quinta-feira, julho 20, 2006

Números bons

"As previsões económicas do Governador do Banco de Portugal poderiam resumir-se a uma frase: Tudo na mesma. Seria uma frase injusta, porque desvalorizaria alguns progressos revelados pela economia portuguesa, mas seria rigorosa.

Nada de verdadeiramente entusiasmante foi registado no boletim de verão ontem apresentado por Vitor Constâncio. Conversa de editorialista? Não.

Segundo se percebe pelos cálculos da equipa do Banco de Portugal, as velhas fragilidades do país agarraram-se como lapas à economia. O endividamento das famílias, somado à necessidade de financiar o sistema com dinheiro vindo de fora, colocam Portugal nas mãos da conjuntura internacional. É por isso, portanto, que o dinheiro de bolso vai diminuir no próximo ano (inflação a subir de 2,1 para 2,6%), o preço da habitação vai cair (desvalorizando as hipotecas), o desemprego de longa duração crescer e o investimento total na economia (a Formação Bruta de Capital Fixo, ou a soma de investimento público, empresarial e em habitação) baixar.

Podiam agora procurar-se os culpados ou, pelo contrário, alinhar uma mão cheia de ideias como forma de sair da crise. Podia, mesmo, sublinhar-se o esforço deste Governo, explicando que está a inverter correctamente esta tendência de crise – apostando nas reformas estruturais e não em dinheiro público para tapar os problemas. Podia, mas vale mais pensar porque razão nada disto resulta.

Uma razão é dura de roer: Portugal já não é um desses países pobres em que as velhas teorias do polaco Rosenstein-Rodan se apliquem. Ele dizia que um “big push” (investimentos simultâneos em infra-estruturas) trazia crescimento económico imediato. Não traz: uma nova fábrica já representa pouco em Portugal.

A outra é inesperada: as famílias portuguesas não estão assustadas. E discursos negativos, neste momento, podem funcionar como a parábola dos cintos de segurança: forçar a sua utilização incentiva a descontracção na estrada – pela ilusão da segurança – e os acidentes aumentam. Sublinhar os males da economia, da mesma forma, explora os sentimentos fatalistas – pela ausência de solução – e os gastos das famílias repetem-se.

Dito de outra forma, não se pode fiar que as políticas públicas resolvam o problema nem se pode supor que as famílias alteram o seu comportamento.

O que permite uma conclusão difícil de engolir: quanto pior for a conjuntura externa, melhor será para a economia portuguesa. Só ela obrigará o Governo a procurar caminhos alternativos para crescer (enquanto poupa, emagrecendo a máquina) e só ela forçará as famílias a gastarem menos (porque o dinheiro lhes foge da carteira). Até que a solução surja, como por milagre
."

Martim Avillez Figueiredo

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tive a pachorra de seguir o debate no canal de televisão do Parlamento.A principal conclusaão e´que houve uns técnicos do BP que fizeram inquerito directo às empresas e retiraram da cartola o aumento de exportações de 8,4%,básicamente do sector automóvel(incluirá o envio para Espanha da linha de montagem da Azambuja?).O resto da história decorre dos modelos conhecidos.Mas,há um progresso na apreciação do BP :se a moeda não é controlada por nós ,que mal faz em pedir emprestado para comprar casa ou consumir?Cada qual que meça os riscos.O modelo americano...

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

PORTUGAL É UMA FARSA A ECONOMIA PORTUGUESA SÓ PODE RECUPERAR QUANDO O ESTADO CONSEGUIR COBRAR OS IMPOSTOS DEVIDOS,SE HOUVESSE VONTADE POLITICA NO PASSADO NO PRESENTE E NO FUTURO.NA EXPO CENTENAS DE APARTAMENTOS FORAM VENDIDOS E ESTÃO Á VENDA ENTRE (300.000 e 1.500.000)EUROS.SERÁ QUE SERIA DIFICIL O "FISCO" VERIFICAR AS DECLARAÇOES DE IMPOSTOS DESTES PROPRIETARIOS? MAS CUIDADO POIS SÃO OS POLITICOS E OS AMIGOS OS PROPRIETÁRIOS.INFELIZMENTE É ESTE O ESTADO DO MEU PAÍS.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Uma análise fria, sem ilusões e realista.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O boletim do BP diz muito pouco sobre Economia. Sejamos claros e precisos: Economia é combinar recursos tecnológicos, humanos e naturais, de forma eficiente, isto é, premiando os mais produtivos e com mais engenho. Sejam trabalhadores ou empresários. O problema é que em Portugal desperdiça-se em todo lado. No mercado de trabalho quem ganha mais não são essencialmente mais produtivos: grandes distorções de niveis de rendimento e produtividade (redistribuições primárias avultadas; enorme distorção). O sector público é improdutivo, cheio de poupanças virtuais, provoca redistribuição primária (a mesma lenga lenga: quem ganha mais não são essencialmente os mais produtivos). Os empresários repetem e não inovam, rentabilidades em declinio. A banca com a capacidade de endividamento acrescida pela adesão à UEM empresta dinheiro aos funcionários públicos, bancários, empregados de grandes empresas nacionais e quadros superiores para comprarem 1ª, 2ª, 3ª casa ou automóvel. Porquê: risco médio baixo devido a hipoteca (menor afectação de CP ao cumprimento do rácio de solvabilidade) e estabilidade de emprego. Alimenta os vorazes construtores civis e financia bolha especulativa imobiliária. O modelo de crescimento da banca só foi possível à custa da geração com agora 30 a 40 anos, pois não usufruiram de um mercado de arrendamento desenvolvido. Será necessário adiantar mais alguma distorção?? O nosso povo só pode é ser fantástico porque mesmo assim a nossa Economia existe.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Alguns comentadores manifestam-se no sentido da bondade do editorial.Têm direito à sua opinião.Quanto a mim considero-o como valendo 2 numa escala de 0 a 10!E porquê?Porque apenas diz banalidades.Além disso o editorialista,ontem(salvo erro) na Sic Notícias,pronunciando-se acerca das previsões(técnicas ou políticas) de Vitor Constancio-que é constante no "suporte" artificial de todos os governos, o que lhe fica "muito bem"- referiu que "as previsões têm como referencia os dados do 1º semestre" o que parece pura demagogia pois não existem outros dados.Ora se,como refere,tudo se apoiou nos dados do 1º semestre(quando ainda existia a Opel que representava,quanto a exportações,0,6% do nosso PIB) como raio é possivel preencher essa lacuna enorme numa conjuntura extremamente desfavorável(aumento preço do petróleo,instabilidade no meio oriente-e não só-!).Sejamos coerentes.O Simplex(herpes labial) nem chegou a ser "chão que deu uvas".Foi,é,e será uma falácia,uma invenção espúria, uma espéciede engana "meninos.... e come-lhe o pâo"!!

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Gosto imenso de os ler. Há três meses o boletim do BP trazia más notícias, a OCDE e UE também. Durante 15 dias a maioria dos nossos economistas embandeiraram em arco. O ministro das Finanças manteve a sua previsão de crescimento do PIB em 1,1% para 2006. Agora o BP prevê que o PIB pode crescer até 1,2%. Os mesmos "experts" desvalorizam despeitados, nem sequer valorizam o aumento das exportações. Talvez seja pedir muito a estes senhores para que sejam intelectualmente mais sérios.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

As noticias qdo consistentes são boas . Então " VG" não há comentarios ? Os profetas da desgraça fugiram , ou foram os meninos bonitos da direita ??!!!

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Escrevo como portugues interessado na economia do meu país e sem formação académica em economia. Tudo o que sei sobre esta ciencia aprendi-o en la calle. Afinal pergunto: sabemos após o ultimo boletim do BP que as exportações estao a subir e que serao o motor do ainda fraco desenvolvimento esperado para este ano.È este o caminho?todos sabemos das fragilidades do tecido produtivo nacional mas...meus caros gurus, reformas estruturais nao produzem efeitos em 15 meses. Ou preferimos medidas tampao de crescimento virtual suportado em construçao civil e obras publicas como foidurante anos? Perguntemo-nos se ao trilhar o caminho escolhido pelo PM e governo se vamos ser a Irlanda do Sul da Europa. Porque se eles tiverem certos, deixem-nos trabalhar...

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Este governo é o mais reformista dos últimos cem anos. Assenta em dois pilares fundamentais de reformas, um no combate à burocracia, outro na qualificação dos portugueses. Pelo meio há a reforma da Segurança Social e da AP e bem assim mais uma mão cheia delas. São reformas estruturais e estruturantes, não dão votos ao partido do poder mas vão mudar radicalmente o país, para muito melhor. Mas os resultados positivos só daqui a anos se verão. Então, sim, teremos uma retoma sustentável, porque baseada no conhecimento e na facilidade administrativa e tecnológica de empreender.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

José "vivo", parece claro que a tal possivel saude da economia assenta numa previsão que não se entende ,porque desligada de história.É boa ,é má?É uma questão de fé ,porque a realidade subjacente não se alterou: crescemos pouco e portanto baixas receitas,a despesa publica,que é responsabilidade directa do governo, não baixa e o resto é o do costume.Ou seja,nada que justifique os foguetes governamentais.Mas, há quem prefira a ilusão.Iludam-se!...

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Mais um artigo didático com que nos prodigaliza.Não deve é ter tido conhecimento aquando a concepção do artigo,das novidades,exaladas pela Direcção Geral do Orçamento,sobre a execução Orçamental no 1º semestre deste ano.Assim as receitas cobradas de impostos cresceram 6,2%,mas abaixo 1,9% do previsto orçamentalmente.Poder-se-á argumentar com as devoluções do IRS,mas o facto da Despesa ter aumentado 8,6%,vem a provar que o aumento da receita é que tem diminuído o défice.É evidente que o crescimento da economia (é ou devia ser )independente do Estado.Mas se olharmos que certos sectores só vivem á custa do Estado,eu não embandeiria em arco,como o Martim.De qualquer dos modos isto é indiciador que o que vai reduzir o défice é o aumento obsceno do IVA e dos outros impostos.Na DESPESA o regabofe continua,de forma chocante, pedem contenção aos contribuintes,e procedem como "marajás".As mordomias mantêm-se,os "job for the boys"continuam de forma chocante.Nos Ministérios a acefalia,é traço comum,uma vez que o cartão rosa é que manda,a competência foi de férias,o que é próprio da época que atravessamos.É triste, pois o embuste continua,e as pessoas depois de tanta "rebalderia"até de forma pateta aceitam toda esta palhaçada de sacrifício que vão ser inúteis,pois dificilmente com este modo de agir se cumprirá o défice de 4,6%.O lamentável,e revoltante é as pessoas estarem a sacrificar-se pela 2ª vez inútilmente.Infelizmente não se vislumbram melhoras.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

1.Estas "previsões" do B. PORTUGAL são SURPREENDENTES e podem ser mal interpretadas pelos Consumidores(Famílias e Empresas)já excessivamente endividados. 2.Estas "previsões", ao arrepio de outras economias europeias, podem daqui a alguns meses traduzir-se numa questão de credibilidade das Inst. Financ. 3.O actual Governo fêz muitos esforços no bom sentido,mas nem metade do caminho necessário foi ainda percorrido. 4.Os nossos problemas são estruturais,carecem de longos anos de REAJUSTAMENTO,com mudança de "paradigma". 5.Veremos os comentários dos Srs "José Vivo" em Janeiro de 2007 sobre o PIB,Exportações/Balança Fundamental,IDE,Emprego,R&D,etc.É a vida.

quinta-feira, julho 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

"VG" não respondeu ao Jose "Vivo". Você odeia o Governo e Socrates e o sucesso dos outros , ou será que você passa recibos verdes ,... pois a entidade patronal já toda a gente entendeu .

quinta-feira, julho 20, 2006  

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