Sociedade sec. XXI
Durante os anos 70, 80 e 90 alienaram-se quase todos os valores recebidos da geração anterior, sem que fossem criadas alternativas credíveis. Actualmente está-se a legar uma sociedade sem objectivos e sem futuro à vista, um enorme antro de problemas. A sociedade tornou-se num labirinto tão subtilmente "armadilhado" que poucos jovens o conseguem percorrer ilesos. Criou-se a falsa ilusão de que a vida é fácil, aonde a imoralidade garante mais dinheiro e fama que a honra e o tradicional trabalho honesto. Mas ao contrário do que se pensa, a moral não desapareceu porque ela imana das consciências e, sempre que haja uma relação entre duas ou mais pessoas, será sempre valorada.
Numa sociedades plena de assimetrias como a nossa, é evidente que os seus membros não pautuam o seu comportamento pelos mesmos códigos morais. No entanto, existe um clima moral que acaba por se impor, reflexo do sistema em que se enquadram as relações sociais. A educação recebida dá-nos, não apenas o conhecimento científico e histórico como também os costumes, que são práticas, sentimentos e juízos relativos às condutas sociais. Mas enquanto a Ciência lida com factos e estes podem ser observados e verificados empiricamente, o que os torna objectivos, as nossas relações sociais estão eivadas de juízos de valor. Com o pensamento científico descrevemos o mundo, enquanto que com os juízos de valor limitamo-os a expressar somente os nossos desejos, o mundo como gostaríamos que fosse e não como na realidade ele é.
Nos dias de hoje, a exclusão social, os ghettos, a droga e a violência já não são encarados como pertencentes ao foro moral, mas como problemas que exigem uma solução técnica: reforço policial, alarmes contra roubos, hospícios de desintoxicação de droga, guarda-costas, aparelhos dissuasores de assaltantes, etc. E continua a falar-se de valores como se eles fossem qualquer coisa de independente e não imanações da própria vida, como se os valores possuíssem a fixidez das verdades eternas e não fossem o reflexo das relações sociais.
Numa sociedades plena de assimetrias como a nossa, é evidente que os seus membros não pautuam o seu comportamento pelos mesmos códigos morais. No entanto, existe um clima moral que acaba por se impor, reflexo do sistema em que se enquadram as relações sociais. A educação recebida dá-nos, não apenas o conhecimento científico e histórico como também os costumes, que são práticas, sentimentos e juízos relativos às condutas sociais. Mas enquanto a Ciência lida com factos e estes podem ser observados e verificados empiricamente, o que os torna objectivos, as nossas relações sociais estão eivadas de juízos de valor. Com o pensamento científico descrevemos o mundo, enquanto que com os juízos de valor limitamo-os a expressar somente os nossos desejos, o mundo como gostaríamos que fosse e não como na realidade ele é.
Nos dias de hoje, a exclusão social, os ghettos, a droga e a violência já não são encarados como pertencentes ao foro moral, mas como problemas que exigem uma solução técnica: reforço policial, alarmes contra roubos, hospícios de desintoxicação de droga, guarda-costas, aparelhos dissuasores de assaltantes, etc. E continua a falar-se de valores como se eles fossem qualquer coisa de independente e não imanações da própria vida, como se os valores possuíssem a fixidez das verdades eternas e não fossem o reflexo das relações sociais.
Por outro lado, a desideologização levada a cabo pelos dirigentes apaga os valores que conduzem às paixões políticas. A situação agrava-se ainda mais com os fracos atributos da classe política e o progressivo afastamento de muitos segmentos elitistas da vida política. Com a profissionalização da classe política, os que «vivem para a política» são lentamente substituídos pelos que «vivem da política». Os partidos passaram a ser elementos fundamentais da selecção e embora tentem atrair independentes quando se preparam para estar no Governo, reduzem-se ao núcleo duro profissionalizado quando recuam para a oposição.
No espectro politico português os dois partidos com maior hipótese de chegar ao poder são o PSD e o PS, logo são estes partidos que atraem a maior percentagem de arrivistas que nascem à sombra das juventudes partidárias, com o único objectivo de dar o salto para um bom tacho, sem saberem o que é trabalhar. É também verdade que muitos «políticos de qualidade» não encaram a profissionalização como atractiva,retirando -se para actividades mais lucrativas (financeira e simbolicamente) no sector público e privado.
Resulta assim que, actualmente os cidadãos vivem uma vida anódina, adormecida para os valores, sem paixões, nem convicções políticas. Trata-se de um acomodamento hipócrita que tenta conciliar o ser e o ter, o egoísmo e o altruísmo, refugiando-se a consciência numa cómoda neutralidade. Esta neutralidade esconde no entanto o que há de mais perigoso nas ideologias, uma pretensa cientificidade. A ciência encara-se de um modo frio, aceita-se com demonstração mas sem discussão de carácter ético.
5 Comments:
OS jovens não têm interesse pela democracia representativa nem devem necessariamente ter. Podem e devem, pelo contrário, ter interesse em não compactuar com a vontade de poder da elite que desde sempre nos governa. E isso passa por rejeitar todas as formas de organização que lhes retire a capacidade de iniciativa e de acção, como é o caso da democracia representativa. Também não pode passar somente pela aderência aos movimentos sociais que em grande parte integram as estruturas de poder dominantes, de que os sindicatos são exemplos maiores. Essa intervenção é importante mas não dispensa uma crítica global e, essencialmente, um posicionamento sobre as formas de organização social. Os jovens estão arrebanhados nos carreiros e prados laboriosamente preparados para eles. O trabalho dos pastores e dos cães de guarda está facilitado. Hoje em dia a tecnologia é o rebuçado com que se cala a criança antes que se torne rabujenta. A par do futebol (e investe-se em rebuçados de luxo quando falta o cerelac na tigela). Claro que é necessário mais interesse na vida em sociedade, agora, continuar a dar legitimidade à elite para nos vigiar, controlar e punir, nem pensar. O modelo está esgotado de ideias e soluções e vai deslizando subrepticiamente para a cíclica totalitarização. Acabe-se com o poder das elites e seus tenentes e permita-se à juventude, na qual me incluo, que se auto-governe, que trace o seu destino o mais desformatadamente possível. Hermínio
Julgo que o diagnóstico é certeiro quanto ao desinteresse pela política pelas populações mais jovens. Sem ter dados concretos talvez não fosse tão pessismista quanto a outros palcos de intervenção cívica. O que o desinteresse da política revela é a incompleta impotência das ideologias políticas pensarem actualmente alterações estruturais das sociedades contemporâneas de que o marxismo constitui a evidência mais exemplar. Hoje ninguém pensa em criar o "homem novo" ou a "sociedade sem classes". Mas a intervenção cívica não se esgota aí. O apoio a determinadas causas (ecologia, etc.) revela um maior interesse por parte da juventude actual do que há 40 anos atrás, altura em que as circunstâncias sociais impunham uma agenda política mais estreita. Temos que criar uma sociedade civil mais dinâmica, mais interventiva e menos dependente do Estado. A defesa de determinadas causas de natureza mais específica levará a um maior envolvimento político. Posted by: PJ at novembro 25, 2004 10:21 AM
Tenho duas filhas com 30 e 28 anos, ambas são bastante cultas. A mais velha interessa(va)-se pela intervenção política; a mais nova, nem por isso, apenas o q.b.. Eu que pensava que a primeira iria motivar a segunda, assisto com alguma compreensão ao movimento inverso. Tal é o desencanto... JRD
Uma entrada importante. É bom ver alguém da sua geração com a coragem para admitir erros e omissões (que podem não ser os seus, individualmente falando), e para resistir à tentação de lançar sobre os mais jovens a "culpa" pela profunda decadência a que o país chegou. Assisto com tristeza a discursos como os de VJS e de muitos outros cinquentões ou sessentões (desculpe o coloquialismo, mas não resisto...) amargurados ou frustrados, e noto neles uma incapacidade aflitiva de auto-crítica. Poderá haver, de facto, muitos jovens apáticos, acríticos e medíocres - a "juventude" não é, nem nunca foi, por si só garante de nada - mas há também muitos outros que apenas esperam uma oportunidade e, sobretudo, um espaço para agir e intervir, o que não está nada fácil nos tempos que correm... Em muitas áreas da vida cívica - como é o caso da Educação - são precisamente os mais velhos (e não apenas em idade), conservadores e imobilistas que estão a barrar o caminho a gente nova e arejada. Talvez isto não passe de uma estratégia desesperada de sobrevivência, em muitos casos... DK
Enfim, isto esta mesmo uma merda!!!!!!!!!!!!
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