A avaliação.
"Por que é que as reformas são sempre apresentadas num embrulho de guerrilha e de descrédito de todos os profissionais envolvidos?
O debate em torno da Educação em Portugal tem sido, ao longo dos anos, dos mais politizados. O pendor político-sindical da discussão tem tido como consequência a sucessiva substituição de ministros e um ziguezaguear permanente das políticas públicas. Esta semana, mais uma vez, aqueceram os ânimos, a propósito da proposta de avaliação dos docentes pelos pais e das declarações da ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Comecemos pelo princípio. A minha geração foi a primeira a ser totalmente educada após o 25 de Abril de 1974. Um sistema escolar, que estava caduco e inacessível a uma grande faixa da população, teve finalmente a oportunidade de se modernizar e de se democratizar.
Mas, como consequência, surgiram outros factores capazes de distorcer a procura de novas soluções. Um desses factores foi a paixão revolucionária pela igualdade. A igualdade, se bem entendida como a igualdade de acesso ao ensino e de oportunidades dentro do sistema educacional é benéfica, se não mesmo um requisito fundamental de uma sociedade moderna e democrática. O que não se deveria fazer, e muitas vezes acontece, é confundir esta igualdade de oportunidades com um nivelamento por baixo da exigência. Pior ainda. Como o sistema é hipercentralizado e não existe liberdade para os pais escolherem a escola pública onde gostariam de colocar os seus filhos, não existe de facto igualdade de oportunidades.
Situação semelhante podemos observar quando olhamos o problema da perspectiva dos professores. O espírito corporativo instalado e a forma com está organizada a promoção na carreira não permitem uma distinção positiva dos melhores, o que, como é óbvio, nem contribui para a qualidade do ensino, nem para a realização profissional dos professores. É pois urgente quebrar este complexo de igualitarismo politicamente correcto que asfixia o talento e a dedicação de muitos docentes, ao mesmo tempo que permite que, em alguns casos, perdure a mediocridade e a falta de profissionalismo, sem qualquer diferenciação.
Dito isto, em tese não poderia estar mais de acordo com a introdução de sistemas de avaliação que permitam a diferenciação dos professores pelo seu mérito. Mas, quanto à proposta de avaliação da ministra da Educação, sobram duas dúvidas. Uma quanto ao conteúdo, outra quanto à forma. A primeira, já levantada por Fátima Bonifácio num debate televisivo, prende-se com uma eventual “machadada final” na autoridade dos professores que a avaliação dos encarregados de educação pode provocar. A segunda, não é um exclusivo do Ministério da Educação e já é uma marca do Governo de José Sócrates. Por que é que as reformas são sempre apresentadas num embrulho de guerrilha e de descrédito de todos os profissionais envolvidos, em vez de tentar captar os melhores, os mais responsáveis, neste caso dos professores, para que também eles possam ser agentes da mudança e não um factor de resistência? "
Nuno Sampaio
O debate em torno da Educação em Portugal tem sido, ao longo dos anos, dos mais politizados. O pendor político-sindical da discussão tem tido como consequência a sucessiva substituição de ministros e um ziguezaguear permanente das políticas públicas. Esta semana, mais uma vez, aqueceram os ânimos, a propósito da proposta de avaliação dos docentes pelos pais e das declarações da ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Comecemos pelo princípio. A minha geração foi a primeira a ser totalmente educada após o 25 de Abril de 1974. Um sistema escolar, que estava caduco e inacessível a uma grande faixa da população, teve finalmente a oportunidade de se modernizar e de se democratizar.
Mas, como consequência, surgiram outros factores capazes de distorcer a procura de novas soluções. Um desses factores foi a paixão revolucionária pela igualdade. A igualdade, se bem entendida como a igualdade de acesso ao ensino e de oportunidades dentro do sistema educacional é benéfica, se não mesmo um requisito fundamental de uma sociedade moderna e democrática. O que não se deveria fazer, e muitas vezes acontece, é confundir esta igualdade de oportunidades com um nivelamento por baixo da exigência. Pior ainda. Como o sistema é hipercentralizado e não existe liberdade para os pais escolherem a escola pública onde gostariam de colocar os seus filhos, não existe de facto igualdade de oportunidades.
Situação semelhante podemos observar quando olhamos o problema da perspectiva dos professores. O espírito corporativo instalado e a forma com está organizada a promoção na carreira não permitem uma distinção positiva dos melhores, o que, como é óbvio, nem contribui para a qualidade do ensino, nem para a realização profissional dos professores. É pois urgente quebrar este complexo de igualitarismo politicamente correcto que asfixia o talento e a dedicação de muitos docentes, ao mesmo tempo que permite que, em alguns casos, perdure a mediocridade e a falta de profissionalismo, sem qualquer diferenciação.
Dito isto, em tese não poderia estar mais de acordo com a introdução de sistemas de avaliação que permitam a diferenciação dos professores pelo seu mérito. Mas, quanto à proposta de avaliação da ministra da Educação, sobram duas dúvidas. Uma quanto ao conteúdo, outra quanto à forma. A primeira, já levantada por Fátima Bonifácio num debate televisivo, prende-se com uma eventual “machadada final” na autoridade dos professores que a avaliação dos encarregados de educação pode provocar. A segunda, não é um exclusivo do Ministério da Educação e já é uma marca do Governo de José Sócrates. Por que é que as reformas são sempre apresentadas num embrulho de guerrilha e de descrédito de todos os profissionais envolvidos, em vez de tentar captar os melhores, os mais responsáveis, neste caso dos professores, para que também eles possam ser agentes da mudança e não um factor de resistência? "
Nuno Sampaio
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