Freitas.

"Freitas do Amaral cancela conferência de imprensa e critica Expresso. O Ministério dos Negócios Estrangeiros cancelou a conferência de imprensa que estava marcada para hoje à tarde para "desmentir o título" da manchete do semanário Expresso, que indica que Freitas do Amaral está "cansado no MNE"."

Antes de comentar, convinha ter em conta a parte final da entrevista de Freitas:

P: “Actualmente, que tempo é que lhe resta para a sua vida privada?”

R: “Muito pouco, muito pouco. Todos se queixam: queixa-se a minha mulher, os meus filhos, os meus netos, os meus amigos, a minha família … e queixa-se o meu corpo, que precisava de mais descanso, mais exercício, queixa-se o meu amor pela música. Mas quem entra para o Governo sabe que entra para uma missão absorvente e exigente, por isso não digo que estou a fazer um sacrifício. Estou a prestar um serviço enquanto for considerado útil ao pais e enquanto a minha saúde o permitir.”

Agora vamos à frase que originou a polémica:

P: “As constantes viagens, o jet lag, o avião, são cansativas para si?”

R: “As viagens são um pouco cansativas, sobretudo para quem, como eu, tem problemas de coluna. Mas mais cansativo é um dia inteiro de trabalho no Ministério, das nove e meia da manhã às nove e meia da noite, constantemente a receber pessoas, a fazer telefonema, a ler telegramas, a dar despachos, a fazer assinaturas, reuniões. Chega-se ao fim do dia completamente estoirado.”

Ou seja, Freitas disse que fica mais estoirado após um dia de trabalho de 12 horas no ministério do que das viagens. Um simples comentário aonde Freitas procurava informar que, ao contrário do que o vulgar cidadão pensa, o cargo é muito exigente e cansativo.

O Expresso “trabalhou” o “desabafo” de Freitas e colocou como manchete “Freitas cansado no MNE”. Uma coisa é Freitas estar cansado "no" (Ministério dos Negócios Estrangeiros) e outra coisa é estar cansado "do". Evidentemente que Freitas afirma que ser Ministro dos Negócios Estrangeiros é cansativo mas não considera ser um sacrifício e sim um serviço ao país. Como o “no” soa melhor “do”, o leitor menos atento percebeu tudo ao contrário.

O problema é que Freitas é um alvo a abater tanto pela direita “traída” como pela esquerda que se sente incomodada pela sua presença. Depois Freitas parece ajudar dando tiros nos pés. Primeiro: O título não tinha dignidade para convocar uma conferência de imprensa para o desmentir. Segundo: convocada, não devia ter sido cancelada. Terceiro: lançar suspeitas de uma campanha dos órgãos de comunicação social contra ele alimenta ainda mais a polémica. Quarto: Freitas passa a vida a desmentir as suas afirmações.

Sabe-se como os jornalistas jogam com as intenções e com as palavras, para alguém que deveria estar politicamente bem preparado, efectivamente Freitas comete demasiados erros. Ou não tem mesmo vocação ou segue um plano lúgubre desnecessário e funesto à sua reputação.

Uma coisa é certa. Freitas com tanto fait-divers, começa a cansar o país e aí não há desmentido que lhe valha.