Factos
"Ponto é que António Borges se nos afigura como o sujeito de uma acção muito mais imaginada e criada pela comunicação social do que por ele próprio praticada.
Facto 1: São indiscutíveis os méritos de António Borges no desenvolvimento da sua carreira profissional, seja no âmbito da academia, seja no âmbito da empresa.
Já são mais discutíveis os seus méritos na “ascensão” política que, com excessiva recorrência, o eleva a putativo líder do PSD.
Ponto é que António Borges se nos afigura como o sujeito de uma acção muito mais imaginada, realizada e criada pela comunicação do que por ele próprio praticada.
Isto para dizer que, em boa medida, o fenómeno Borges bebe uma parte da sua existência na necessidade noticiosa da imprensa, lato senso, e outra parte, no seu próprio cv profissional, este, depois ‘hiper’ dimensionado por um certo provincianismo que tende a idolatrar tudo o que vem lá de fora, ou que se impõe lá fora.
Facto 2: O mau caminho do PSD, alegadamente invocado por António Borges, com declarações ao jornal Expresso, não está tanto no facto de o líder do partido não fazer uso das inequívocas capacidades do economista e também do grupo que o segue, mas essencialmente no facto de este tipo de situações serem intencionalmente expostas, do modo que o foram, na praça pública.
Que ganha a mais o PSD com as declarações de António Borges?
A não ser o alimentar de um protagonismo de laivos muito narcisista, não vejo que benefícios mais possam ter sido atingidos.
Em boa verdade, seria melhor que todos quanto sentem sobre si recair os holofotes da comunicação social, soubessem utilizar essa exposição a beneficio dos partidos que militam e não a benéfíco de si próprios ou de qualquer grupo que agregam.
Um líder faz-se de competências técnicas, mas também se faz de habilidade política.
E esta, em António Borges, surge algo deficitária.
Facto 3: É indiscutível que os partidos políticos precisam de arejar as suas estruturas pensantes – quando as há – tantas vezes encrostadas em lógicas de funalização e de interesse próprio e proporcionalmente distantes de concepções e de projectos estratégicos de interesse nacional.
Neste aspecto, os partidos devem aprender a captar os melhores, a contar com os melhores, a trabalhar com os melhores, ao invés de os olharem como ameaça externa a projectos próprios de ascensão interna.
O bom, porque é bom, não pode ser visto como um obstáculo à mediocridade que tende a instalar-se nas estruturas partidárias, afinal, células indispensáveis no corpo de uma democracia que se pretende integrante.
É neste sentido que o PSD deverá saber importar o conhecimento de pessoas como António Borges e tantos, tantos outros.
Porque esta é a única forma de exportar para o eleitorado um projecto para o País.
Uma alternativa de governo.
Facto 4: É certo que por vezes as lideranças geram em torno de si próprias um conjunto restrito de pessoas que, intencionalmente ou não, tendem a fechar o círculo em torno do líder.
Também é certo que quanto menor o número dessas pessoas, mais fechado se vai apresentando o circulo.
Se isto está a acontecer com Marques Mendes, não é novo. Já com outros se verificou, no início ou mesmo na recta final dos seus mandatos.
Não é novo, mas é errado.
A ideia que os partidos pretendem transmitir com a criação de estruturas com vista a fomentar o pensamento estratégico ou grupos de missão substantiva e temporalmente definida, acaba, na prática, por revelar uma abrangência mitigada.
Simples: o desenvolvimento das coisas vai revelando que o objectivo de tais estruturas e grupos de missão se esgota nos nomes que as compõem ou até nos títulos de jornal que originam.
Facto 5: Entre as dúvidas de Cavaco Silva e as certezas de José Sócrates, a concretização do projecto do TGV tem que responder aos interesses estratégicos do País.
A ideia de que são precisos mais estudos acaba por reforçar a impressão que ficou aquando da divulgação do projecto: insuflar o ‘elan’ de uma nova dinâmica na acção do Governo.
Uma vez levantada a questão pelo Presidente da República o mesmo não poderá agora a deixar cair perante a intransigência / teimosia de José Sócrates.
Em fim-de-semana de muito calor, esta noticia que nos revela uma ponta da opinião do PR sobre o projecto do TGV terá passado despercebida a muita gente, mas a verdade é que a mesma transporta consigo o primeiro potencial de divergência pública entre PR e PM.
Não é que tal facto nos possa satisfazer.
Bem pelo contrário.
Mas menos nos satisfaz verificar que se avança com um projecto desta dimensão sem os estudos necessários para o fundamentar, ou sem a força argumentativa e institucional de um Presidente da República para os “impor”. Sim, entre aspas, porque não temos razão para deixar de acreditar na cooperação estratégica."
Rita Marques Guedes
Facto 1: São indiscutíveis os méritos de António Borges no desenvolvimento da sua carreira profissional, seja no âmbito da academia, seja no âmbito da empresa.
Já são mais discutíveis os seus méritos na “ascensão” política que, com excessiva recorrência, o eleva a putativo líder do PSD.
Ponto é que António Borges se nos afigura como o sujeito de uma acção muito mais imaginada, realizada e criada pela comunicação do que por ele próprio praticada.
Isto para dizer que, em boa medida, o fenómeno Borges bebe uma parte da sua existência na necessidade noticiosa da imprensa, lato senso, e outra parte, no seu próprio cv profissional, este, depois ‘hiper’ dimensionado por um certo provincianismo que tende a idolatrar tudo o que vem lá de fora, ou que se impõe lá fora.
Facto 2: O mau caminho do PSD, alegadamente invocado por António Borges, com declarações ao jornal Expresso, não está tanto no facto de o líder do partido não fazer uso das inequívocas capacidades do economista e também do grupo que o segue, mas essencialmente no facto de este tipo de situações serem intencionalmente expostas, do modo que o foram, na praça pública.
Que ganha a mais o PSD com as declarações de António Borges?
A não ser o alimentar de um protagonismo de laivos muito narcisista, não vejo que benefícios mais possam ter sido atingidos.
Em boa verdade, seria melhor que todos quanto sentem sobre si recair os holofotes da comunicação social, soubessem utilizar essa exposição a beneficio dos partidos que militam e não a benéfíco de si próprios ou de qualquer grupo que agregam.
Um líder faz-se de competências técnicas, mas também se faz de habilidade política.
E esta, em António Borges, surge algo deficitária.
Facto 3: É indiscutível que os partidos políticos precisam de arejar as suas estruturas pensantes – quando as há – tantas vezes encrostadas em lógicas de funalização e de interesse próprio e proporcionalmente distantes de concepções e de projectos estratégicos de interesse nacional.
Neste aspecto, os partidos devem aprender a captar os melhores, a contar com os melhores, a trabalhar com os melhores, ao invés de os olharem como ameaça externa a projectos próprios de ascensão interna.
O bom, porque é bom, não pode ser visto como um obstáculo à mediocridade que tende a instalar-se nas estruturas partidárias, afinal, células indispensáveis no corpo de uma democracia que se pretende integrante.
É neste sentido que o PSD deverá saber importar o conhecimento de pessoas como António Borges e tantos, tantos outros.
Porque esta é a única forma de exportar para o eleitorado um projecto para o País.
Uma alternativa de governo.
Facto 4: É certo que por vezes as lideranças geram em torno de si próprias um conjunto restrito de pessoas que, intencionalmente ou não, tendem a fechar o círculo em torno do líder.
Também é certo que quanto menor o número dessas pessoas, mais fechado se vai apresentando o circulo.
Se isto está a acontecer com Marques Mendes, não é novo. Já com outros se verificou, no início ou mesmo na recta final dos seus mandatos.
Não é novo, mas é errado.
A ideia que os partidos pretendem transmitir com a criação de estruturas com vista a fomentar o pensamento estratégico ou grupos de missão substantiva e temporalmente definida, acaba, na prática, por revelar uma abrangência mitigada.
Simples: o desenvolvimento das coisas vai revelando que o objectivo de tais estruturas e grupos de missão se esgota nos nomes que as compõem ou até nos títulos de jornal que originam.
Facto 5: Entre as dúvidas de Cavaco Silva e as certezas de José Sócrates, a concretização do projecto do TGV tem que responder aos interesses estratégicos do País.
A ideia de que são precisos mais estudos acaba por reforçar a impressão que ficou aquando da divulgação do projecto: insuflar o ‘elan’ de uma nova dinâmica na acção do Governo.
Uma vez levantada a questão pelo Presidente da República o mesmo não poderá agora a deixar cair perante a intransigência / teimosia de José Sócrates.
Em fim-de-semana de muito calor, esta noticia que nos revela uma ponta da opinião do PR sobre o projecto do TGV terá passado despercebida a muita gente, mas a verdade é que a mesma transporta consigo o primeiro potencial de divergência pública entre PR e PM.
Não é que tal facto nos possa satisfazer.
Bem pelo contrário.
Mas menos nos satisfaz verificar que se avança com um projecto desta dimensão sem os estudos necessários para o fundamentar, ou sem a força argumentativa e institucional de um Presidente da República para os “impor”. Sim, entre aspas, porque não temos razão para deixar de acreditar na cooperação estratégica."
Rita Marques Guedes
4 Comments:
Um artigo bem escrito,embora não comungue das ideias e preocupações da autora.Um PSD tão coeso como este,é a garantia da longevidade do Sr. Pinto de Sousa no poder.Embora a sua eventual substituição pelo PSD,não traria nada de novo.Era remédio velho para os Tugas,no fundo era mais do mesmo.Mais estudos para o TGV?É um assunto discutido há mais de 10 anos,só maus alunos e duros de ouvido ainda não entenderam.O TGV ou se aceita ou não se aceita.Por mim penso há muitos anos que a opção certa no nosso País seria a velocidade alta(+/- 250 km/h) e nunca a alta velocidade que está um bocado fora das nossas possibilidades.Por outro lado é ridículo andar a discutir estes problemas sem discutir uma nova rede ferroviária,pois a que temos data do séc XIX.Mas na Tugalãndia em vez de se discutir o cerne do problema,opta-se por discutir a"côr das cuecas de Platão"...
Factos 1, 2 e 3: Todos sabemos que um sapateiro jamais conseguiu ferir, com êxito, as cordas de um rabecão. Facto 4: Nunca é tarde para lembrar o episódio da conjura contra César, por altura do ano 40 A.C., e que teve em Brutus o seu personagem central. Brutus era um pretor sério, justo e corajoso que queria o bem do povo e do Império, mas foi instrumentalizado pelos opositores de César que o convenceram a assassina-lo. "Tu quoque, fili mi !". Brutus foi, então, perseguido por António e por Octaviano, tendo sido vencido nos campos de Filipus, na Macedónia. Sem esperança de salvar a república retirou-se do campo de batalha e deixou-se cair sobre uma adaga que lhe trespassou o coração. Ficou para a história como o protótipo do republicano inflexível, capaz de sacrificar a própria vida em defesa dos seu princípios. Será que a história se repete ... mas esta última parte parece estar um pouco fora de moda ... dignidade sim ... mas que baste!!! (he he he) . Facto 5: Se o TGV não contemplar contrapartidas que garantam a preservação da nossa integridade histórica, do nosso património e de que será um instrumento prioritáriamente útil ao nosso desenvolvimento, então não sei para que servirá ... e todas as dúvidas serão legítimas.
Se calhar, trata-se de um bluf! gerir "riqueza" é muito mais fácil que gerir a "pobreza" !. Melhor que todas estas "vedetas" da economia é a Aldina que, com um salário mínimo, criou e educou cinco filhos! é claro, que não comiam bifes, não vestiam fatos novos, não passavam férias nem cá-dentro nem lá-fora,mas andavam sempre muito decentes; cheguei a dizer-lhe que deveria candidatar-se a primeiro ministro; respondeu-me: só quando a Constiutição o permitir; como está, só dá para líderes partidários; como só vai para a política quem não sabe fazer mais nada!!!
Excelente o comentário do Sr.Manuel. Só acrescento isto : sem por em causa os méritos do Sr.Dr.António Borges,francamente não o estou a ver ganhar eleições.O seu discurso aparentemente não passa.
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