terça-feira, junho 06, 2006

"O Código da Vinci" e Portugal.

"Vítor Manuel Adrião, presidente da Comunidade Teúrgica Portuguesa e autor de várias publicações, entre elas a ‘História Oculta de Portugal’ (ed. Madras), não tem dúvidas: o nosso país foi ponto de paragem do Santo Graal. “A tradição refere que São Bernardo Claraval mandou recolher, nas galerias do Templo de Salomão, um objecto sagrado que mandou trazer para a Europa”, explicou ao CM, adiantando: “E quando o conde D. Henrique o convidou para o Mosteiro de St.ª Maria de Alcobaça, o Santo Graal veio para cá.” Mas n’‘O Código Da Vinci’ Dan Brown ignora estranhamente Portugal, apesar de os guardiães do Graal, os Templários, terem no nosso país um dos seus grandes monumentos, o Convento de Cristo, em Tomar, e de terem vindo para cá quando foram obrigados a fugir da Terra Santa. Ou não (mais aqui)."

1/ Graal vem do latim "cratale" e signifiva vaso para água e vinho. Santo Graal (ou Sangreal) é uma expressão medieval que designa normalmente o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia. Está presente nas lendas arturianas, sendo o objetivo da busca dos cavaleiros da Távola Redonda, único objecto com capacidade para devolver a paz ao reino de Artur. No entanto, numa outra interpretação, ele designa a descendência de Jesus (o sangraal ou sangue real), segundo a lenda, ligada à dinastia Merovíngia. Finalmente, também há uma interpretação em que ele é a representação do corpo de Maria Madalena, a suposta esposa de Jesus e sua herdeira na condução da nova religião. Esta última ideia foi explorada recentemente pelo livro "O Código Da Vinci", de Dan Brown.

Segundo a lenda, José de Arimatéia teria recolhido no cálice, usado na Última Ceia, o sangue que jorrou de Cristo quando ele recebeu o golpe de misericórdia, dado pelo soldado romano Longinus, usando uma lança, depois da crucificação. O Cálice permaneceu perdido durante muito tempo, embora haja controvérsias se o que é reconhecido hoje pela Igreja seja o verdadeiro ou apenas uma imitação.

2/ "O romance de Brown é desprovido da verdade, mas muito ousado, ao ponto de colocar a seguinte afirmação na boca do seu respeitável historiador Sir Teabing: "Quase tudo o que nossos pais nos ensinaram sobre Jesus Cristo é mentira" (p.252). Baseado em que prova sólida ele faz tal afirmação? Quais são as credenciais desse autor para que possamos aferi-las (mais aqui)"

3/ Quando o rei Filipe tentou tomar posse dos tesouros dos templários, a frota templária já havia partido misteriosamente com todos os tesouros, e jamais foi encontrada. Os possíveis destinos dessa frota seriam Portugal, onde os templários seriam protegidos; Inglaterra, onde se poderiam refugiar por algum tempo, e Escócia onde também se poderiam refugiar com bastante segurança.

Quando os Templários passaram a ser perseguidos na França, Portugal recusou-se a obedecer à ordem de prisão de seus membros. Na verdade os portugueses tinham os Templários em alta conta, já que ajudaram nas guerras de Reconquista que expulsaram os mouros da península Ibérica, e possuiam grande tecnologia de locomoção terrestre e marítima, útil a D. Dinis (1279-1325).

Assim, após a aniquilação dos Templários na maior parte da Europa, a Ordem continuou em Portugal, como Ordem de Cristo (da qual o Infante D. Henrique foi grão-mestre). Toda a hirerarquia foi mantida e na cruz vermelha sobre o pano branco, símbolo templário, foi acrescida uma nova cruz branca em seu centro, simbolizando a pureza da ordem.

A Ordem de Cristo herdou todos os bens dos Templários portugueses e desempenhou um papel fulcral nos descobrimentos portugueses. Por um lado, emprestaram recursos para a coroa portuguesa financiar o avanço marítimo, por outro, transmitiu à chamada Escola de Sagres todo o vasto conhecimento que já dispunham sobre navegação após anos singrando o mar Mediterrâneo. Essa ligação íntima explica porque as caravelas portuguesas tinham suas velas pintadas com a cruz templária.

Conclusão: Face ao exposto, o facto de Dan Brown ignorar Portugal, especialmente recaindo a suspeita do Graal ter passado por cá, ajuda a confirmar o livro como um romance apimentado com alguns conhecimentos históricos.

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