sábado, julho 15, 2006

O Estado do Governo.

"Entre gravatas luminosas e com o rigor solene da República, a comédia do estado da Nação repete-se perante o “entusiasmo” de um País “pobre, pequeno e periférico”.

Em Portugal confunde-se o estado da Nação com o estado do Governo. E o motivo parece-me simples. Se não é possível dizer nada de importante sobre o destino e a direcção do País, então que se ocupe o precioso tempo democrático na discussão da pequena filigrana. O Governo enaltece a “coragem” da sua “acção reformadora”. A Oposição denuncia as “promessas por cumprir”, a “máquina da propaganda” e a inevitável “traição à Esquerda”. Entre gravatas luminosas e com o rigor solene da República, a comédia do estado da Nação repete-se perante o “entusiasmo” de um País “pobre, pequeno e periférico”.

Mas o estado do Governo é sobretudo a imagem de Sócrates. E Sócrates é um produto atípico. A sua imagem ‘popless’ fica bem nas Kodaks digitais. Enquanto Primeiro-Ministro, Sócrates tem o perfil típico de um ‘political operator’ - frio, calculista, prático e arrogante quante baste. As “paixões” e as “convicções” que o PS tanto gosta de invocar são estranhas ao universo de Sócrates. O Primeiro-Ministro é sobretudo um “gestor” – um “gestor” de interesses, de sensibilidades e de corporações. A sua lógica é a pura lógica do poder. A experiência política de Sócrates consegue simular um movimento no centro de um País imóvel. O método de Sócrates consiste numa sequência de gestos políticos sem acção política. E se não provoca grandes paixões, também não inspira grandes ódios. A imagem de Sócrates reune a essência da “modernidade” e do “progresso”. O Governo de Sócrates promete ao País a mesma “modernidade” e o mesmo “progresso”. O programa de Sócrates é o programa do Governo.

Percebe-se então a melancolia que vai dominando o PS. Percebe-se a indignação de algumas vozes que afirmam que “a capacidade de produção deste Governo é tão atípica que o PS precisa de a perceber melhor”. Percebe-se também a lógica de um discurso que alerta para a futilidade de se “confundir estratégia de Governo com ideologia”. Convém esclarecer que o PS resulta da união de muitas divisões – o republicanismo, a maçonaria, a Esquerda católica, o movimento estudantil, a resistência anti-fascista, o exílio, a experiência democrática, a nova geração Guterres. Mas o que Sócrates deseja é apenas um “partido pacificado sobre o rumo da governação”. Bem ou mal, o que o PS começa a perceber é que se o projecto Sócrates falha, o que resta é pouco ou coisa nenhuma.

À imagem de muitos portugueses, o estado do Governo vive de um crédito sobre o tempo – vive sobretudo de um tempo emprestado, dependente de um subsídio da dúvida. Quanto ao estado da Nação, esse fica para mais tarde. Fica para mais tarde e depende da minúcia de dois números – o número do ‘deficit’ e o número do crescimento económico. Neste particular, não existe rigor solene que nos salve. E descontando todas as palavras, convém sempre relembrar a evidência no País do curto prazo
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Carlos Marques de Almeida

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom artigo.Sócrates é um bom actor que suscita o aplauso da maioria,que ,como se sabe, é pouco exigente.Ele não fala das questões reais ,de fundo ,até porque a talvez nem as conheça e a peça seria um drama.Assim é uma espécie de morango com adoçante,coisa que só os espectadores mais esclarecidos não apreciam.Mas, nesta democracia,ganha quem tem mais votos,ou seja ,mais "share" de audiencia.

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O país pode ser pouco exigente mas não é tolo. E de facto se a estratégia de Sócrates não resultar não vejo qualquer alternativa melhor. Mas eu sou um português comum, admiro-me é como com tantas luminárias elitistas o país está como está.

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Redacção sobre o debate, de ontem, relativo ao "Estado da Nação": eu gostei muito de os ver, todos muito suados certamente pelo esforço despendido naquela grande azáfama. Gostei muito de saber que vamos ter um dia do cão; gostei também daqueles temas em que se abordou o cabrito, o lobo a couve, ... tudo muito bonito que me deixou contente e crente num futuro de fadas. Também gostei de ver que todos os partidos estão de acordo e que, estando num mesmo barco, já muito roto, conjugam esforços para que o mesmo não se afunde. Assim, sim, bem hajam.

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O que eu realmente gostaria de saber é como uma pessoa que apresenta estas "conclusões" consegue dormir descansado à noite! Será que o Sr. Jorge Coelho vive num mundo de fantasia (cor-de-rosa) tal como o Sr. Primeiro Ministro? Vamos por partes: 1º- Os números não dizem nada, apenas suportam interpretações. Essas interpretações podem ser tão díspares como as que forma apresentadas ontem no debate da nação pelo Sr. José Sócrates e pelo Sr. Marques Mendes. E ninguém pode desmentir a posição do outro, pois os factos (números) são os mesmos. 2º- As coisas só podem ser comparadas com realidades semelhantes (também conhecido por "batatas comparam-se com batas e cebolas com cebolas"). Ora, o Sr. Jorge Coelho tem o desplante de nos comparar realidades do 1º trimestre de um ano com realidades do 2º trimestre de outro ano! Enganou-se? Não creio. Penso que o Sr. Jorge Coelho é muito mais inteligente que isso. 3º- No comentário do défice não apresenta os números, mas diz que a situação actual é melhor. O problema é que os números são semelhantes e Portugal continua com défice excessivo! Só posso concluir que o Sr. Jorge Coelho deliberadamente mentiu a todos os que leram este artigo. E interrogo-me novamente: como consegue dormir?

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Após a mutação de "economista" para "membro do Conselho de Estado" (pergunto eu em que beneficiará o Estado dos seus conselhos), o estilo José António Saraiva, frases curtas, com pretensões a aforismo, com uma tendência inevitável para a palissada: "Mas como é óbvio há ainda muito para fazer"; com a ausência de percepção estilística: note-se o seguinte exemplo, onde, em 33 palavras, 3 são "que", ou seja, 9% "o que quer dizer que a economia esta a “mexer”embora, por regra, só depois de um período de crescimento económico sustentado é que se verifica uma melhoria substancial nos níveis de emprego."

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

«Governo e oposição trocaram argumentos num debate que marca o final do ano parlamentar ». JÁ! "Atão" não foram férias como estas que deram origem ás greves na justiça?O que é válido para uns não é válido para os "distintos parlamentares"? E já que estamos a falar nesta desgraça do estado da nação vamos falar no estado da educação?Com a miserável média de notas a matemática e português, que tal acabar com os 3 meses de férias dos professores e obrigá-los a darem aulas de apoio aos alunos com piores notas para que os mesmos pudessem recuperar o que não aprenderam durante o tempo de escola normal? Afinal temos os prof. mais bem pagos da europa sem a correspondente qualidade de educaçãqo!E que dizer dos médicos e enfermeiros deste país!GAsto total per capita na saúde: Portugal-- 1.791 euros // Espanha--1.853 euros , mas há mais médicos por 1.000 Hab.em Port. do em Esp.,os médicos port. ganham mais 40%em média do que os espanhois mas atendem menos doentes p/sem.(P:89,Esp:154).ESpanha onde a média de listade espera para cirurgia é de 4 meses e em que para consultas primárias em C.Saúde o tempo de espera máx. é de 4 dias!É deste estado da nação que quer falar?

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Faço ao dr. Coelho uma única pergunta: A situação internacional era a mesma, nos dois tempos da análise? E que para alguém vender, não basta ter óptimos produtos, é preciso haver quem compre! Vivo no Algarve e aqui, mais que em qualquer local do País, se nota que ingleses e alemães só aparecem, quando têm dinheiro para vir! Não me parece que os Hotéis se encham ou não, por simpatias com o PS! Faça um favor: já que quer ser comentador, pelo menos aprenda a não ser faccioso. "Verdadeiramente" só pode ser comentador quem consegue ser objectivo, coisa que o sr. dr. não é! Por acaso já reparou, que os seus colegas da "Quadratura do Circulo", conseguem fazer isso e o sr. não? Já reparou que as suas análises são tão isentas, como eram as de Álvaro Cunhal quando falava do "Sol da Humanidade"?

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Sr. Coelho, tendo sido o braço direito de Ferro Rodrigues (representante da Esquerda Mole), como é que se vai assumir neste próximo congresso do PS? Eu dou-lhe já a resposta: Vai colar-se a Socrates! Pois é, adivinhei não é? Enquanto embaixador da ala mole do PS, vai fazer-se passar por bom aluno e apaziguador dos ex-imobilis do PS. Isto para dizer que, é verdade, fez-se tanto num ano e tão pouco nos anos em que os seus amiguinhos estavam no trono!

sábado, julho 15, 2006  
Blogger PA said...

Nunca vi um casamento tão perfeito entre PM e PR, como este de Sócrates/Cavaco.
Penso que o Partido que está a governar Portugal é esta dupla de homens de e do Poder, ambos de direita.
Sócrates a gerir corporações !???
Sim, a atacá-las, talvez !!!
Siga a marinha !

sábado, julho 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

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quarta-feira, julho 19, 2006  
Anonymous Anónimo said...

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segunda-feira, julho 24, 2006  
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quarta-feira, fevereiro 14, 2007  
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sexta-feira, março 02, 2007  

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