sexta-feira, janeiro 12, 2007

Ainda o aborto

"A preparação do referendo sobre o aborto entrou na recta final. Sem novidades. Entrou-se, irreversivelmente, na fase da propaganda baratucha martelada insistentemente e da pedincha do voto. Para a contabilidade da confraria. Na melhor tradição da politiquice caseira.

Neste momento assiste-se a um confronto entre a Igreja Católica (por fidelidade aos seus princípios e ensinamentos) e alguns não católicos mais esclarecidos e mais eticamente estruturados que se recusam a ser manipulados, e, por outro lado, múltiplas igrejinhas avulsas, frequentadas por gentes pouco recomendáveis. Quer do ponto de vista humano. Quer do ponto de vista cultural. Por isso tentam todas as manobras destinadas a confundir as pessoas e a desviá-las das verdadeiras questões. E que do ponto de vista da cultura humanística estão abaixo de cão. Que discutem questões tão despropositadas como a do momento do início da vida, incapazes de entender que a vida, quer do ponto de vista biológico, quer filosófico, é um contínuo, que não obedece a categorias cronológicas impostas pela limitada dimensão do Homem. Que o Homem não cria vida. Só a transmite. Destruí-la é que é a sua grande especialidade. Os mais boçais (porque os há que não são boçais) defensores deste ‘sim’ limitam-se às habituais politiquices. Inventam joguinhos. Só que, aqui, o jogo é tenebroso. Porque não é jogado com bola, mas com vidas inocentes e indefesas, que levam pontapés de todos os lados e não têm a quem se queixar.

A lei prevê já, com rigor, as situações em que o aborto se justifica. Legalmente. Sob a capa da despenalização, quer-se tornar o aborto incondicional. A mulher grávida não precisará, agora, de razões médicas para abortar. Poderá fazê-lo se lhe apetecer; nos hospitais públicos. E que o muito piedoso senhor Campos está disposto a pagar (com o nosso dinheiro) a todas as meninas e madames vítimas da tradicional febre das sextas-feiras à noite. Ou qualquer outra...

Os chamados ‘progressistas’ andam todos de pernas para o ar. Fosse o referendo feito por voto que identificasse o votante e em que os apoiantes do ‘sim’ ficassem vinculados ao pagamento de um adicional nos seus impostos para pagamento dos abortos feitos, sem justificação, por conta do erário público, e veríamos a estrondosa gargalhada com que tudo isto acabaria. A grande mentira é que a despenalização não impõe uma liberalização absurda, verdadeiro convite ao aborto. Porque o que esse fantástico rancho de indigentes éticos que trava esta batalha pela quase liberalização do aborto ainda não nos disse é quando irá iniciar a batalha pela despenalização com prazo ainda mais dilatado ou, no limite, até ao fim da gravidez. Para não dizer mais! Neste processo há inocentes, criminosos e cúmplices. Não lavamos as mãos, como Pilatos. Despenalização, sim!!! Por todas as razões e mais uma, ainda. Não gostamos, mas também não podemos evitar, e por isso não queremos que os nossos tribunais andem também a perder tempo e a gastar dinheiro com quem aborta para se desfazer de um filho incómodo. Mas nada mais do que isso
."

João Marques dos Santos

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