"O primeiro-ministro deveria esforçar-se por convencer a população de que a cenoura existe mesmo e que chegará para todos.
José Sócrates tentou mas não conseguiu. A expressão distendida e a voz suave do seu discurso de Natal soaram a falso. Ainda que se tenha esforçado para ensaiar um primeiro-ministro sensível, o esforço, visível, por exemplo, no tique nervoso da aliança, foi inglório e dispensável. Aqueles minutos não apagaram o estilo conflituoso e briguento que comprou e promete continuar a comprar tantas guerras.
Desde que foi eleito, Sócrates deu provas de competência, firmeza, determinação, sendo-lhe reconhecida coragem e capacidade para decidir sobre reformas urgentes, ainda que impopulares. Mas José Sócrates também já mostrou que é capaz de ser pouco tolerante, arrogante e irascível, características que têm alimentado na sociedade uma crescente conflitualidade e contestação. Um estilo perigoso e incompreensível para um primeiro-ministro que governa com maioria absoluta. Os maus momentos, quando pontuais, até se consentem, mas quando se tornam frequentes, arriscam consequências demasiado pesadas. Não existiram muitos governos que se possam gabar de tamanha compreensão, ou mesmo resignação, da sociedade perante medidas difíceis e custosas. Mas com os seus acessos, José Sócrates não só se arrisca a perder este importante apoio, como também se arrisca a receber em troca a resistência passiva de quem é visado pelas suas políticas. Se chegar a esse ponto, já poderá ser tarde demais. Os resultados de qualquer reforma, por melhor que seja, dependem muito do empenho e da receptividade de quem por ela é atingido. Não é preciso muita inteligência emocional para antecipar os efeitos numa empresa de um líder incapaz de sentir o estado de alma dos seus trabalhadores e que, por falta dessa qualidade, insiste num estilo de liderança errado. O trabalho de um bom líder não termina depois de ter tomado uma boa decisão, tão simplesmente porque tal não basta para garantir bons resultados.
Sócrates deverá aproveitar ainda o início de um novo ano para rever a sua política de gestão de expectativas. Ainda anteontem, o ministro da Saúde enchia a boca para dizer que estava certo que 2007 iria continuar a ser um ano de controvérsia. A paciência e o espírito de sacrifício têm limites. Ainda que não seja capaz de mostrar a cenoura no final do caminho, invisível de tão longe que está, o primeiro-ministro deveria esforçar-se por convencer a população de que a dita existe mesmo e que chegará para todos. O primeiro-ministro não se pode dar ao luxo de perder os professores, os médicos, os enfermeiros, ou os juízes porque, ao contrário do que pensa a sua ministra da Educação, poderá acabar por perder também a população. "
Sílvia de Oliveira
9 Comments:
Pois tambêm concordo consigo minha querida , pior que tudo é que nem vai haver cenoura , excepto talvez para alguns iluminados e priviligiados que nunca pagarão a crise de tão cinzentos que são . que sócrates soa a falso para mim não é de hoje , já no Ambiente deu provas de ser pouco reciclável e agora prova-o a toda a força , da sua competência e resultados dela , espero já cá nem estar para vê-los mas como Espanha nem é assim tão longe aida hei-de ouvir algumas atoardas sobre o assunto - a propósito poderia escrever prá i um artiguito onde explique a este apagado despreviligiado qual foi a população que a ministrinha da educação ganhou !? !!!
Acredito que o nosso PM, depois da passagem d'ano, de mais umas horas de sono, dum novo governo com mais ministras, dumas surpresas antes da presidência europeia e do apoio de toda a FP vai fazer "maravilhas". Aguardemos...
Ora nem mais...!
O artigo sociológicamente e bom,mesmo até dentro da área das Relações Públicas. O que~falta no seu artigo é a reflexão sobre até que ponto tal conflitualidade não tem servido a Sócrates para ser admirado e tolerado, já que a mentalidade portuguesa está habituada aos políticos «pãezinhos sem sal»?
Tem razão no que diz. Mas aonde está a "cenoura", minha Senhora? Por muito que tentem, o INE, o Governo, os jornais próximos do Governo e o BdP, o "crescimento económico mínimo" não existe. Não há por isso "Cenoura". Aguentemo-nos, pois a descida ainda será para durar.
Mas afinal sempre ha cenoura? Essa é que é a grande questão. Com a antipatia de Sócrates podemos nós bem. Sendo mais concreto e só para ficar com a consciencia tranquila: é possivel relançar o crescimento económico só com os cortes na despesa (embora necessarios) que o Governo está a introduzir? Keynes pregava precisamente o contrário. Mas se calhar Keynes era fascista e caiu em desuso.
Finalmente leio que alguém reparou no tique da aliança. Já somos dois. Tem razão. Ser pouco tolerante, arrogante e irascível, é passar todas as linhas (amarelas e vermelhas). Mas, o PM tem resposta para tudo. Para justificar a nomeação de ex-ajudantes do governo para grandes empresas e institutos, disse: é preciso ir a votos e ganhar. A carta ao Tribunal Constitucional é outra originalidade. Conclusão - depois de ganhar a eleição pode fazer tudo, mas mesmo tudo... O António de Santa Comba não teria feito melhor... E mais grave que tudo isso. O país está "adormecido"...
A cenoura está bem à vista: é um enorme pickle que todos temos que trincar. O problema desta abordagem "arde mas cura" tão querida aos portugueses e tão incompreendida pelo agrada-a-todos Guterres é que lá arder arde, mas o tempo passa e a cura tarda em aparecer: a taxa de abandono escolar não baixa, as notas não sobem, o desemprego não baixa, o PIB não sobe ao ritmo europeu, as listas de espera não diminuem, o prazo médio de pagamento não baixa. Se olharmos para estes indicadores que reconhecidamente medem o nosso desenvolvimento pouco ou nada mudou. E porquê? Simplesmente porque pouco ou nada foi feito para eles mudarem. Fechar escolas e maternidades: pode evidenciar racionalidade e coragem, mas não melhoram a nossa qualidade de vida. Resumindo: as boas medidas são difíceis, mas as medidas que estão a ser tomadas, sendo difíceis (e muitas delas boas) não são as melhores, as que nos desenvolvem. Já são demasiados tiros falhados, demasiado desgaste para tão pouca melhoria!
sim ha cenoura mas virtual nao para comer o mexer
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