9 de Novembro de 1989.
O Muro de Berlim caiu há quinze anos. As cerimónias, como todos os anos, vão começar de manhã, no Memorial da Bernauer Strasse, onde o paredão começou a ser desmantelado. Ali vão amontoar-se ramos de flores em memória dos caídos - 1065 desde o dia 13 de Agosto de 1961, quando o "mauer" começou a agigantar-se e a alastrar até atingir 155 quilómetros, incluindo os 43 da cidade. O programa inclui à tarde um debate em que participarão o antigo chanceler cristão-democrata Helmut Kohl e a antiga militante leste-alemã dos direitos humanos Barbel Bohley. Título da discussão: "A queda do muro e o que fizemos desde então". Local: Teatro Traenenpalast, ou Palácio das Lágrimas. À noite há um "concerto pela liberdade e a democracia" em memória das vítimas da repressão. Executante: Orquestra Sinfónica do Chile.
Indícios:
Na década de 70, já há indícios da crise do sistema político soviético. Os movimentos nacionalistas crescentes, aliados a décadas de escassez econômica e governos arbitrários, estimulam mudanças no comunismo. Em 1985, o presidente soviético Mikhail Gorbatchov inicia um programa de reforma política, econômica e social (perestroika), que traz à tona divergências dos Estados soviéticos. A Queda do Muro de Berlim , em novembro de 1989, marca o início da extinção do regime comunista no Leste Europeu e provoca uma crise generalizada nos partidos comunistas, que, na sua maioria, abdicam ao nome, programa e ideologia. Em 1991, a URSS desintegra-se e as ex-repúblicas soviéticas formam a Comunidade de Estados Independentes (CEI) (ver Federação Russa). Sobrevivem, contudo, os governos comunistas da Coreia do Norte, Vietnam, Cuba e China. Com exceção do primeiro, que ainda é um regime bastante fechado, os demais países já adotam algumas medidas econômicas de mercado aberto.
Muro de Berlim:
Desde que foi construído até 1989 o muro de Berlim, como ficou conhecido, foi o símbolo da separação dos blocos capitalista e comunista e da «Guerra Fria». Era o ponto máximo da rivalidade das duas potências. Mas nos fins da década de 80, começou o redespertar das nacionalidades, com a desagregação de alguns países como a Checoslováquia e a Jugoslávia, e também o desejo de reunificação das duas Alemanhas. Os enormes fluxos migratórios da Alemanha de Leste para a Alemanha de Oeste, durante o verão de 1989, tornaram-se impossíveis de controlar. Por isso, a 9 de Novembro de 1989, teve que ser autorizada a livre circulação entre as duas partes de Berlim, e como consequência a destruição do muro. Nessa noite os alemães de um e de outro lado da cidade subiram e dançaram em cima dele. Reinava a alegria, todos festejavam, enquanto vários faixas do muro iam sendo cortadas e deitadas abaixo. Nesse momento histórico não se estava apenas a deitar abaixo uma parede: a sua queda do muro de Berlim significava a queda dos regimes comunistas, o fim da Guerra Fria e de toda a tensão mundial e a abertura ao mundo.
O político:
Helmut Kohl ficará para a história como o homem que conduziu a Alemanha à reunificação. Até mesmo os seus críticos lhe reconhecem a capacidade de liderança no momento crítico que mediou entre a queda do Muro de Berlim, em Outubro de 1989, e a declaração formal da reunificação, um ano depois. Sucessor de Helmut Schmidt, tornou-se chanceler em 1982 e manteve o cargo até 1998, o mais longo ‘reinado’ na chancelaria desde Otto von Bismarck. Na sua defesa intransigente da Alemanha unida conseguiu devolver ao mundo ocidental a confiança no antigo ‘monstro’, pátria de Hitler e do nazismo. Mas enganou-se de forma clamorosa quando prometeu aos alemães que um dos frutos da reunificação seria a prosperidade. Foi líder da União Cristã Democrata (CDU) desde 1973 até ao seu afastamento, sem honra nem glória, na sequência de um escândalo de financiamento ilegal do partido. O SPD, de Gerhard Schroeder, foi o grande beneficiário do escândalo, obtendo uma vitória estrondosa nas legislativas de 27 de Outubro de 1998. Uma das últimas revelações do caso de corrupção teve lugar em 2003 quando se tornou público que Kohl recebeu 300 mil euros de Leo Kirch, magnata da televisão privada alemã. Justificação oficial: pagamento de serviços de consultoria.
Fantasmas do passado:
A Alemanha ainda não pacificou os seus “fantasmas”. Mais de meio século após o final da Segunda Guerra Mundial e 15 anos volvidos sobre a reunificação, continuam abertas as cicatrizes do conflito bélico mais sangrento do século XX e do pós-guerra de convivência tensa num país dividido pela força das armas e a ideologia. Esta sombra é alimentada pelo infindável ajuste de contas com o passado. Em Agosto último, por exemplo, foram sentenciados os antigos responsáveis políticos da Alemanha de Leste Hans-Joachim Boehme e Siegfried Lorenz, actualmente com 74 e 73 anos, respectivamente. O tribunal considerou-os responsáveis morais pela morte de três jovens que tentaram passar o Muro de Berlim entre 1986 e 1989. A sentença, mais simbólica do que efectiva, é polémica por parecer julgar, mais do que as pessoas, a ideologia que serviram. O Muro de Berlim continua também polémico. Depois de demolido na quase totalidade, alguns segmentos foram mantidos e transformados em monumentos. Mas um novo segmento agora reerguido foi criticado como puro gesto de propaganda turística. Unida e reintegrada na comunidade internacional, a Alemanha continua a viver mal com a memória.
Consequências:
Considerado como um símbolo do fim dos regimes comunistas do Leste Europeu, a queda do muro no dia 9 de novembro dá início ao processo de reunificação da Alemanha, concluído em 1990 sob o comando do chancelar alemão Helmut Kohl. Na queda do muro, observou-se profunda diferença existente entre as duas Alemanhas (Oriental e Ocidental). Na parte Oriental, constatou-se um grande atraso tecnológico. Na euforia, muita gente não previu as futuras dificuldades por que a Alemanha iria atravessar: fecho de muitas empresas, desemprego, instabilidade, o que viria a despertar movimentos político-sociais, como o neo nazi.
A taxa de desemprego, de 8 por cento em média nas regiões orientais, atinge mais do dobro nos antigos territórios da República Democrática Alemã, onde além disso o tempo de trabalho é maior e os salários são mais baixos. Numa sondagem recente, interrogados sobre se sabiam o que aconteceu no dia 9 de Novembro de 1989, 67 por cento responderam bem, 32 por cento, mal. O estudo mostrou que as respostas certas vieram na sua maioria do leste e as erradas do oeste, em geral de pessoas com menos de 29 anos. Uma outra sondagem de opinião mostrou que 17 por cento dos alemães acham que "o Muro não devia ter caído".
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