O gato e o rato
"Sócrates imita Sócrates e apresenta a factura sobre o futuro, o PSD entrega-se a Santana Lopes e reclama a factura sobre o passado.
Depois do debate sobre o Orçamento, sobra a evidência – o passado de Santana Lopes lançou uma hipoteca sobre o futuro do PSD.
Mais ainda. Para o PSD, a operação Orçamento resultou num profundo fracasso. Enquanto Sócrates imita Sócrates e apresenta a factura sobre o futuro, o PSD entrega-se a Santana Lopes e reclama a factura sobre o passado.
Passado ou presente, mas certamente com equilíbrio e lucidez, anunciava-se um “novo ciclo político”, prometia-se mesmo o princípio do fim do Governo Sócrates. Mas Sócrates surpreendeu com um discurso frio, agressivo e marcado por uma ironia política mortal. E em cinco minutos, Santana Lopes cometeu dois erros fatais. Em primeiro lugar, o líder parlamentar do PSD esqueceu uma regra de ouro da vida política – um político não se deve justificar, muito menos queixar. Em segundo lugar, Santana Lopes abordou o debate com o espírito de primeiro-ministro. No entanto, com o discurso limitado pelo tempo e debilitado pela falta de autoridade, a pompa do antigo primeiro-ministro foi o desastre para o actual presidente do Grupo Parlamentar. Enquanto Sócrates fez política e discursou para o Parlamento, Santana Lopes tentou a “reabilitação” perante a Comissão para a Verdade e Reconciliação.
Mas para além das circunstâncias do debate, surgem duas interrogações para o futuro. Desde logo, Santana Lopes exibiu uma surpreendente inexperiência em relação às regras da discussão parlamentar. Para um partido como o PSD, será possível uma oposição eficaz com um líder parlamentar inexperiente? Depois, surge a questão da profunda descoordenação entre o líder do partido e o líder do grupo parlamentar. Luís Filipe Menezes anunciou um conjunto de questões sobre o Orçamento, questões prontamente ignoradas por Santana Lopes. Por desígnio ou inabilidade, a posição política de Luís Filipe Menezes não teve qualquer sequência no debate parlamentar. Como tal, o Orçamento revelou um PSD que fala a duas vozes que não se ouvem, num jogo de soma nula que produz ruído sem efeitos políticos. A persistir a situação, o PSD arrisca a paralisia política.
Finalmente, uma referência para o estado da Direita em Portugal. No debate sobre o Orçamento, Sócrates dominou com a sua visão do “Estado Social”. Na oposição, a Direita não foi social, nem liberal, nem conservadora. A Direita foi apenas o pálido retrato de um vazio político."
Carlos Marques de Almeida
Depois do debate sobre o Orçamento, sobra a evidência – o passado de Santana Lopes lançou uma hipoteca sobre o futuro do PSD.
Mais ainda. Para o PSD, a operação Orçamento resultou num profundo fracasso. Enquanto Sócrates imita Sócrates e apresenta a factura sobre o futuro, o PSD entrega-se a Santana Lopes e reclama a factura sobre o passado.
Passado ou presente, mas certamente com equilíbrio e lucidez, anunciava-se um “novo ciclo político”, prometia-se mesmo o princípio do fim do Governo Sócrates. Mas Sócrates surpreendeu com um discurso frio, agressivo e marcado por uma ironia política mortal. E em cinco minutos, Santana Lopes cometeu dois erros fatais. Em primeiro lugar, o líder parlamentar do PSD esqueceu uma regra de ouro da vida política – um político não se deve justificar, muito menos queixar. Em segundo lugar, Santana Lopes abordou o debate com o espírito de primeiro-ministro. No entanto, com o discurso limitado pelo tempo e debilitado pela falta de autoridade, a pompa do antigo primeiro-ministro foi o desastre para o actual presidente do Grupo Parlamentar. Enquanto Sócrates fez política e discursou para o Parlamento, Santana Lopes tentou a “reabilitação” perante a Comissão para a Verdade e Reconciliação.
Mas para além das circunstâncias do debate, surgem duas interrogações para o futuro. Desde logo, Santana Lopes exibiu uma surpreendente inexperiência em relação às regras da discussão parlamentar. Para um partido como o PSD, será possível uma oposição eficaz com um líder parlamentar inexperiente? Depois, surge a questão da profunda descoordenação entre o líder do partido e o líder do grupo parlamentar. Luís Filipe Menezes anunciou um conjunto de questões sobre o Orçamento, questões prontamente ignoradas por Santana Lopes. Por desígnio ou inabilidade, a posição política de Luís Filipe Menezes não teve qualquer sequência no debate parlamentar. Como tal, o Orçamento revelou um PSD que fala a duas vozes que não se ouvem, num jogo de soma nula que produz ruído sem efeitos políticos. A persistir a situação, o PSD arrisca a paralisia política.
Finalmente, uma referência para o estado da Direita em Portugal. No debate sobre o Orçamento, Sócrates dominou com a sua visão do “Estado Social”. Na oposição, a Direita não foi social, nem liberal, nem conservadora. A Direita foi apenas o pálido retrato de um vazio político."
Carlos Marques de Almeida
Etiquetas: porque é que a política é cada vez mais interessante.
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