Redefinição do sistema internacional.
"Agora que o mundo está, de facto, perante a ameaça real de um Irão radical, apoiante de terroristas, a trabalhar para a bomba atómica, pouco mais podemos fazer que aguardar estupefactos por um improvável assomo de bom senso. Porque, seja o que for que a América ou "nós" fizermos para conter os fanáticos de Teerão, teremos sempre de contar com a resposta do vespeiro de terroristas que Bush criou ali ao lado, no Iraque."
DN
"Com uma natureza inerentemente trágica, este conflito, que agora dá os primeiros passos, assume-se como um pedaço de História na redefinição do sistema internacional e das futuras relações de poder entre os aliados no Ocidente. A cúpula de poder norte-americana começou uma epopeia que não representa um fim em si mesma, mas uma etapa da nova geoestratégia assumida pela administração Bush, desde a sua ascensão à Casa Branca.
Mais do que a remoção de Saddam Hussein e a destruição do seu eventual arsenal de armas de destruição maciça, Washington está empenhado na criação de um novo paradigma para as relações internacionais. Desta forma, a guerra no Iraque está longe de ser única e exclusivamente uma consequência do 11 de Setembro, assim como a abordagem hostil à Coreia do Norte e Irão.
Talvez, os atentados perpetrados pela a al-Qaeda tenham precipitado e delineado a ordem dos acontecimentos, mas o discurso maniqueísta de Bush e a recorrência à retórica da Providência enquadram-se num objectivo geoestratégico a médio e longo prazo, doutrinado no pensamento dos estrategas e especialistas da administração Bush.
Em jogo não está propriamente dita a emergência de uma nova ordem mundial, mas, sim, o ajustamento de um novo modelo emanado da anarquia sistémica proveniente dos acontecimentos de 1989-1991. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a consequente implosão da União Soviética, em 1991, começou-se a falar em "dividendos da paz" e do triunfo dos valores e instituições comuns euro-americanas, com o "final da História", de acordo com Francis Fukuyama.
No entanto, o processo de metamorfose sistémica revelou-se dinâmico, e a ruína do regime bipolar de Guerra Fria não foi substituído harmoniosamente pela tão falada nova ordem. No Ocidente, os líderes e os seus povos afirmaram-se em novos projectos e diferentes interpretações sobre o futuro das relações internacionais.
O resto do mundo desprendeu-se da complexa rede montada durante cinco décadas, dando espaço de manobra a todos os prevaricadores que orientam a sua vida em projectos extremistas. A guerra ao Iraque é um reflexo da unipolarização do sistema internacional, assente na hiperpotência, Estados Unidos. A falência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a fractura do eixo transatlântico e a fragmentação na União Europeia elevam a guerra iraquiana e o período pós-Saddam, para um patamar ideológico e orientador do equilíbrio futuro entre os principais actores das relações internacionais. Mais do que a uma guerra, para muitos analistas o mundo poderá estar a assistir à degradação do sistema de alianças forjado dos escombros da IIGM.
Se os Estados Unidos poderão estar predispostos para adoptarem atitude neo-isolacionista, dando uma lição à "velha Europa", e deixando a sua defesa e estabilidade nas suas mãos, isto não quer dizer que os líderes europeus não possam tirar benefícios desta crise, catapultando a construção europeia para outros níveis de integração.
Mas, se a Rússia e a China surgem naturalmente nesta crise como actores relevantes do sistema internacional, a Europa no período pós-Saddam terá de fazer por isso. Durante os últimos catorze anos, o "velho continente" não quis pagar a factura do peso "geopolítico" nas relações internacionais. Hoje, não surpreende que os Estados Unidos estejam no Golfo Pérsico à revelia do Conselho de Segurança, e o contra a vontade da França e da Alemanha."
Alexandre Guerra
1 Comments:
A agua pesada e, segundo um ministro iraniano, para uso medicinal. Como exemplo deu a cura da SIDA....
Inshallah
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