ISRAEL, A ESQUERDA E A DIREITA, AMERICANISMO, ANTI-AMERICANISMO.
"Já se escreveu que o anti-americanismo é o anti-semitismo dos nossos dias. É um anti-semitismo diferente, mas é muito parecido. Israel está a ser vítima dessa forma peculiar de anti-semitismo.
A história não ensina tanto como pensamos, mas dá-nos comparações úteis. O caso de Israel é muito interessante para a análise das evoluções políticas e ideológicas do século XX. Quando nasceu o estado de Israel, a ferro e fogo contra os ingleses e os partidários do Grande Mufti de Jerusalém, amigo dos nazis, a causa sionista era sentida como uma causa da esquerda. Foi a URSS uma grande impulsionadora das resoluções da ONU para a partilha da Palestina, e o primeiro estado a reconhecer Israel. Estava-se na altura em que o nosso Avante! clandestino saudava a luta de Israel contra as “monarquias feudais àrabes” que lhe faziam guerra e a saga socialista dos kibutz fazia parte do imaginário utópico de toda a esquerda e não só da comunista. Os socialistas e a sua Internacional deram grande apoio político ao jovem estado.
Ora, desde o primeiro minuto que a “causa” de Israel dependeu de ganhar as guerras aos países que o rodeavam e mesmo aos que estavam longe. Recordo-me de visitar a Argélia há uns anos e ter verificado com alguma surpresa que ainda havia um estado de guerra com Israel, muitos anos depois do último conflito militar que opôs o estado judeu a outros estados e não a grupos de guerrilha ou grupos terroristas.
Ora, nas suas guerras, sempre de natureza defensiva – não adianta explicar aos que estão de má fé que o carácter ofensivo de algumas operações militares nada tem a ver com o carácter defensivo do conflito - , o Israel de hoje não é distinto do do fim dos anos quarenta. No centro dessas guerras esteve sempre a pura sobrevivência do estado de Israel , quer de um lado quer do outro. A recusa da existência de Israel esteve sempre no centro das guerras árabes, agora cada vez mais muçulmanas, e só muito mais tarde é que a “questão palestiniana” surgiu.
A inflexão da esquerda contra Israel acompanhou a política soviética de Krutchev de apoio ao nacionalismo árabe, que levou a prazo a uma mudança de aliados na região. Apoiando Nasser, reagindo ao último estertor do colonialismo, o conflito do Suez, a URSS abriu caminho ao progressivo isolamento de Israel dos seus apoios na esquerda socialista e comunista. Nos anos sessenta, setenta, oitenta, até ao fim da própria URSS, esta tornou-se um dos principais apoios logísticos e políticos dos movimentos de guerrilha e terroristas palestinianos, ou pró-palestinianos, embora o seu controle nunca fosse total, devido ao emaranhado muito complexo das intrigas nacionais e de clãs que sempre atravessaram o Norte de Africa e o Médio oriente. Ter que lidar com a Líbia, a Síria, o Iraque, o Irão, a rede de terrorismo internacional que ia do Japão à Alemanha, era difícil, mas mesmo assim os soviéticos estiveram sempre presentes nesse mundo e sub-mundo.
Foram os americanos, nem sempre muito voluntaristas na região (como mostraram durante a guerra do Suez), que acabaram por se tornar os principais aliados de Israel. Para que isso acontecesse houve razões de guerra fria e pressões do importante lobi judaico na América, mas foi assim que se criou a realidade das alianças actuais. Logo, os israelitas acabam também por ser alvo, e nalguns casos mais do que isso, pretexto central, do anti-americanismo contemporâneo.
A paralisia europeia numa região do mundo que faz parte da sua esfera geopolítica vem desse anti-americanismo, em que a Europa, em grande parte por pressão de uma França pós-gaullista, se deixou enredar tornando-a irrelevante. Ver um estado que foi uma criação francesa como o Líbano hoje ser vassalo da Síria e assistir à completa impotência militar e política da França é apenas o sintoma maior da mesma impotência da União Europeia separada dos EUA.
Tudo isto é fora, à margem. Para Israel muito pouco mudou desde o dia 15 de Maio de 1948 em que imediatamente a seguir à formalização da independência pela ONU, os estados da Liga árabe declararam guerra a Israel que foi atacada pela Jordânia, o Líbano, o Egipto, o Iraque, e Arábia Saudita. O secretário geral da Liga árabe, Azzam Pasha, invocou a jihad e apelou a uma “guerra de extermínio”. Algumas coisas mudaram desde este dia e algumas para melhor, mas para Israel continua a ser uma questão de pura sobrevivência. É por ser assim que em Israel, nunca a esquerda e a direita se dividiram no essencial sobre a conduta de operações militares para defender o estado de Israel."
José Pacheco Pereira
A história não ensina tanto como pensamos, mas dá-nos comparações úteis. O caso de Israel é muito interessante para a análise das evoluções políticas e ideológicas do século XX. Quando nasceu o estado de Israel, a ferro e fogo contra os ingleses e os partidários do Grande Mufti de Jerusalém, amigo dos nazis, a causa sionista era sentida como uma causa da esquerda. Foi a URSS uma grande impulsionadora das resoluções da ONU para a partilha da Palestina, e o primeiro estado a reconhecer Israel. Estava-se na altura em que o nosso Avante! clandestino saudava a luta de Israel contra as “monarquias feudais àrabes” que lhe faziam guerra e a saga socialista dos kibutz fazia parte do imaginário utópico de toda a esquerda e não só da comunista. Os socialistas e a sua Internacional deram grande apoio político ao jovem estado.
Ora, desde o primeiro minuto que a “causa” de Israel dependeu de ganhar as guerras aos países que o rodeavam e mesmo aos que estavam longe. Recordo-me de visitar a Argélia há uns anos e ter verificado com alguma surpresa que ainda havia um estado de guerra com Israel, muitos anos depois do último conflito militar que opôs o estado judeu a outros estados e não a grupos de guerrilha ou grupos terroristas.
Ora, nas suas guerras, sempre de natureza defensiva – não adianta explicar aos que estão de má fé que o carácter ofensivo de algumas operações militares nada tem a ver com o carácter defensivo do conflito - , o Israel de hoje não é distinto do do fim dos anos quarenta. No centro dessas guerras esteve sempre a pura sobrevivência do estado de Israel , quer de um lado quer do outro. A recusa da existência de Israel esteve sempre no centro das guerras árabes, agora cada vez mais muçulmanas, e só muito mais tarde é que a “questão palestiniana” surgiu.
A inflexão da esquerda contra Israel acompanhou a política soviética de Krutchev de apoio ao nacionalismo árabe, que levou a prazo a uma mudança de aliados na região. Apoiando Nasser, reagindo ao último estertor do colonialismo, o conflito do Suez, a URSS abriu caminho ao progressivo isolamento de Israel dos seus apoios na esquerda socialista e comunista. Nos anos sessenta, setenta, oitenta, até ao fim da própria URSS, esta tornou-se um dos principais apoios logísticos e políticos dos movimentos de guerrilha e terroristas palestinianos, ou pró-palestinianos, embora o seu controle nunca fosse total, devido ao emaranhado muito complexo das intrigas nacionais e de clãs que sempre atravessaram o Norte de Africa e o Médio oriente. Ter que lidar com a Líbia, a Síria, o Iraque, o Irão, a rede de terrorismo internacional que ia do Japão à Alemanha, era difícil, mas mesmo assim os soviéticos estiveram sempre presentes nesse mundo e sub-mundo.
Foram os americanos, nem sempre muito voluntaristas na região (como mostraram durante a guerra do Suez), que acabaram por se tornar os principais aliados de Israel. Para que isso acontecesse houve razões de guerra fria e pressões do importante lobi judaico na América, mas foi assim que se criou a realidade das alianças actuais. Logo, os israelitas acabam também por ser alvo, e nalguns casos mais do que isso, pretexto central, do anti-americanismo contemporâneo.
A paralisia europeia numa região do mundo que faz parte da sua esfera geopolítica vem desse anti-americanismo, em que a Europa, em grande parte por pressão de uma França pós-gaullista, se deixou enredar tornando-a irrelevante. Ver um estado que foi uma criação francesa como o Líbano hoje ser vassalo da Síria e assistir à completa impotência militar e política da França é apenas o sintoma maior da mesma impotência da União Europeia separada dos EUA.
Tudo isto é fora, à margem. Para Israel muito pouco mudou desde o dia 15 de Maio de 1948 em que imediatamente a seguir à formalização da independência pela ONU, os estados da Liga árabe declararam guerra a Israel que foi atacada pela Jordânia, o Líbano, o Egipto, o Iraque, e Arábia Saudita. O secretário geral da Liga árabe, Azzam Pasha, invocou a jihad e apelou a uma “guerra de extermínio”. Algumas coisas mudaram desde este dia e algumas para melhor, mas para Israel continua a ser uma questão de pura sobrevivência. É por ser assim que em Israel, nunca a esquerda e a direita se dividiram no essencial sobre a conduta de operações militares para defender o estado de Israel."
José Pacheco Pereira
3 Comments:
JPP começa assim:
"Já se escreveu que o anti-americanismo é o anti-semitismo dos nossos dias. É um anti-semitismo diferente, mas é muito parecido. Israel está a ser vítima dessa forma peculiar de anti-semitismo."
Será que ele tem andado a ler as sumas opinões de alguns Ecos da Noticia?
Aquilo, coitados, anda tão vazio tão vazio que cada vêz há mais eco. Àparte honrosas excepções de equilibrio, assiste-se a um show patético.
Começou a época das manifestações. Leio agora que, só em Londres, milhares de pacifistas saíram à rua para marchar contra a guerra no Oriente Médio. Nada a opôr. Marchar contra a guerra é simpático. Mais ainda: é cómodo. Você pode não saber nada sobre o conflito, nada sobre as razões do conflito, nada sobre as consequências do conflito. Mas é contra. Ser contra é a absolvição do pensamento: uma forma tranquila de colocar a flor na lapela do casaco e mostrar a sua vaidade moral ao mundo. Hitler invadiu a Polônia, exterminou milhões de judeus e procurou subjugar um continente inteiro? O pacifista é contra. Contra quê? Contra tudo: contra Hitler, contra Churchill, contra Roosevelt. Contra Aliados, contra nazistas. E quando os nazistas entram lá em casa e se preparam para matar o pacifista, ele dispara, em tom poético: "Não me mate! Você não vê que eu sou contra?" É provável que o nazista se assuste com a irracionalidade do pacifista e desapareça, correndo.
Capitão: "Eu não mandei você matar o inimigo?"
Soldado: "Sim, meu capitão. Mas ele era contra. Fiquei com medo."
O pior é que os pacifistas que saíram à rua não são contra tudo. Eles só são contra algumas coisas, o que torna o caso mais complexo e, do ponto de vista paranóico, muito mais interessante. Lemos as palavras de ordem e ficamos esclarecidos. "Não ataquem o Irã". "Liberdade para a Palestina". "Tirem as mãos do Líbano". Imagino que alguém deixou em casa as frases sacramentais. "Irã só quer paz". "Hizbollah é gente séria". "Israel é racista; não gosta de mísseis". Essa eu entendo. Israel retirou do Líbano em 2000. Retirou de Gaza em 2005. O Líbano e Gaza, depois da retirada, transformaram-se em parque de diversões para terroristas do Hizbollah e do Hamas (leia-se: do Irã e da Síria) que tinham por hábito sequestrar soldados israelenses e lançar rockets para o interior do estado judaico. Israel, inexplicavelmente, não gostava de apanhar com mísseis na cabeça, marca visível da sua intolerância. Os pacifistas de Londres deveriam denunciar essa intolerância: um Estado que retira dos territórios ocupados e, ainda por cima, não gosta de ser bombardeado, não merece o respeito da "comunidade internacional".
http://blog.causaliberal.net/
Israel tem é de acabar com essa peste e depois cessa o fogo.. Como isso é impossível a guerra contra esses bichos vai continuar de geração em geração. Paz? Qual paz. Enquanto não deixarem Israel sossegada de certeza que eles não vão parar.
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