terça-feira, outubro 10, 2006

Ainda o “envelope 9”.

"Há uma insustentátevel leveza em todas as frases e actos do ainda Procurador Geral da República. A entrevista que deu ao “Sol” e as frases ditas na apresentação do seu livro (com o curioso nome “direito ao assunto”, o que só pode ser uma fina ironia), mostram um homem que faz o seu auto-retrato perfeito e que acha tudo normal.

Penso que não vale a pena perder muito tempo em analisar todos os “casos” de Souto Moura, desde as frases surrealistas sobre Carlos Cruz ou Herman José (o célebre “pode ser”), até à incompetente decisão de colocar uma carta anónima de um louco no processo da Casa Pia (com acusações ao Presidente da República!) ou à diligente forma com que a Procuradoria acabou com a carreira política do líder do maior partido da oposição, numa investigação incontinente
."


Ao princípio chateava-nos ler tanto comentário ao envelope 9. Especialmente quando os diversos textos mais pareciam um concertação monocórdica. Mas analisando melhor, começam a divertir-nos. Manifesta-se Ricardo Costa Contra “a incompetente decisão de colocar uma carta anónima de um louco no processo da Casa Pia”. Ora se o jornalista tivesse o cuidado de ler a entrevista a Souto Moura, veria que a incompetente decisão não foi da responsabilidade do PGR. Como Ricardo Costa pode constatar na entrevista por ele próprio mencionada e, aparentemente não lida, Souto Moura afirma “esta carta nem foi o MP que a meteu no processo, foi o juiz de instrução”. Curiosamente Souto Moura também afirma “a campanha desproporcionada que depois se fez mostra bem aquilo a que estamos sujeitos”.

Quanto ao "louco" que escreveu a carta …

" Mas o “envelope 9” merece ser analisado uma última vez. Souto Moura e muitas pessoas que trabalham na área da Justiça teimam em dizer que os oito meses que demorou a dar uma resposta ao Presidente da República são absolutamente normais.

O argumento do PGR é este: não há processos de primeira, as investigações demoram o seu tempo, o caso era complexo e a PGR tinha que ter tudo pronto para descobrir eventuais acusados
."

O argumento do PGR, que pode ser lido na página 33 do suplemento do SOL é “ao ouvir certos jornalistas falarem do caso, sou levado a pensar que nem o último comunicado leram. Claro que o inquérito acabou por durar oito meses – mas, como me fartei de repetir, a investigação do MP estava pronta em dois meses. Não tenho culpa que a defesa tenha interposto um recurso que só baixou do Tribunal da Relação no passado dia 13. Ou seja, em oito meses, seis não são da responsabilidade do MP. Sabem … não há pior cego do que aquele que não quer ver.”

"Só que não foi nada disto que Jorge Sampaio lhe pediu. Sampaio conhece a lei e sabe que um pedido dele não acelera um processo. Mas sabe que o Presidente da epública tem o direito (e o dever) de pedir explicações ao PGR sobre um processo que (uma vez mais) o envolvia directamente e divulgava centenas de números de telefone pessoais.

O ex-Presidente queria, apenas, saber como é que era possível que uma folha de Excel ficasse à vista de todos num processo tão complexo. E a explicação para isso descobria-se (como se descobriu) em meia dúzia de dias e outras tantas diligências.

Mas Souto Moura sabia que Jorge Sampaio nunca o poderia demitir: estava na última semana de mandato e as acusações de “vingança” do PS seriam difíceis de gerir para um Presidente em final de mandato. Com este calendário e com estas circunstâncias tudo correu nos célebres oito meses. Sampaio ficou sem resposta e o Procurador ficou com o lugar
."

Ricardo Costa no Diário Económico (ler aqui).

Se “Sampaio conhece a lei e sabe que um pedido dele não acelera um processo”, porque exigiu que as “averiguações estejam ultimadas a curtíssimo prazo”?

Se “Souto Moura sabia que Jorge Sampaio nunca o poderia demitir” porque demorou oito meses a revelar algo que se descobriu “em meia dúzia de dias e outras tantas diligências”? Sem que a sua teoria tenha mais explicações por parte do seu autor (Ricardo Costa), ela não faz qualquer sentido. E para agravar ainda mais essa falta de sentido, o PGR estava desejoso de sair.

E depois há este pequeno e delicioso pormenor que Souto Moura menciona na entrevista: “Cheguei a ter gente aqui às onze da manhã e sair de casa às 17 Horas e ainda estavam sentados no passeio, à minha espera. Vi-me pressionadíssimo. E quem não me largava a porta era quem depois me criticava por dizer coisas que não devia”.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Depois de ler a entrevista do Dr. Souto Moura reforcei a minha convicção de que tivémos um PGR sério, com uma enorme dignidade decorrente do que revelou e do que omitiu, e que ainda hoje teria uma saída airos se não fosse o processo casa pia e todo o envolvimento de polítcos, empresários, diplomatas e artistas...curiosa a refeência ao dr. júdice, exactamente o mesmo que eu pensei à época, então um bastonário dos advogados que só se preocupa com os direitos dos pedófilos e não tem uma única referência para com as vítimas, que tipo de pessoa é? Bem, devia ser a mesma consideração que tinha nos tempos das bombas da elp...
Certamente que o Dr. Souto Moura cometeu os seus erros, julgo que circustancias e sem relevância, não fosse precisamente o polvo ter os seus tentáculos dentro da Procuradoria e conseguir que um diário de referência fizesse uma alusão nojente ao Dr. Sampaio, precisamente para queimar o Dr Souto Moura...
Enfim, um país que não dá ao PGR meios para fazer face a uma criminalidade crescente, é um país que não se dá ao respeitor a si próprio, e aqui talvez o Dr. souto Moura não devesse ter pactuado coa os políticos, faltou o tal "murro na mesa".
Como cidadão agradeço-lhe tudo o que fez enquanto PGR, e desejo-lhe felicidades na sua vida pessoal e na pintura.

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Acredito que o sr. Procurador Garal da República cessante é um homem competente, sério, honesto e imune a pressões.

Por tudo isso foi cruxificado na praça pública pelos implicados nos processos mediáticos e respectivos "amigos".

Esperamos e desejamos que o novo PGR siga o seu exemplo.

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Se a história alguma vez vier a falar a verdade, destes "anos dourados" desta "exemplar" democracia, não me importava de renascer outra vez Português só para saber a verdade destes imbróglios todos, deve dar umas boas semanas de interessante leitura, senão digam-me se durante estes 32 anos, se passou algum tempo em que não houvesse corrupção, golpadas, todo o tipo de oportunismos, contribuindo para a detioração da imagem de Portugal que cada vez mais está ao nível dos países do 3º Mundo, terá sido para isto que se fez o 25/4/74?
E esses que tanto apregoam esse feito "heróico", também era disto que estavam à espera?
Eu não sou daqueles que dizem ter vergonha de ser Português, mas sinto pena de termos saído de um regime autoritário que apesar de tudo, era muito menos corrupto, para uma situação destas em que quem não se corrompe e alinha em esquemas, bem pode ficar a falar sózinho.
Será isto Democracia?
Não isto é a pura partidocracia sem valores nem honra, um nojo.
Os Portugueses que não se ponham a pau e ainda hão-de ver esta Nação, ou o que resta dela, vendida em hasta pública.

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Há uns anos atrás,falava-se muito em corrupção foi este o tema escolhido por Jorge Sampaio para o discurso de abertura solene das aulas na Universidede de Coimbra.
Lido e relido o discurso,por acaso dias depois encontro-me com um cidadão por
quem tenho muita admiração e foi funcionário da PJ, falando-lhe no discurso do
Ex ?presidente da República ,disse-lhe que com essas palavras o mais alto magis-
trado da Nação iria contribuir para o agravamento da CORRUPÇÃO?
Sou,por experência ao longo dos anos,muito céptico quanto ao efeito destes recados
presidenciais nas horas de pompa e circunstância?
Dizia mais ou menos isto?Pois bem,quem falar agora de corrupção terá de provar.
E pensava cá para mim,como é que um gatuno poderá passar um recibo daquilo que
rouba??
Bem ,o tal cidadão concordou comigo e ao longo dos anos,ouvimos falar de corrupção
continua?e continuará.Infelizmente faz parte da? DEMOCRACIA? e das politicas.
Agora ,já ouço outro presidente e outro PGR com outro tom ,mais entrado na realidade
do país e talvez na democracia,visto a corrupção ser uma consequência desta
Vamos lá ver o que se vai seguir,esperemos que se finalizem os processos em curso e
que parece nunca mais terem fim?

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

A antiga ministra da Justiça no tempo do Durão Barroso também chegou com este discurso, passado uns meses constatou-se que era tudo "léria". Os outros PGR's a mesma treta - Basta ver os casos Fátima Felgueiras, Casa Pia, os Directores das Finanças que roubavam e foram promovidos e uma série de "Mamões" absolvidos pela Justiça estúpida ou pela incompetência, nos casos que prescrevem propositadamente...!!!
Este PGR para demonstrar que não é um pau mandado dos Bancários, Empresários, Políticos, Directores de empresas públicas (Câmaras, finanças, etc), deve realmente caçar os "Cães grandes"; mas isso dá trabalho e mexe com interesses instalados e Bem instalados. Portanto sou como o S. Tomé "Ver para CRER".
Quer um conselho vá buscar a Magistrada Maria João Morgado, que ela já conhece bem os corruptos e os Dossiers esquecidos propositadamente, com muitas "Luvas" à mistura.

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Sem querermos subtrair-nos ao princípio da presunção da inocência, pilar central do direito moderno e segundo o qual compete à acusação o ónus da prova, a verdade é que se espera do novo Procurador-Geral a capacidade de fazer com que para os casos sórdidos como, por exemplo, o Apito Dourado, as investigações sejam levadas até ao fim e os arguidos levados a julgamento sem olhar a nada e a quem quer que seja.
Já tivemos oportunidade de ler que este é um caso de reduzida importância quando comparado com outros que envolvem figuras gradas da política e do mundo empresarial. Será... Contudo, se naqueles casos temos uma há múltiplos meios de remeter tais práticas para a insignificância da história de que só restem excepções -o mundo perfeito e limpo não existe e provavelmente nunca existirá- já naquilo que se configura no mundo do futebol temos um misto de organização interesseira com a culturazinha de corrupção larvar que há muito faz parte da ideossincrasia de um povo habituado a viver de cunhas e pequenos favores de continuos que o Antigo Regime gerou e nem a monarquia constitucional ou a primeira república foram capazes de alterar e que o salazarismo agravou com o mundo de injustiça social a que obrigou o raso portuga a viver sem alternativa. Depois, pelo peso que o futebol tem neste triste país, ainda pobretana e iliterado, temos visto a promoção de certas figuras que ainda mais promovem a cultura do vale tudo e do salve-se quem puder em detrimento de uma cultura de respeito pelo outro e de afirmação da força de trabalho e da competência de cada um.
Assim, espera-se pois do novo Procurador-Geral que seja capaz de manter a independência deste orgão de poder e a partir daí seja capaz de promover um combate ao crime e à corrupção sem hesitações e muito menos deferências perante quem quer que seja e, em consequência, seja um dos pilares do estado de direito que ainda não somos mas que teremos necessariamente que vir a ser se quisermos viver num país normal e civilizado.
A alternativa é a sedimentação de uma terra franca do crime organizado.
Nós o povo, para já, estamos na bancada, fazendo figas para que tudo corra bem.
Não teremos que esperar muito para sabermos o que vem aí.

terça-feira, outubro 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Os portugas são mesmo uma merda ao permitirem ser uns pretos a mandar nesta republica africana

terça-feira, outubro 10, 2006  

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