O mais irresponsável dos partidos.

"O CDS está a oferecer um espectáculo de irremediável irresponsabilidade aos portugueses. O braço-de-ferro que se arrasta entre a direcção do partido e o grupo parlamentar desacredita por completo uma das quatro grandes forças políticas fundadoras da nossa democracia. O inédito apelo - nada natalício - feito por alturas do Natal pelo presidente da bancada parlamentar, Nuno Melo, ao regresso de Paulo Portas, humilhando na praça pública o actual líder do partido, Ribeiro e Castro, desqualifica quem o produziu. E também desqualifica quem o mantém em funções. Para o bem e para o mal, Ribeiro e Castro foi sufragado em dois congressos pelas bases do partido. Nuno Melo - como outros - teve oportunidade de o contestar nesse palco, mas sem sucesso visível. Não admira: nas legislativas de Fevereiro de 2005, que deram a primeira maioria absoluta ao PS, não houve apenas um derrotado, chamado Pedro Santana Lopes. Houve outro, chamado Paulo Portas. É bom que a memória não se perca em nome dos efeitos mediáticos do momento.

A irresponsabilidade de uns e outros é tanto maior pelo facto de nos encontrarmos nas antevésperas do referendo ao aborto, que seria um excelente momento de afirmação da unidade do partido em torno de uma das suas bandeiras programáticas. O CDS, que se afirma contra a eutanásia, proporciona à sociedade portuguesa a lamentável encenação do seu próprio suicídio. Perante isto, só resta a Ribeiro e Castro pôr ordem no grupo parlamentar ou abandonar sem demora a liderança do partido. Francisco Sá Carneiro, que foi um dos mais carismáticos dirigentes da direita portuguesa, não teria dúvidas sobre o caminho a trilhar: retirar imediata confiança política ao líder parlamentar e partir para a luta, separando as águas. Ribeiro e Castro, habituado aos corredores alcatifados de Bruxelas, terá estofo para tal?"

Pedro Correia