Vontade de mudar.

Os jovens na Cova da Moura têm um ídolo que se chama Celé. Nasceu Osvaldo Anildo Silves Ferreira Vaz, mas a tendência para o crime cedo o baptizou como ‘Celé’. Condenado pela primeira vez aos 16 anos, por roubar carros e malas por esticão, estreia-se a matar no ano seguinte, num tiroteio entre ‘gangs’, na Cova da Moura, Damaia. Os limites estavam ultrapassados definitivamente. ‘Celé’ estava num caminho sem volta, o caminho do crime. A partir daí sentia-se capaz de tudo e isso era suficiente para viver. Roubar, traficar droga e matar eram para ele como que tarefas domésticas, tal a facilidade com que as executava. A fama cresceu proporcionalmente à gravidade dos crimes. Chamavam-lhe o ‘Mata Polícias’.

No final de Outubro acabou o sonho de um jovem que um dia ambicionou dominar o Mundo pelo poder de fogo da sua Six Sauguer. Numa operação do Grupo de Operações Especiais (GOE), ‘Celé’ foi alvejado com 42 tiros de pistola-metralhadora, um número que, por si, justifica o estatuto de inimigo público no 1 e coloca o ‘Mata Polícias’ entre os mais famosos criminosos portugueses de sempre.

Num país aonde os valores morais se inverteram, é natural a valorização do criminoso e a marginalização do cumpridor. Desde a morte de Celé, o objectivo dos jovens é atingir a fama que Celé teve e vingar a sua morte. A polícia para eles é o Diabo.

A teoria do coitadinho, tanto em voga no nosso país, desculpabiliza os jovens. Com efeito, essa teoria, já há muito exausta, aponta o facto de os pais trabalharem de sol a sol e deixarem os filhos na rua como a causa da sua delinquência. Nada de mais falso. Praticamente todos os pais trabalham e deixam os seus filhos sozinhos em casa sem problemas de maior. A desculpa da miséria também não pega. Efectivamente mais de metade dos portugueses está na “bancarrota”.

O problema aqui reside na cultura desses jovens. Influenciados pela cultura violenta da América negra, a juventude segue fielmente as suas pisadas. Os pais também não estão isentos de culpa. Na maioria das vezes, incentivam os próprios filhos a serem marginais, sabendo que a impunidade impera neste país. Isto quando não são eles próprios os criminosos.

A Amadora está cercada de bairros problemáticos e as notícias não são as melhores. A cidade simplesmente tornou-se a mais insegura do país. A Câmara fala na requalificação da Cova da Moura. Mas tal como a CRIL...

Entretanto os gangs continuam a crescer perante a passividade dos nossos governantes. Haja vontade de solucionar o problema...