescimento. Palavras sábias que resumem o essencial e deixam espaço para que se discuta o resto. O resto é tudo o que sobra além da economia. Ou seja, o presente e o futuro de Espanha, da Europa e do Mundo.
Tem José Sócrates tempo para estas trivialidades filosóficas. Impossível. Sócrates – como Durão Barroso e Santana Lopes antes dele – anda de lapiz atrás da orelha a fazer contas à vida da nação. Em Espanha discutem-se as autonomias, procura-se uma trégua com a ETA, debate-se o casamento homossexual. Em Portugal, fala-se do défice público, do desemprego, das previsões do FMI, das baldas dos deputados, dos cortes nas viagens dos ministros. E daqui não saímos. Daqui não podíamos sair: não nos podemos dar a esse luxo, não o podemos sustentar.
É por isso que o assunto das toalhas é o último recurso: ele toca no essencial. As toalhas ‘Woolfson’ fabricadas em Portugal e elogiadas pelo “Wall Street Journal”, são o que Portugal não é: competitivo nos mercados estrangeiros, apreciado pela qualidade. Numa palavra: viável."
André Macedo
10 Comments:
Portanto Sócrates tem e deve colocado dentro do mesmo compartimento de Santana, de Durão e para fazer verso do centrão e apêndices.
Que fazer?
Proponho que se juntem ovos fora de prazo, se guardem e que por esse país fora, quando for possível, se atirem aos líderes do centrão e dos apênces, incluso os PCs e Bloquistas principalmente se as televisões estiverem perto e em directo.
A minoria que não vota mas sutenta o sítio...
A principio julguei que o "deitar as toalhas " era no sentido do boxe.Desistimos!...Porque é isso que os relatórios económicos dizem e alguns de nós sabemos ,há muito tempo( a propósito,onde anda o dr Medina Carreira,que boas páginas aqui escreveu?...).Atenção que a Espanha não é bom exemplo.Aquilo é betão e consumos(já sabem que um quarto das notas de 500€ emitidas pelo BCE circulam em Espanha?Economia muito submarina...)
Este artigo é bastante pessimista, mas é importante que a mensagem passe nestes termos para os portugueses se aperceberem da real situação do país. É necessário reformar e não remendar! Exemplo: No que concerne à reforma da Administração Pública espero que o governo português comece a utilizar mais a palavra "reduzir" e não apenas "mobilidade" e "flexibilidade".
Neste país tudo vai bem; veja-se as declarações do ministro das finanças à saida do conselho de ministros! tudo em forma, mesmo com o que diz o Banco de Portugal, a OCDE, o FMI, tudo corre bem! será que o homem está louco? Que dirá o Presidente da Republica? vejamos do dia 25.........
Esperemos que os zelotes do PS ,que por aqui andam e tanto atacam os criticos, não venham agora dizer que Constancio é da oposição.De resto,ele não vem dizer nada que um cidadão atento não saiba.Bom é que proibisse os bancos de andarem a oferecer cartões de crédito a toda a gente e se congelasse contas a quem passa cheques "carecas".Mas, isso é trabalho..
Passada a fase da "propagandex" os portugueses vão querer resultados e, infelizmente, estes não aparecerão em função do muito marketing político que tem havido, mas sim fruto de muitos mais sacrifícios, pedidos sempre aos mesmos, enquanto, também os mesmos de sempre, vão vivendo princepescamente à sombra do taxo. Aguentarão os primeiros sem exercerem o seu "direito à indignação"?! Aguardam-se os próximos capítulos!
Faço minhas as palavras de "vg". Também quero ouvir (ou melhor, lêr...) os comentários dos senhores e senhoras do PS que por aqui andam a arrotar a postas de pescada, hiper-tendenciosos(as), mais parecendo que vivem num outro País. Mas pior mesmo do que viver nas nuvens ou enfiar a cabeça na areia, é a total ignorância que demonstram, não fazendo ideia do que é um "défice", o "PIB" ou a balança de transacções correntes. Para esses sonhadores ficam os numeros...os impostos subiram, a inflação aumentou, o desemprego não desceu, a despesa do Estado aumentou, enfim...pouco se aproveita. Ah...que maldade a minha que não me lembrava dos aspectos positivos. Foi lançado o "simplex"...(!!!).
A situção económica de Portugal poderia sintetizar-se numa única palavra:DESCALABRO.Claro que existem outras adequadas à metodologia seguida durante 2005 e que continua: INCOMPETENCIA e TEIMOSIA e,sobretudo,ARROGANCIA.Qualquer individuo,com alguns conhecimentos básicos de gestão/economia/finanças públicas sabe que num país em recessão economica não pode haver uma carga fiscal tão pesada nem uma base tributável tão ampla/abrangente.Recomenda-se,isso sim,que se incentive o desenvolvimento económico desde que daí advenha a criação de postos de trabalho.Deve fomentar-se a exportação,criando condições de competitividade como fez-e ainda faz - a China e outros países com uma visão ampla e onde,obviamente,não subsista uma obsessão pelo deficit o que pressupõe naturalmente um amplo trabalho diplomática com Bruxelas para evitar as consequencias que poderiam resultar da não observancia das limitações percentuais estabelecidas.Porém quando se segue uma política desvairada e desconexa de ataque aos contribuintes e aos reformados/aposentados,a un desprezo indisfarçável pela saúde tendo em vista a poupança de alguns euros,com encerramento de maternidades,serviços de urgencia...logicamente que a desmotivação e a falta de confiança se instalam e ninguém pensa em investir,sobretudo os pequenos e médios empresários.Enfim é o país que temos e os governantes que muitos quizeram......!
1.O Boletim Económico da Primavera do BP não apresenta surpresa nenhuma. 2.O próprio PM avisou claramente que os tempos difíceis ainda estavam para vir. 3.Toda a gente sabe perfeitamente que ao longo de décadas se deixaram acumular problemas...e agora, no quadro da Zona Euro,os instrumentos usados no passado não podem ser novamente usados. 4.Cada dia que passa (e já com atraso)apela à tomada de opções dolorosas,que só apresentarão resultados úteis e "sentidos" pelo nosso Povo daqui a algum tempo. 5.Alguns sectores económicos, até agora aparentemente ao abrigo da concorrencia internacional, irão ser confrontados em breve com concorrencia agressiva e,face às suas estruturas dos custos de produção,terão sérias dificuldades em resistir. 6.Aqueles que ridicularisavam os "alertas" de ordem financeira,económica e social( os "sucessos" permanentes, ,a gastadeira infrene,o tal PORTUGALSEMPREEMFESTA,a vida para além do défice,etc)bem como aqueles que exigiam sempre mais e mais sem qualquer contrapartida no domínio da produtividade,que nos dirão no final de 2006 ? 7.Isto não é uma questão do Partido A ou Partido B. Não! Agora é uma questão nacional,que a TODOS interessa e que por TODOS tem de ser resolvida.
ALguém que me explique: não é o sector "estado" que vai de mal a pior? Aumentam-se impostos - IVA, produtos petroliferos, etc - o estado encaixa mais uns milhões, e, mesmo assim o défice aumenta? Isto está é a pedir um divórcio. Parece-me que já chega de tangas da falta de produtividade e afins, e que o "estado" faça mas é uma reciclagem em gestão: pode se calhar ir estudar para essa fábrica de toalhas.
Sim, porque "eles" (estado), SÃO O PROBLEMA: quanto mais recebem mais gastam!
E se querem "simplexes", usem-no em casa. A receita é simples: comprem um livro de merceeiro, com o DEVE e o HAVER, e lembrem-se que NUNCA o 1º pode ser maior que o 2º. O resto são tretas.
Ahmaro.
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